O livro que inventou uma geração
Obra essencial, escrita há oito décadas por J.D.Sallinger, teve admiradores até mesmo entre assassinos.
O autor J.D. Salinger.
Há 80 anos, o escritor estadunidense Jerome David Salinger iniciava uma das obras mais importantes da literatura ocidental. O Apanhador no Campo de Centeio, publicado em 1951, começou na verdade em 1942, quando J.D. Salinger, aos 23 anos, adentrou o Exército para combater na Segunda Guerra. Escrita mesmo enquanto se davam os combates, a ficção ajudava o autor a manter a sanidade dentro da guerra, esta que ele vivenciou como trauma.
Seu clássico tem como protagonista Holden Caulfield, de 16 anos, que, expulso da escola e temeroso de voltar à casa dos pais, perambula por Manhattan desprezando a hipocrisia adulta. Indiretamente, o livro evoca o próprio Salinger, já que, como seu personagem, o escritor nasceu em Nova York, estudou em escolas públicas e cursou a academia militar. Principalmente, à moda de Caulfield, Salinger achava insustentável o universo dos mais velhos, a ponto de amar mulheres bem mais jovens do que ele e de viver recluso até a morte, em 2010.
Os admiradores do romance foram apaixonados por sua linguagem coloquial, capaz de expor vividamente um estado de revolta. Algumas vezes o livro se destacou por razões errôneas. Em 8 de dezembro de 1980, quando sedirigiu ao edifício Dakota, em Nova York, decidido a matar o ex-Beatle John Lennon, Mark Chapman carregava consigo um exemplar de O Apanhador no Campo de Centeio.
O assassino disse que seu crime perpetuava a “inocência” do músico, então com 40 anos. A amplificação do intento de Chapman rendeu uma teoria da conspiração segundo a qual o livro fora tramado pela CIA para programar assassinos em potencial. O boato ganhou força quando encontraram-se edições do livro junto aos pertences de John Hinckley Jr., que tentou matar o presidente Ronald Reagan em 1981, e de Robert John Bardo, que assassinou a atriz Rebecca Schaeffer em 1989.
Salinger nunca desejou ver seu livro transformado em filme. Mas a história recebeu adaptações, como as dos diretores Nigel Tomm (2008) e Marco Romano (2010). Para quem deseja saber mais sobre o escritor, o documentário Memórias de Salinger, de Shane Salerno (2014), explora aspectos de sua vida e de sua grande obra.