Um mergulho no luxuoso Rosewood São Paulo
O primeiro hotel da rede na América do Sul é um tesouro com savoir-faire francês e raízes brasileiras dentro do Complexo Matarazzo.
Vista aérea do hotel Rosewood São Paulo, que faz parte do complexo Cidade Matarazzo.
“Depende daquele que passa que eu seja túmulo ou tesouro. Se eu falo ou me calo. Isso só depende de você. Amigo, não entre aqui sem desejo.” O texto de 1937, do poeta francês Paul Valéry, na entrada do Le Jardin, um dos restaurantes do novíssimo Rosewood São Paulo, já prepara o espírito para ingressar nessa joia rara que abriu as portas, em esquema soft opening, em dezembro passado. Na hotelaria de luxo, não basta o hotel ter um restaurante de alta gastronomia, uma estrutura de wellness (cada vez mais) ampla e completa, um concierge que te conecte com o melhor do lugar, serviços 24 horas, as matérias-primas mais nobres e uma proporção de staff de dois a cinco funcionários por hóspede… Ele precisa ter uma localização icônica dentro do contexto do destino onde está instalado. “Location, location, location”, como dizem no mercado. E a cidade de São Paulo incrivelmente nunca teve um hotel como o Rosewood São Paulo, primeiro da rede honconguesa na América do Sul.
Isso porque não houve limites para a visão– nem de orçamento –, além de um belíssimo trabalho de curadoria do empresário francês Alexandre Allard, idealizador do Cidade Matarazzo, empreendimento imobiliário bilionário do qual o hotel faz parte, e que só estará funcionando em sua totalidade em 2023. Além de ocupar o edifício histórico do que, por 50 anos exatos foi a maternidade Matarazzo, com direito agora a três restaurantes, um bar de jazz e uma piscina de borda infinita no rooftop, a outra parte dos quartos do hotel e os apartamentos residenciais ocupam a Torre Mata Atlântica, edifício de 24 andares projetado por um dos mais importantes arquitetos do mundo, o francês Jean Nouvel.
A influência francesa continua com o projeto de interiores assinado pelo escritório do célebre designer Philippe Starck, e o tra- balho dos Ateliers de France, responsáveis pelos acabamentos impecáveis do hotel, já que a empresa é especializada em restauração de edifícios históricos. Em seu portfólio, algumas das construções mais importantes da história da França como o palácio de Versa_ lhes, a Ópera Garnier, o Château de Vincennes, a Place Vendôme e o palácio do Élysée, residência oficial do presidente do país.
O savoir-faire francês, no entanto, foi pautado pelas mais nobres matérias-primas nacionais, além da arte e do artesanato brasileiros. Nos 160 quartos e suítes do hotel, espaçosos e com pé-direito alto, grandes painéis de madeira jatobá, nogueira, itaúba e sucupira envernizadas revestem as paredes. Pedras como ônix, quartzito palomino e amazonita, vindas das mais diversas regiões do País, cobrem totalmente os banheiros – chão, paredes, pia e banheira, esculpidas muitas vezes sem emendas. Entre as madeiras e as pedras, muito metal fosco fabricado sob medida, cerâmicas feitas à mão e um projeto de iluminação surpreendente.
O savoir-faire francês foi pautado pelas mais nobres matérias- primas nacionais, além da arte e do artesanato do Brasil
Milhares de livros sobre arte, história, cultura e gastronomia brasileiras espalhados por todo o hotel, desde as enormes estantes da marquise da entrada principal às mesas dentro dos quartos e restaurantes, como o Blaise: o restaurante de gastronomia francesa contemporânea que foca em ingredientes locais é dedicado ao poeta e escritor suíço- francês Blaise Cendrars, que perdeu o braço na Primeira Guerra, viajou ao Brasil nos anos 1920, a convite de Oswald e Mario de Andrade e Tarsila do Amaral, e escreveria uma série de poemas sobre sua viagem para os trópicos. Como Blaise só tinha o braço esquerdo, copos e talheres ficam à esquerda na mesa, o que causa estranhamento inicial e surpresa quando se passa a conhecer a história.
As obras de arte são outro grande destaque do Rosewood São Paulo. Sua coleção permanente tem mais de 450 obras de 57 artistas contemporâneos brasileiros, muitas site-specific, como nos elevadores forrados pelo trabalho delicado ao mesmo tempo fantástico do artista Walmor Corrêa, e as paredes dos corredores dos quartos, pintados por artistas diferentes em cada andar. A arte, junto com a arquitetura neoclássica de volumetria palladiana, tombada pelos órgãos de preservação do patrimônio histórico desde os anos 1980, e a restauração da Capela de Santa Luzia, construída em 1922, que ganhou vitral de Vik Muniz e será ressacralizada em breve, tornaram necessária a presença do um profissional intitulado art concierge. E essa é uma das experiências essenciais para os hóspedes do novo Rosewood: o passeio guiado pelo hotel, com o especialista em arte, e na coleção e na arquitetura do Cidade Matarazzo.
Os hóspedes podem esperar não só tudo o que alguém espera de um hotel com diárias a partir de R$ 3 mil — conforto, ambiente, gastronomia, história – mas também a experiência de viver realmente, nem que seja por alguns dias, no coração de São Paulo, em plena Bela Vista, a uma quadra da avenida Paulista, a duas do Masp e entre lojas, restaurantes e edifícios modernistas do centro da cidade. É, meu amigo, não vai faltar desejo para você se hospedar no Rosewood São Paulo.
O hotel ocupa o edifício histórico que por 50 anos foi a maternidade Matarazzo e uma torre de 24 andares