Acionista do maior conglomerado farmacêutico do Brasil, Leonardo Sanchez incentiva as pesquisas e cria novos projetos
Aos 38 anos, Leonardo Sanchez é um exemplo bem-sucedido de que a terceira geração de um grupo familiar pode surpreender nos negócios. Um dos acionistas do maior conglomerado farmacêutico do Brasil, o grupo NC, é ele quem incentiva as pesquisas, e cria novos projetos – e ao mesmo tempo consegue ser campeão nas pistas.
No escritório da casa onde mora com a família, em Campinas. Os troféus de suas corridas automobilísticas e a mesa, arrematada em Miami. A peça é idêntica à usada pelo seu avô materno.
De todos bons negócios que Leonardo Sanchez já fez, dois foram movidos pela memória e pelo coração. O primeiro foi arrematar uma mesa num antiquário em Miami, cujo valor correspondia ao “de uma Ferrari”. A comparação, claro, é um exagero. Mas a mesa, além de elegante, tinha dois detalhes que a tornavam irresistível, apesar do preço alto. Dois detalhes que a tornavam irresistível, apesar do preço alto: uma plaquinha em bronze, no corpo de madeira, que mostra- va que a mesa pertencera a um médico; e, além disso, o tampo verde da peça. A mesa era idêntica à usada por seu avô materno, Emiliano Sanchez, o homem que, nos anos 1950, abriu uma pequena farmácia em Santo André, na região do ABC paulista, a Santa Catarina. Ali começava a história do que se tornaria o grupo NC, hoje um conglomerado de 25 empresas, entre elas a EMS , o maior laboratório farmacêutico do Bra- sil e líder do mercado há 15 anos consecutivos. Leonardo, de 38 anos, é filho de Nanci, a única herdeira mulher do patriarca, que veio ao mundo pelas mãos de uma parteira, no andar de cima da farmácia do pai.
Em 2009, quando Nanci faleceu, o filho Leonardo já era um dos principais executivos do gru- po, cabeça sempre ligada em pesquisas, cuidadoso e atentíssimo, empenhado no desenvolvimento de novos negócios do grupo. Foi assim que nasceu a U.SK – a Under Skin – a empresa de cosméticos, um sonho de sua mãe. Em 2011, Leonardo tirou da gaveta um projeto pensado por ela, e por uma der- matologista, e depois de cinco anos de pesquisas lançou a marca em um evento para 120 profissio- nais de medicina durante um congresso interna- cional de dermatologia nos Estados Unidos. Atualmente, os produtos da U.SK são exportados para os americanos, Leonardo é o CEO da empresa, mas não deixa nem por um minuto de pensar em no- vos desafios para o grupo NC, e em especial para a EMS, colado no amanhã, na inovação permanente.
“A minha cabeça já está em 2025”, diz. Um dos no- vos projetos, já nos ajustes finais para a produção, é o genérico da solução injetável criada para dia- béticos, mas que virou uma coqueluche nos trata- mentos para perder peso. “Vamos ser o primeiro país no mundo a produzir o medicamento, e com preço bem mais baixo”, comemora Sanchez.
“A corrida me ajudou a me encontrar como pessoa. Numa prova, a competência, o esforço é todo meu”, revela.
O desafio das pistas
Léo, como é chamado pelos amigos, não para nunca. E quando para, acelera. Em 2018, ele es- colheu o automobilismo como hobby e a coisa acabou ficando séria. Desde que vestiu o primei- ro macacão azul e se tornou um dos pilotos da Porsche Cup Brasil, maior categoria monomarca das Américas, coleciona troféus e títulos como o de bicampeão da Porsche Cup Endurance Series. “A corrida me ajudou a me encontrar como pessoa”, resume. “Ali, a competência e o esforço são todos meus”. Léo, agora, se prepara para disputar a Hankook 24, em janeiro, em Dubai.
Ao seu lado, em todas as provas, está a maior incentivadora, Caroline, sua mulher, mãe dos seus três filhos, todos meninos. É um amor à prova do tempo. Os dois começaram a namorar quando Léo tinha 21 anos. São 17 anos juntos. A família mora em Campinas, pertinho da sede das empresas e ele, quando pode, vai almoçar em casa, na grande mesa ao lado do lago suspenso, de 300 metros quadrados, rodeado por areia branquinha, como uma praia particular. “Pedi ao paisagista, Alex Hanazaki, um lago onde pudesse nadar”, diz. “Mas teria que ter vegetação, peixes”. E assim foi. No oásis da família, uma construção moderna de 4.800 metros quadrados, há telas de Portinari, Di Cavalcanti, Antonio Bandeira (o preferido do dono da casa), Vik Muniz e um piano de calda que toca sozinho. “Me faz lem- brar da minha mãe, que tocava”, conta Léo.
Em casa, com Amora, mascote do piloto.
Ele revela, com respeito e admiração, que muito do que aprendeu deve ao tio, Carlos Sanchez, úni- co irmão da mãe, que preencheu o vazio da ausência de seu pai, falecido quando Léo tinha 11 anos.
“Ninguém nasce bom, você aprende a ser bom, e aprendi muito com ele”, afirma.
Léo aprende como os carros que dirige. É acelerado nas ideias, mas com os pés fincados nas raízes, e no bom senso. É capaz de parcelar o preço de uma viagem de férias (se for sem juros), ao mesmo tempo em que reser- va na adega os melhores vinhos para oferecer aos amigos, mesmo sem beber. Caroline um dia sugeriu organizar todos os troféus do marido em uma estante numa sala especial. Léo pensou – rapidamen- te, claro - mas não quis. Todos os símbolos de suas conquistas ficam no escritório doméstico, ao lado da mesa de tampo verde, aquela lembrança feita de madeira nobre e duradoura, onde tudo começou, âncora para o que ainda virá.