CEOs destacam ganhos com IA e investimento climático, mas não veem sobrevivência sem ampliação da reinvenção de seus negócios, mostra PwC
45% dos CEOs no Brasil acreditam que seus negócios não serão viáveis nos próximos dez anos se não se reinventarem.
45% dos CEOs no Brasil acreditam que seus negócios não serão viáveis nos próximos dez anos se não se reinventarem. (Foto: Freepik)
A 28ª edição da Global CEO Survey, pesquisa que ouviu mais de 4.700 líderes empresariais de mais de 100 países, mostra que os executivos já começam a colher resultados com a utilização da IA Generativa e investimentos de baixo impacto climático. Ao mesmo tempo, o ritmo da reinvenção dos negócios ainda é lento e se torna ainda mais urgente.
Um terço dos CEOs no Brasil e no mundo afirma que a IA generativa contribuiu em 2024 para o aumento de receita e lucratividade. E cerca de dois terços dos executivos dizem que investimentos climáticos reduziram custos ou não tiveram impacto relevante nas despesas.
Os avanços nessas frentes, no entanto, convivem com a urgência da reinvenção. Apesar de 45% dos líderes brasileiros acreditarem que as suas empresas não serão viáveis pelos próximos 10 anos se mantiverem o rumo atual, apenas 8% das receitas das empresas no país nos últimos cinco anos vieram de novos negócios (7% na média global).
Apesar desses desafios e do cenário global de tensões geopolíticas e comerciais, 68% dos CEOs no Brasil esperam que o crescimento da economia global se acelere nos próximos 12 meses. O resultado significa um forte aumento em relação aos 36% da pesquisa de 2024 e aos 17% de 2023. Na média global, a tendência é a mesma, mas menos acentuada: 58% acreditam no crescimento da economia global, enquanto em 2024 este percentual foi de 38%.
"As perspectivas dos líderes empresariais sobre a economia podem surpreender diante do contexto de tensões geopolíticas e comerciais. Mas eles continuam apreensivos com a sobrevivência de suas empresas diante da urgência da reinvenção, que ainda precisa avançar”, afirma Marco Castro, sócio-presidente da PwC Brasil. “Entre os obstáculos estão processos de decisão ineficazes, baixos volumes de realocação de recursos e um desalinhamento entre a duração do mandato dos CEOs e as necessidades de transformação de longo prazo”, afirma.
A pesquisa também mostra o otimismo dos líderes de empresas do Brasil para as perspectivas locais: 73% acreditam na aceleração do crescimento da economia brasileira. Em relação às perspectivas da economia doméstica, há diferenças significativas entre os países. No bloco do G20, além do Brasil, os CEOs da Argentina e Índia são os mais otimistas.
Nas projeções relativas ao desempenho das suas empresas, os CEOs do Brasil demonstram mais reservas: 50% acreditam no crescimento das companhias nos próximos 12 meses (52% em 2024) e 54% fazem essa projeção para os próximos três anos (62% em 2024). Globalmente, na comparação com a edição anterior, houve aumento de 37% para 38% quanto aos próximos 12 meses e de 49% para 53% em relação aos próximos três anos.
Reinvenção dos negócios
Na pesquisa deste ano, a urgência na reinvenção dos negócios, tanto no Brasil como no mundo, continua no topo da agenda dos CEOs. No Brasil, a preocupação aumentou: 45% dos líderes acreditam que seus negócios não serão viáveis nos próximos dez anos se mantiverem o rumo atual - um aumento em relação aos 41% do ano passado. No mundo, este percentual é de 42%, ante 45% na pesquisa anterior.
“A necessidade de reinvenção já havia aparecido antes, mas agora se torna mais urgente. Por exemplo, 52% das empresas que estavam listadas na Fortune 500 em 2003 deixaram de existir porque faliram, foram adquiridas ou passaram por fusões. Mesmo se o negócio está próspero agora, é essencial avaliar os riscos e se posicionar para a reinvenção necessária para o futuro”, afirma Marco.
Perguntados sobre as principais ações de reinvenção promovidas nos últimos cinco anos (considerando apenas respostas “muito” e “extremamente”), 51% dos CEOs do Brasil disseram que buscaram uma nova base de clientes para as empresas que lideram (em contraste, essa é a resposta de 32% dos respondentes globais).
Entre os brasileiros, 47% responderam que suas empresas desenvolveram produtos ou serviços inovadores (38% na média global), 34% investiram em novas estratégias de mercado (25% na média global), 33% fizeram parcerias com outras organizações (26% na média global) e 31% implementaram novos modelos de precificação (24% na média global).
“Grandes disrupções exigem processos de tomada de decisão bem fundamentados. Tanto no Brasil quanto globalmente, as decisões estratégicas estão se baseando em resultados e não na qualidade e abrangência do processo. Ainda que faça sentido, resultados também são influenciados por fatores fora do controle dos tomadores de decisão, e o único elemento que se pode controlar completamente é a qualidade do processo decisório”, observa Marco.
A pesquisa também mostra que CEOs com mandatos mais longos tendem mais a promover ações de reinvenção do modelo de negócios, o que, segundo a pesquisa, está associado a margens de lucro mais altas. No entanto, menos de um terço dos CEOs esperam que seu mandato dure mais de 5 anos. “Este é um paradoxo, uma questão que a governança das empresas precisa enfrentar e que pode impactar o rumo dos negócios", enfatiza Marco.
IA generativa já dá resultados
Dois anos após a Inteligência Artificial generativa surgir como prioridade na agenda dos executivos, um terço dos CEOs do Brasil e no mundo aponta que a tecnologia contribuiu para o aumento de receita e lucratividade das suas empresas. No Brasil, o nível de confiança na integração da IA aos processos essenciais da empresa é significativamente maior do que no mundo: 51%, ante 33% globalmente.
“Não há alternativa: é preciso acelerar a reinvenção. Caso contrário, resta apenas acreditar que ajustes marginais sustentarão a sobrevida dos atuais modelos. Se de fato temos compromisso com a sobrevivência dos negócios e com a sociedade onde operamos, é preciso encarar de frente as oportunidades da IA generativa e promover ações que de fato permitam a transição para uma economia de baixo carbono. As dinâmicas de valor de mercado serão completamente diferentes”, diz Marco.
Mais da metade dos CEOs no Brasil (52%) e no mundo (56%) indica que a IA generativa resultou em ganhos de eficiência no uso do tempo dos funcionários, enquanto cerca de um terço identifica aumento de receita (34% no Brasil e 32% no mundo) e lucratividade (31% no Brasil e 34% no mundo).
Embora esses resultados estejam abaixo do que havia sido projetado pelos CEOs na edição anterior da pesquisa, o otimismo persiste: 61% dos CEOs no Brasil e 49% no mundo esperam que a IA generativa impulsione a lucratividade de suas empresas nos próximos 12 meses.
“A diferença entre expectativa e realidade não deve ser encarada com pessimismo. É nítido que a IA é uma tecnologia que as companhias continuam aprendendo a usar e há indícios claros de ganhos relacionados à sua aplicação”, comenta Marco. “O desafio para os CEOs é manter suas empresas concentradas no objetivo, em meio à euforia que costuma acompanhar toda grande inovação tecnológica”, diz.
O estudo indica uma estabilidade em relação às oportunidades de emprego. CEOs no Brasil e no mundo (13%) dizem ter reduzido o quadro de profissionais devido à IA generativa, enquanto uma parcela um pouco maior (21% no Brasil e 17% no mundo) relata um aumento nas contratações devido aos investimentos na tecnologia.
Em relação ao futuro, os CEOs indicam as maiores prioridades nos próximos três anos para integrar a IA (incluindo a generativa). As duas principais são a integração a plataformas tecnológicas (69% no Brasil e 47% no mundo) e processos de negócios e fluxos de trabalho (56% no Brasil e 41% no mundo). A integração à força de trabalho e competências foi citada por 46% no Brasil e 31% no mundo. Menos CEOs planejam usar a tecnologia para desenvolver novos produtos e serviços (42% no Brasil e 30% no mundo) ou reformular a estratégia do core business (33% no Brasil e 24% no mundo).
Investimentos climáticos como estratégia de negócios
Ao perguntar aos CEOs sobre o impacto financeiro dos investimentos com baixo impacto climático nos últimos cinco anos, a pesquisa indica que a probabilidade de aumento da receita é seis vezes maior que a possibilidade de perdas com estes investimentos. Além disso, cerca de dois terços dos executivos no Brasil e no mundo destacam que investimentos desse tipo levaram à redução de custos ou tiveram impacto irrelevante nas despesas.
“Um terço dos CEOs do Brasil afirma que investimentos climáticos aumentaram as suas receitas, enquanto apenas um quarto diz que estes mesmos investimentos geraram aumento de custo, uma diferença que mostra o valor das ações em alinhamento com a agenda do clima”, avalia Marco Castro.
O sócio-presidente da PwC Brasil aponta que esses resultados sofrem influência de regulamentações e incentivos específicos de cada país. Na China continental, 60% dos CEOs afirmam que esses investimentos geraram novas receitas, em comparação com 30% no Brasil. Mas no país asiático, 46% dos líderes dizem que houve incentivos governamentais adicionais, ante apenas 13% dos executivos de empresas brasileiras. Cerca de metade dos CEOs na Alemanha e na França avalia que os investimentos climáticos aumentaram custos, enquanto apenas no 25% Brasil e 20% nos EUA relatam o mesmo.
Mais da metade dos CEOs no mundo (56%) e no Brasil (59%) afirmou que sua remuneração variável está vinculada a métricas de sustentabilidade. Quanto maior a porcentagem da remuneração do CEO atrelada a estes indicadores, maior a probabilidade de ganhos de receita com investimentos climáticos.
Preocupações dos CEOs
Os CEOs de empresas brasileiras apontam a falta de mão de obra qualificada como a principal ameaça de perdas financeiras nos próximos 12 meses. Esta é a preocupação de 30% dos líderes, seguida de instabilidade macroeconômica (27%), riscos cibernéticos (26%), inflação (24%) e disrupção tecnológica (21%).
“A questão dos talentos qualificados é uma queixa recorrente, por exemplo, das áreas de tecnologia das empresas, entre várias outras. Uma vez que se pensa em expandir o uso da IA generativa e colocá-la no centro das estratégias dos negócios, faz sentido que essa preocupação tenha chegado aos CEOs”, comenta o sócio-presidente da PwC Brasil. A pesquisa mostra que 51% dos respondentes do Brasil têm alto nível de confiança na integração da IA a processos-chave das companhias.
As maiores preocupações dos CEOs brasileiros divergem das preocupações globais em relação aos seguintes aspectos: conflitos geopolíticos (12% Brasil e 22% globalmente), falta de mão de obra qualificada (30% Brasil e 23% globalmente) e mudanças climáticas (21% Brasil e 14% globalmente).
“Diante dos desafios que nossa pesquisa destaca em relação a fatores internos e externos, é preciso manter o ímpeto da reinvenção a partir dos recursos e inovações que se apresentam como oportunas. Para os CEOs que mal começaram a abordar essas questões, não é tarde demais. Mas, sem dúvida, eles estão ficando para trás”, alerta Marco Castro.
Brasil como mercado estratégico
Após passar mais de uma década na lista dos 10 países mais importantes para as perspectivas de crescimento geral das organizações, o Brasil continua fora desse grupo em 2025, a exemplo de 2024, ainda que tenha subido de 14º para 13º no ranking. Estados Unidos (30% de menções), Reino Unido (14%) e Alemanha (12%) lideram a lista. A China caiu do 2º para o 4º lugar, com o índice de 21% de citações em 2024 baixando para apenas 9% neste ano.
Além de subir uma posição no levantamento, o Brasil teve aumento de um ponto percentual (de 3% de menções para 4%) na comparação com 2024. “É importante registrar que os países empatados em 5º lugar, Índia e França, foram citados por 7% dos CEOs que responderam à pesquisa, de modo que não há grande diferença entre eles e o Brasil, mesmo que no ranking nosso país esteja em 13º lugar”, pontua Marco Castro.
Do ponto de vista dos CEOs brasileiros, os EUA, mesmo com uma queda acentuada (de 44% de menções em 2024 para 36%), continuam sendo o principal mercado estratégico. A China, por outro lado, perdeu relevância de forma significativa, dando continuidade a uma tendência já observada no ano anterior – desde 2023, a queda acumulada no interesse dos CEOs do Brasil pelo mercado chinês é de 22 pontos percentuais (32% em 2023, 24% em 2024 e 10% em 2025).
Na América Latina, o México e a Argentina ganharam relevância e dividem o 2º lugar com 20% das menções dos CEOs brasileiros (ambos subiram cinco pontos percentuais em relação à edição passada), reforçando a priorização de mercados regionais próximos. No entanto, a estabilidade da Colômbia em 12% e a leve queda do Chile (de 11% em 2024 para 9% neste ano) indicam que o crescimento não é uniforme entre os países vizinhos.
No caminho contrário, o México se tornou o país com maior interesse pelo Brasil, com aumento de 10% para 16%. Espanha (em queda de 14% para 9%), EUA (em alta de 3% para 9%) e Irlanda (que saltou de 1% para 9%) aparecem empatados na segunda posição. A maior variação negativa foi do Peru, que passou de 14% para 6%.