Tabaco na veia
O Esch Café vai ganhar novo endereço em São Paulo e seu fundador, Edgar Esch, conta histórias saborosas da tabacaria que une boa comida, vinhos, além dos exclusivos habanos cubanos.
Para começar, ele acende um charuto e conta a sua história. Edgar Esch diz que tem tabaco nas veias. Seu pai sempre trabalhou com charutos. Era distribuidor da suerdieck, fábrica centenária no Recôncavo Baiano, que acabou quebrando em 2000. O pai tinha uma fábrica em Correas, perto de Petrópolis.
“Aquela vida de fumaça eu vivi intensamente”, diz ele, arrastando o sotaque carioca.
Nascido no Cosme Velho, no Rio de Janeiro, mora hoje em Ipanema, onde nada no mar matutinamente e passeia com seu cachorro no calçadão.
“Desde os 6 anos, eu ia brincar sobre os sacos de fumo”, conta ele, aos 68. A primeira baforada foi aos 18, 20 anos. Tempos depois, ele abdicou da engenharia para trabalhar com o pai. Em 1994, abriu o Esch Cigars, lojinha na rua do Ouvidor, no centro do Rio. Especializou-se em habanos cubanos para o público final.
O sucesso evoluiu em 1998 para o Esch Café, conceito que inclui comida, bebida e charutos. No Rio, o Esch fica na badalada rua Dias Ferreira, no Leblon. Em 2007, a casa abriu filial em São Paulo.
Edgar Esch diz que tem tabaco nas veias.
Dezesseis anos depois, o Esch Café vai mudar, em setembro, da sua tradicional casa paulistana com ampla varanda na alameda Lorena, nos Jardins, para um espaço com rooftop, projetado pelo arquiteto Miguel Pinto Guimarães, na rua Oscar Freire, ao lado do hotel Emiliano. O negócio comercializa com exclusividade os magistrais habanos cubanos.
O contrato é com a franquia La Casa del Habanos, com portfólio de marcas como Montecristo, Cohiba, Bolivar, entre outros, certificados com garantia de origem. O preço da unidade pode chegar a R$ 1.800, embora haja produtos de valores na faixa de R$ 200.
“O que define o valor é a safra, ou um produto vintage, uma série especial mais sofisticada”, diz.
A fama do Esch vai além de Rio e Sampa. Em algumas ocasiões, a famosa feijoada da casa foi compartimentada à vácuo, congelada e voou para Havana. A demanda veio do atual presidente, Miguel DiazCanel.
“Um dos pedidos foi para o aniversário dele”, diz Edgar.
A feijoada ganhou fama em Cuba por causa de um ilustre frequentador do Esch, adorado pelos cubanos: Frei Betto, frade dominicano, escritor, autor de 73 livros, entre eles Fidel e a Religião (obra de 1985 que reaproximou Cuba do Vaticano e influiu no resgate da liberdade religiosa no país).
O prestígio da tabacaria vem da estratégia. “Saímos de um modelo que vendia só charuto e cafezinho para um conceito que investe em boa comida, bons vinhos e café gourmet”. explica Edgar. “É um lugar para fazer amigos e relaxar. Um lugar da diplomacia”, diz ele, também adepto do ciclismo.
“Não fumo charuto em casa”, ressalva ele, pai de quatro filhos e casado com Débora, que não fuma charutos. “Só fumo em ambiente em que ninguém vai se incomodar. Isso é uma etiqueta fundamental.”