Fintechs concederam R$ 35,5 bi em crédito em 2024, volume 68% maior do que no ano anterior
Pesquisa Fintechs de Crédito Digital, realizada pela PwC Brasil e pela Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), destaca maturidade do ecossistema de fintechs.
Willer Marcondes, sócio para serviços financeiros na Strategy&, consultoria estratégica da PwC Brasil.(Foto: Divulgação)
O ecossistema de fintechs no Brasil demonstrou maior capacidade de adaptação em um ambiente econômico marcado por juros altos, liquidez restrita e instabilidade de mercados internacionais. A Pesquisa Fintechs de Crédito Digital 2025, realizada pela PwC Brasil e pela Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), mostra que o volume de crédito concedido pelo grupo de respondentes no Brasil em 2024 alcançou R$ 35,5 bilhões, representando um aumento de 68% em relação ao ano anterior (R$ 21,1 bilhões).
O estudo avalia as operações de fintechs em 2024 e aponta tendências importantes que indicam crescimento sólido na concessão de crédito, ampliação da base de clientes e aposta em novos produtos. “A expansão consistente das fintechs é um mérito das empresas que souberam navegar em águas turbulentas com estratégia, inovação e eficiência, construindo resultados sólidos apesar de um ambiente econômico desafiador”, afirma Willer Marcondes, sócio para serviços financeiros na Strategy&, consultoria estratégica da PwC Brasil.
A pesquisa mostra que a ampliação na base de clientes das empresas participantes superou 67,5 milhões entre as pessoas físicas, uma alta de 26% em relação ao ano anterior, considerando clientes no Brasil e no exterior. O destaque, porém, foi no crédito para empresas, que cresceu 67%, incluindo as micro e pequenas empresas (71,7%), mas também avançou entre as companhias de maior porte (cerca de 800 clientes com faturamento acima de R$ 300 milhões).
Essa expansão não é apenas quantitativa. Ela reflete a capacidade das fintechs de diversificar suas operações, atingir novos nichos e consolidar mercados previamente pouco explorados. Além disso, o próprio amadurecimento das fintechs é evidenciado pelo porte das empresas nesta edição da pesquisa: um quarto delas tem mais de 300 profissionais e 13% ultrapassaram a marca de mil pessoas nas suas equipes.
Outro destaque é a intensificação do uso de capital próprio como principal fonte de financiamento para sustentar o crescimento robusto dessas fintechs. Quase metade (46%) utiliza capital próprio para financiar suas operações, superando outras opções tradicionais, como linhas de crédito bancário ou captação via mercado de capitais. Além disso, destaca-se o papel dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) como canal de captação para a expansão das fintechs de crédito.
Inovação
A Pesquisa Fintechs de Crédito Digital também mostra que cerca de metade das fintechs aposta no desenvolvimento de novas soluções e na revisão dos modelos de concessão de crédito. Nesta edição, 52% das empresas investiram em inovação de produtos, um salto em relação aos 35% da pesquisa anterior. A especialização em nichos estratégicos, como o crédito para pequenas e médias empresas e o crédito com garantias, por exemplo, posicionou as fintechs em mercados que antes eram dominados apenas por grandes bancos.
“A diversificação de produtos dentro do portfólio é uma estratégia para aumentar o LTV (life time value) do cliente. O produto de crédito tem uma recorrência de receita no pagamento da parcela mas, com contratos de meses ou anos, a recorrência de novas operações é baixa. Quando se amplia a oferta com soluções complementares e relevantes, aumenta-se significativamente a chance de manter o cliente engajado por mais tempo e com maior valor agregado”, afirma Ann Williams, diretora-presidente da ABCD e COO da Creditas.
De acordo com Ann, a expansão dos empréstimos com garantias, aliada ao foco em tecnologia, trouxe benefícios claros para a inadimplência, principalmente no crédito a empresas, que apresentou queda significativa, recuando de 5,3% para 3,4%, enquanto para pessoas físicas a taxa média se manteve controlada diante do perfil de risco mais elevado. “Este movimento permite taxas de juros mais competitivas e, ao mesmo tempo, reduz a inadimplência, contribuindo para um mercado de crédito mais eficiente e acessível”, explica.
Isso porque entre as estratégias mais consistentes adotadas pelas fintechs para sustentar o crescimento, além da ampliação da oferta de produtos, está a incorporação de garantias nas operações de crédito. A pesquisa demonstra que 77% das fintechs aceitam garantias em suas operações, em comparação com 70% no ano anterior e apenas 34% em 2021. Entre os tipos de garantias aceitas, consignados e recebíveis lideram, ambos com 46% de participação, seguidos por aplicações financeiras (29%) e bens e imóveis.
Inteligência Artificial
A tecnologia sempre esteve no centro da proposta de valor das fintechs, mas o último ano marcou um salto importante na forma como o setor incorpora novas ferramentas, especialmente no campo da Inteligência Artificial (IA). Os números da pesquisa comprovam essa mudança: 67% das fintechs estão em fase de desenvolvimento ou estudo de soluções baseadas em IA – mais que o dobro em relação ao ano anterior (31%).
Além disso, mais da metade das empresas (55%) pretende adotar alguma solução de IA nos próximos dois anos, 44% delas citam a IA generativa e 17% apostam em IA responsiva. No curto prazo, o principal foco está em automatizar processos de back office para aumentar a eficiência interna, reduzir custos e melhorar a qualidade dos serviços prestados.
No relacionamento com o cliente, a IA também está presente em chatbots mais sofisticados e assistentes virtuais. Contudo, o uso da IA generativa no front office é visto com cautela. As empresas ainda preferem aguardar por uma regulamentação específica no Brasil, priorizando a segurança de dados e a conformidade com normas existentes, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Tendências
O engajamento com o Pix e o Open Finance promete crescer. Nos próximos anos, respectivamente 29% e 44% das fintechs que ainda não participam têm planos de adotar essas iniciativas. Ao mesmo tempo, tecnologias emergentes ganham terreno: enquanto apenas 2% das fintechs atuam hoje com DREX (Real Digital), 33% manifestam interesse em adotar a solução.
Muitas fintechs apostam no modelo Credit as a Service (CaaS) para viabilizar a oferta de novos produtos e serviços financeiros de maneira mais eficiente. Esse movimento foi fortalecido por mudanças regulatórias específicas e vem permitindo que empresas de outros setores lancem serviços financeiros personalizados.
Participam desta edição da Pesquisa Fintechs de Crédito Digital 44 fintechs brasileiras. Embora tenha havido uma variação na composição da amostra entre os últimos dois anos analisados, a metodologia da pesquisa foi ajustada para garantir a comparabilidade dos dados apresentados ao longo do tempo.