Jaime Batista: momento da cabotagem é para mudar mindset e incorporar tecnologias para desenvolver o mercado

Cabotagem ganha apoio do governo federal e deve se tornar alternativa ao transporte rodoviário.

Alianca_Pedro_Alvares_Cabral_RZL0760Cabotagem ganha apoio se tornar alternativa ao transporte rodoviário. (Foto: Divulgação/Aliança)

Apresentado ao Congresso Nacional em agosto, o Projeto de Lei (PL) apelidado de BR do Mar, que estimula a cabotagem – navegação entre portos da mesma costa ou região – é fruto de debate entre diversas pastas ministeriais. Além de criar novas rotas marítimas e também reduzir os custos de transporte nas já existentes, a iniciativa visa ser uma alternativa logística para centenas de empresas ao estimular o transporte de mercadorias internamente e aumentar a competitividade industrial do país.

Em 2018, a greve dos caminhoneiros escancarou a dependência do modal rodoviário para transporte de carga no Brasil. Pelas dimensões continentais do país e com a maior parte da indústria brasileira concentrada perto do oceano, a cabotagem torna-se mais inteligente e sustentável. Com vasta experiência em litígio e ênfase em transporte marítimo, o advogado Larry Carvalho acredita no potencial desta modalidade de transporte.

“A cabotagem brasileira está entre os mais consistentes mercados de contêineres do mundo”, pontua.

O especialista destaca que na última década foi visto um crescimento superior a 10% ao ano no setor. O mercado total, de acordo com Carvalho, já chega a quase 700 mil TEUs por ano. Mas, ele alerta para algumas incertezas.

“O rápido crescimento da utilização da cabotagem resultou em uma pressão significativa sobre a capacidade existente de oferta de navios aptos ao serviço de cabotagem”, elucida Carvalho.

Exatamente na tentativa de fomentar a navegação de cabotagem no país, a legislação de BR do Mar deve abrir o longo litoral brasileiro para navios de bandeira estrangeira que estejam afretados em Time Charters (afretamento por tempo), permitindo também a contratação de tripulantes com contrato de trabalho regido por legislação estrangeira. Diferentemente do que é praticado hoje.

Ponderações

Apesar de comemorar a existência do BR do Mar, Fernando Resano, vice-presidente executivo da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (ABAC), avalia que em termos de dificuldades enfrentadas pelo setor, a modalidade também depende da estabilidade da economia brasileira.

“A cabotagem tem crescido de forma regular e constante a índices bastante superiores aos da economia nacional. Maior avanço pode ocorrer se a situação econômica melhorar, pois é um modo de transporte que depende diretamente do avanço da economia do país”, acredita.

A respeito do futuro da cabotagem em um médio prazo, Resano se mostra confiante, mas com algumas ponderações.

“Enxergo o setor em uma crescente, pois há investimentos pesados no segmento, ainda que se fale tanto em abertura do mercado para empresas estrangeiras, o que será extremamente danoso para o país e para os usuários”, encerra.

Novas tecnologias

Um dos maiores desafios da cabotagem brasileira tem sido a implementação de novas tecnologias que estejam alinhadas à complexa regulamentação do segmento e que possam otimizar as operações oferecendo mais agilidade e transparência ao mercado. Diante desse desafio, a Aliança Navegação e Logística lançou, em junho, a nova versão do Portal Cabotagem, uma plataforma exclusiva que permite o gerenciamento de todo o processo de forma simples e intuitiva.

Jaime Batista
Jaime Batista, head da Aliança, visualiza mercado mais digitalizado. (Foto: Divulgação)

Um dos destaques da tecnologia é a autonomia oferecida aos clientes que podem buscar, de qualquer lugar e a qualquer momento, informações sobre trechos disponíveis, bookings, programação de navios, cotação, fechamento de propostas comerciais e controle on-line da contratação.

De acordo com Jaime Batista, head de vendas da Aliança Navegação e Logística, os investimentos em inovações e automatização da operação garantem mais autonomia aos clientes com informações na palma da mão, além de fomentarem o desenvolvimento do segmento.

“Há um grande debate no mercado de cabotagem sobre a importância de tornar as operações mais digitalizadas e o atual cenário de quarentena certamente contribuirá com o avanço desse tema", diz

Com o objetivo de contribuir com a construção de um mercado ainda mais digitalizado e automatizado, a Aliança integrou ao Portal Cabotagem uma tecnologia avançada de rastreio da carga via satélite. A novidade permitirá que os clientes da empresa monitorem o status de transporte da carga e acompanhem o seu percurso em tempo real, seja terrestre ou marítimo, permitindo assim um maior controle sobre o prazo de recebimento.

Para facilitar ainda mais o processo de rastreio da carga, a busca poderá ser feita de forma simples, utilizando apenas o número da nota fiscal ou código de referência do cliente, além do número do contêiner, booking ou conhecimento eletrônico. A tecnologia está disponível para 95% do território brasileiro com a previsão de atender 100% do país até o final de 2020, período em que será adicionada a cidade de Manaus.

Batista revela que a dificuldade para a implementação dessa mudança estava na aceitação do mercado de utilizar um novo método que dispensasse o trânsito físico de papéis, prática que vigora desde a década de 1960 e que grande parte das empresas estava habituada.

“Chegamos a um momento em que é preciso mudar o mindset e incorporar no setor tecnologias que facilitem o desenvolvimento do mercado e que já fazem parte da vida das pessoas. Isso se torna ainda mais acentuado quando precisamos minimizar a interação humana”, finaliza.