Primeiro-ministro do Nepal renuncia após protestos violentos contra bloqueio de redes sociais
O primeiro-ministro do Nepal, Khadga Prasad Oli, renunciou nesta terça-feira, 9, após os protestos contra o bloqueio temporário das redes sociais no país se tornarem cada vez mais violentos e se ampliarem para críticas abrangentes ao seu governo e a acusações de corrupção entre a elite política.
Os atos - apelidados de "manifestações da Geração Z" - foram liderados por jovens, indignados com o bloqueio de várias plataformas, como o Facebook e o X (antigo Twitter), e tomaram conta da capital do país, Katmandu. A polícia atirou contra os manifestantes e matou 19 pessoas, além de deixar mais de 400 feridos.
O governo nepalês alegou que as empresas responsáveis por essas redes sociais não haviam se registrado nem se submetido à supervisão estatal e, por esse motivo, seriam proibidas de operar no país.
Os sites foram reativados na terça-feira, mas os protestos continuaram, impulsionados pela indignação com a morte de manifestantes.
As casas de alguns dos principais líderes do Nepal e o prédio do Parlamento foram incendiados. O aeroporto de Katmandu foi fechado e helicópteros do Exército transportaram ministros para locais seguros.
Entre as principais críticas dos manifestantes, está o fato de os filhos dos líderes políticos desfrutarem de um estilo de vida luxuoso e de inúmeras vantagens, enquanto a maioria dos jovens do país enfrenta dificuldades para encontrar emprego.
Com o desemprego juvenil atingindo 20% no ano passado, segundo o Banco Mundial, o governo nepalês estima que mais de 2 mil jovens deixem o país diariamente em busca de trabalho no Oriente Médio ou no sudeste asiático.
"Estou aqui para protestar contra a corrupção generalizada em nosso país", disse o estudante Bishnu Thapa Chetri. "O país chegou a um ponto tão ruim que, para nós, jovens, não há motivos para ficar."
Foco no governo
Jornais locais e vídeos compartilhados nas redes sociais mostraram manifestantes atacando as residências dos principais líderes políticos em Katmandu e arredores nesta terça-feira, 9.
A casa particular de Oli estava entre as que foram incendiadas, assim como as do presidente, Ram Chandra Paudel, do ministro do Interior, Ramesh Lekhak, e do líder do Congresso Nepalês - o maior partido do país, que faz parte da coalizão governamental -, Sher Bahadur Deuba.
A família de Oli estava na residência oficial no momento. A casa do líder do Partido Comunista do Nepal (Maoísta), Pushpa Kamal Dahal, que faz parte da oposição, também foi incendiada.
Um toque de recolher foi imposto na capital e em outras cidades, e as escolas em Katmandu foram fechadas - mas vários protestos continuaram na capital, apesar das medidas.
"Punam os assassinos do governo. Parem de matar crianças", gritavam os manifestantes, referindo-se às mortes ocorridas nos protestos desta segunda-feira. Eles culparam o governo nepalês pelo fato de a polícia ter atirado contra o público. As autoridades usaram alto-falantes para tentar convencê-los a voltar para casa.
"Estamos aqui para protestar porque nossos jovens e amigos estão sendo mortos, estamos aqui para ver que justiça seja feita e que o atual regime seja destituído", disse Narayan Acharya, que estava entre os manifestantes do lado de fora da parede danificada do prédio do Parlamento nesta terça-feira. "Khadga Prasad Oli deve ser expulso."
Antes de renunciar, Oli disse que formaria uma comissão de investigação que apresentaria um relatório sobre os tiros disparados pelos policiais contra os manifestantes em até 15 dias. Ele acrescentou que as famílias das vítimas mortas receberiam indenização e que os feridos teriam acesso a tratamento gratuito.
Projeto de regulamentação de redes sociais
A violência eclodiu enquanto o governo nepalês busca uma tentativa mais ampla de regulamentar as redes sociais com um projeto de lei que visa garantir que as plataformas sejam "adequadamente gerenciadas, responsáveis e prestem contas". A proposta tem sido amplamente criticada como uma ferramenta de censura e punição aos opositores que expressam seus protestos online.
O texto exigiria que as empresas nomeassem um escritório de ligação ou um ponto de contato no país. Grupos de direitos humanos consideraram isso uma tentativa de restringir a liberdade de expressão e os direitos fundamentais.
A exigência de registro se aplicava a cerca de duas dezenas de redes sociais amplamente utilizadas no Nepal. Nem o Google, proprietário do YouTube, nem a Meta, empresa controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp, responderam aos pedidos de comentários da reportagem. A plataforma X, de Elon Musk, também não respondeu.
O TikTok, o Viber e três outras plataformas se registraram e operaram sem interrupção.
Em 2023, o Nepal baniu o TikTok por perturbar "a harmonia social, a boa vontade e difundir materiais indecentes". A proibição foi suspensa no ano passado, depois que os executivos do TikTok se comprometeram a cumprir as leis locais, incluindo a proibição de sites pornográficos, aprovada em 2018. Com informações da Associated Press.
*Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado pela equipe editorial do Estadão. Saiba mais em nossa Política de IA.