Cientistas analisam ancestralidade genética da população paulistana
População é heterogênea – composta de diferentes grupos étnicos – e também miscigenada, com diferentes grupos se expressando em cada pessoa individualmente.
Publicação identificou perfil miscigenado da população paulistana. (Foto: Marcello Casl Jr. /Agência Brasil)
Um estudo do Instituto de Biociências (IB) utilizou uma calculadora científica para investigar a ancestralidade média da população de São Paulo. A publicação apontou uma ancestralidade global média 77,5% europeia, 10,4% africana, 7,4% nativa americano, 4,1% leste asiática, 0,5% sul asiática e 0,1% oceânica. Já a análise por grupos populacionais apontou predominância basca/ibéria (entre 33,9% e 37,9%), albânia/itália/sardenha (entre 22,3% e 26,7%) e do oeste europeu (entre 6,2% e 7,2%).
Apesar da análise ser focada na ancestralidade coletiva, o estudo também fez investigações individuais. Nestes casos, havia presença de múltipla ancestralidade, o que indica um perfil miscigenado da população. As miscigenações mais comuns na amostra são entre europeus, africanos e leste-asiáticos.
Em entrevista ao Jornal da USP, o pesquisador Raphael Amemiya afirmou: “ a população paulistana não é somente heterogênea [composta por diferentes grupos étnicos – que podem ou não ser isolados um do outro], mas também miscigenada [diferentes grupos populacionais podem se expressar no gene de uma só pessoa]”. Os Estados Unidos e a Índia são exemplos de países heterogêneos, mas menos miscigenados.
GRUPOS POPULACIONAIS | ANCESTRALIDADE MÉDIA |
Basca/Ibéria | 33,9%- 37,9% |
Albânia/Itália/Sardenha | 22,3% - 26,7% |
Oeste da Europa | 6,2% - 7,2% |
Esan/Yorubá | 5,4% - 7,2% |
Karitiana/Suruí/Wichí | 3,7% - 4,5% |
Oriente Médio/Norte da África | 3% - 3,8% |
Japão | 2,9% - 3,7% |
Mais dados populacionais
Os estudos de ancestralidade apresentaram avanços nas últimas décadas. Ferramentas de Inteligência Artificial e Machine Learning, como a calculadora utilizada neste estudo, estão cada vez mais autônomas do pesquisador. Uma tendência de estudos é a aproximação da área com outros campos do conhecimento, como a arqueologia e a história. Algumas pesquisas traçam rotas históricas de migração, o que aproxima informações genéticas a achados arqueológicos.
Apesar do progresso recente, esses estudos são uma área em processo de refinamento e ainda percorrem diferentes desafios, como a sub-representação de populações (especialmente de povos nativos, latinoamericanos e africanos) em bancos de dados genéticos. O pesquisador aponta que inferir misturas muito antigas e complexas também é um grande desafio para os cientistas da área.
“A ideia era fazer uma calculadora de fácil uso, com linguagem de programação simples – como o Python – mas que captasse a complexidade dessas amostras foi desafiador”, destaca Miyama.
Relevância da análise
A importância das análises de ancestralidade vão além das questões individuais , como autoconhecimento. Essa verificação também pode embasar políticas públicas na área da saúde. Estudos apontam que variações genéticas associadas a doenças apresentam frequências variadas em diferentes grupos populacionais. Variantes associadas à diabetes tipo 2, hipertensão, insuficiência renal e câncer de próstata são exemplos.
O artigo também chama atenção para o fato de que grande parte dos estudos genéticos são feitos em populações europeias e, por isso, a patogenicidade (capacidade de um agente biológico causar doença) de algumas variantes não é totalmente compreendida em pessoas de fora do continente. O reconhecimento da ancestralidade paulistana direciona os cientistas para a produção de novos estudos e interpretações.