Copom e a alta de juros: “a decisão mais dovish entre as hawkish”, define Livio Ribeiro

Ribeiro considera que a estrutura de projeções do BC expressa no comunicado se mostra “excessivamente benigna”.

Livio Ribeiro, pesquisador do FGV IBRELivio Ribeiro, pesquisador do FGV IBRE. (Foto: Divulgação)

A primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) com Gabriel Galípolo à frente do Banco Central confirmou a sinalização dada em dezembro ao definir uma alta de 1 ponto percentual (pp) da Selic, para 13,25% ao ano, e indicar mais uma alta de 1 pp em março. Apesar de se tratar do reconhecimento da piora do cenário corrente e esperado, mesmo com a variável cambial apresentando recuo – com uma queda de 8,2% do dólar frente ao real acumulada desde o pico de R$ 6,39 em 25 de dezembro –, não houve indicação para o comportamento dos juros após esse período contemplado pelo forward guidance de dezembro.

“Foi a estratégia mais dovish entre as hawkish”, define Livio Ribeiro, pesquisador do FGV IBRE. Para Ribeiro, o cenário ideal seria de uma indicação mais explícita de continuidade do aperto monetário em maio, ainda que sem explicitar o ritmo desse aumento.

Ribeiro considera que a estrutura de projeções do BC expressa no comunicado se mostra “excessivamente benigna”, ao prever uma rápida convergência da inflação adiante, “saindo de 5,2% ao ano no final de 2025 para 4% no terceiro trimestre de 2026 “, que implicaria uma potência da política monetária “maior do que a que tem sido observada na prática”. Além disso, ao explicitar a manutenção de um balanço de riscos assimétrico, Ribeiro considera que o BC avaliou de forma sensata a possibilidade de evolução do cenário externo e doméstico mais inflacionário, mas acha que a descrição, pelo lado positivo de uma desaceleração da economia doméstica mais intensa e inflação derivada de choques externos menos dura um cenário “mais favorável do que o razoável”.

Para o pesquisador, esses fatores não colaboram para reduzir as dúvidas sobre o efetivo compromisso com o cumprimento da meta de inflação.

“Para mostrar um compromisso estrito, a autoridade monetária deveria ter sido mais dura já no curto prazo, o que claramente não ocorreu”, diz, defendendo a necessidade de ajustes na comunicação na Ata a ser divulgada na semana que vem. A projeção de Ribeiro para a Selic para o final de 2025 é de 15,5% ao ano, nível que seria alcançado no Copom de junho.

Sobre a manutenção da taxa de juros básica nos Estados Unidos, Ribeiro afirma que também seguiu o esperado pelos agentes econômicos, destacando que o prudente, para a política monetária americana, é não ter pressa em operar novos cortes. O pesquisados do IBRE ainda espera os cortes da Fed Fund em 2025 tal como previstos, dois de 25 pontos base, mas afirma que estes devem ocorrer apenas no segundo semestre do ano, ainda condicionados à evolução das políticas operadas pelo governo Trump, em especial a migratória e tarifária.