No pós-Copom, dólar cai pelo 9º pregão seguido e já recua 5,30% em janeiro

Após uma alta firme pela manhã sob o impacto da leitura do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) de ontem à noite, o dólar à vista perdeu bastante força ao longo da tarde e se firmou em baixa na reta final dos negócios, encerrando o pregão em queda de 0,23%, a R$ 5,8528, após mínima a R$ 5,8523. Foi a nona sessão consecutiva de desvalorização do dólar no mercado doméstico, com baixa acumulada de 5,30% em janeiro.

Parte da virada do dólar foi atribuída a ajustes técnicos, com realização de lucros intraday, em meio a uma melhora do apetite ao risco após a divulgação de déficit abaixo do esperado do Governo Central em 2024, com cumprimento da meta fiscal. O Ibovespa chegou a subir mais de 3% e as taxas de juros futuros, que já vinham em queda firme na esteira do Copom, passaram a recuar mais de 40 pontos, situando-se abaixo de 15%.

Mais cedo, declarações do presidente Luiz Inácio da Silva reiterando a busca pela responsabilidade fiscal e o respeito à autonomia do Banco Central, embora sem compromisso com novas medidas de contenção de gastos, já tinham tirado um pouco do ímpeto do dólar.

Os negócios no mercado cambial doméstico foram guiados hoje, sobretudo, pela repercussão do comunicado do Copom. Como esperado, o colegiado aumentou a taxa Selic em 1 ponto porcentual, para 13,25%, e reiterou a promessa, feita em dezembro, de novo corte em 1 ponto na reunião de março.

Como o Copom não se comprometeu com redução da mesma magnitude em maio, apesar da deterioração recente das expectativas de inflação, e citou a desaceleração da atividade econômica, parte do mercado passou a especular com a possibilidade de encerramento do ciclo de aperto em março ou, no mais tardar, em maio, com um ajuste residual.

O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, afirma que o tom do Copom pode ter contribuído para a alta do dólar na abertura da sessão, dado que alguns players classificaram o comunicado como dovish, ou seja, menos inclinado a mais aperto monetário.

"Houve uma zeragem de posição vendida em real muito grande nos primeiros cinco minutos do pregão. O volume foi gigante e o dólar se aproximou de R$ 5,95. Depois desse fluxo, o dólar foi perdendo força, mas ainda com real como performance pior que a dos pares", afirma Weigt.

No exterior, o índice DXY - termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes - operou em leve baixa ao longo do dia, mas tocou terreno positivo por volta das 18h, com o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, de imposição de tarifas de importação de 25% para México e Canadá partir de 1º de fevereiro. Moedas emergentes e de países exportadores de commodities, que se apreciaram ao longo do dia, também trocaram de sinal no início da noite.

Ontem, o Federal Reserve anunciou manutenção da taxa básica na faixa entre 4,25% e 4,50%. A sinalização foi de que a política monetária está "bem posicionada" e que não há pressa em alterá-la. O presidente do BC americano, Jerome Powell, disse, contudo, que os juros estão significativamente acima do nível neutro e que, portanto, há espaço para retomada do processo de redução das taxas.

Para Weigt, do Travelex, a atratividade das operações de carry trade, em razão da ampliação do diferencial entre juros interno e externo, pode levar o dólar a recuar ainda mais no mercado local, até com possibilidade de rompimento do piso técnico de R$ 5,80.

"É difícil prever, mas há espaço para o dólar cair abaixo de R$ 5,80. É muito caro ficar comprado em dólar com os juros altos. É preciso um fluxo de notícias negativas para fazer valer a pena a compra de dólares", diz Weigt, para quem o real pode voltar a sofrer com a eventual aprovação da isenção de Imposto de Renda para quem ganha menos de R$ 5 mil como prometido pelo governo Lula. "Essa é a próxima notícia negativa esperada pelo mercado, mas não deve vir agora".