Margarida Quina, da Universidade de Coimbra: 'A sustentabilidade não é meio ambiente: ela remete a um desafio'
Após uma manhã de exposições sobre Inteligência Artificial, open finance, moedas digitais e investimentos, o período da tarde do LIDE Brasil Conferência Lisboa promoveu discussões sobre novas oportunidades para indústrias e serviços nas duas nações, além da economia circular e seus benefícios ambientais.
Margarida Quina, acadêmica da Universidade de Coimbra. (Foto: Kym Willer/LIDE)
Após uma manhã de exposições sobre Inteligência Artificial, open finance, moedas digitais e investimentos, o período da tarde do LIDE Brasil Conferência Lisboa - uma iniciativa do LIDE - Grupo de Líderes Empresariais, Folha de São Paulo e UOL - promoveu discussões sobre novas oportunidades para indústrias e serviços nas duas nações, além da economia circular e seus benefícios ambientais, com especialistas como Marco Stefanini, CEO do Grupo Stefanini, Roberto Azevedo, presidente global de operações da Ambipar e Patrícia Iglecias, professora e superintendente de Gestão Ambiental da USP. O evento aconteceu no Ritz Four Seasons Hotel, na capital portuguesa, nesta sexta-feira (15).
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Para dar início ao painel sobre indústria e serviços, Francisco Saião Costa, conselheiro econômico da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), trouxe uma análise detalhada das relações de comércio entre Brasil e Portugal, com um olhar específico sobre as exportações e importações do seu país, como oportunidades de negócio para as duas nações.
A base das exportações para o Brasil é composta de produtos agrícolas, sendo que um terço do total é composto de óleo de oliva, o ouro líquido português. Já o carro-chefe das importações de Portugal é feita de óleos brutos de petróleo, com 63% do total. Por outro lado, outro tipo de exportação feita pelos portugueses que merece destaque são os serviços, sendo a TAP responsável por 48% dos negócios deste setor, oferecendo voos diretos para 13 destinos brasileiros.
Enquanto o governo português tem feito um esforço considerável para oferecer segurança jurídica, estabilidade e previsibilidade aos investidores internacionais, três pilares se mostram relevantes para a aliança entre Brasil e Portugal: proximidade social, econômica e social; alinhamento de posições em espaços comuns do cenário internacional e vantagens competitivas entre dois países.
“O Brasil é uma potência econômica a que as empresas portuguesas podem e devem explorar", disse.
Em seguida, Marco Stefanini, CEO do Grupo Stefanini, trouxe para a sua apresentação a importância da exportação de serviços e produtos de tecnologia para Portugal, enquanto o país europeu tem uma grande mão de obra qualificada, o que pode viabilizar uma grande parceria.
“Nós podemos multiplicar a força de Portugal para os países europeus, ao mesmo tempo que é uma grande oportunidade para as empresas brasileiras se internacionalizarem", explica. “O Brasil pode turbinar a oferta de mão de obra e serviços para tecnologia especializada".
Karene Vilela, presidente da Câmara Portuguesa do Comércio de São Paulo, trouxe números e insights que mostraram que Portugal é uma força motriz para conectar investidores brasileiros para os mercados lusófonos e europeus, com acesso a mais de 500 milhões de pessoas. O objetivo da Câmara Portuguesa é realmente conectar empresas brasileiras e portuguesas para gerar negócios e hubs de inovação essenciais ao desenvolvimento econômico dos países, além de empresas acessórias que oferecem um ecossistema de suporte aos empresários: “Portugal está aberto para investimentos seguros e que podem ser a entrada para o mercado europeu”.
Governador do Piauí, Rafael Fonteles, subiu ao palco com o objetivo de mostrar o diferencial do estado para atrair investidores, não somente no agronegócio e na infraestrutura, mas também no âmbito da tecnologia. Segundo ele, o estado é o melhor lugar do mundo para se investir no momento, com oportunidades de negócios, além de recursos naturais únicos e um bom ambiente empresarial. De acordo com o governador, para estar à frente do desenvolvimento tecnológico, é preciso investir em educação de qualidade para formar uma mão de obra qualificada.
“Em breve, o estado terá 502 escolas com ensino integral integrado à educação profissional e técnica no ensino médio com marketing digital, programação de jogos, desenvolvimento de sistemas, habilidades que o mercado precisa".
Outra oportunidade está na indústria de produção de energia renovável, com a industrialização verde a partir da produção de hidrogênio e outros combustíveis verdes. Por último, ele destacou a economia digital como uma possibilidade de colaboração entre os dois países.
Dando sequência às discussões do painel, Romeu Zema, governador de Minas Gerais, abriu sua exposição listando os principais negócios do estado com Portugal no turismo, transporte e produção de vinhos.
Entretanto, segundo ele, ainda há muitas oportunidades de investimento no setor energético, porque Minas Gerais é um dos estados que mais produz energias renováveis, com destaque para a fotovoltaica, também é um grande explorador de minérios importantes para a transição energética: "no futuro, quem tiver energia limpa, em boa quantidade e preço competitivo vai atrair as indústrias que desejam menores pegadas de carbono em sua produção".
Para fechar o painel, o presidente Michel Temer lembrou das similaridades entre os textos constitucionais dos dois países em busca de uma democracia sólida e a importância de um bom relacionamento e interlocução entre os poderes e, em consequência, criar condições favoráveis a um bom ambiente de negócios nas duas nações.
Sustentabilidade e meio ambiente
Na última plenária do dia, intitulada “A Economia Circular e seus Benefícios Ambientais", a ministra Izabella Teixeira fez uma apresentação sobre a transição energética e as oportunidades do Brasil operar nesse cenário dentro da agenda climática. Segundo ela, o Brasil segundo ela tem uma posição confortável mas desafiadora de sua matriz energética porque tem condições de ter o setor de energia como o carro-chefe no desenvolvimento do país. Ela destacou que as fontes renováveis como a geração de energia eólica on e offshore, além da energia solar demonstra um grande potencial de negócios e investimento com visão estratégica.
“O Brasil se posiciona bem no que diz respeito aos biocombustíveis e é importante que busque parcerias e cooperações com outros países para reduzir o custo de energias, competitividade, inovar e gerar negócios e soft power".
Abordando os benefícios e riscos ambientais da economia circular, a professora da Universidade de Coimbra, Margarida Quina, apresentou o conceito dessa economia, que busca deixar o modelo linear de produção de bens e serviços, para seguir um modelo circular, com menos emissões, menos recursos e resíduos. A UE tem feito um trabalho muito forte nessa área nos últimos anos, com sensibilização dos consumidores, criação de produtos responsáveis, identificação dos setores que utilizam mais recursos e com alto potencial de circularidade, garantir menos desperdícios nas cadeias de valor e criar um grande esforço de economia circular em nível global.
Ela apresentou modelos de economia circular para materiais biológicos e tecnológicos, os três princípios da economia circular e seus impactos positivos no meio ambiente como: reduzir a poluição e resíduos, conservação de recursos naturais e redução das emissões de carbono:
“A sustentabilidade não é meio ambiente: ela remete a um desafio que é enorme e pede para compatibilizarmos a economia com a sociedade, com um olhar para o ser humano e a sociedade em geral.”
Ela abordou também os principais desafios como riscos financeiros, desafios tecnológicos e de infraestrutura, barreiras políticas e regulatórias, percepção dos consumidores, além das tendências para o futuro: “No futuro, a economia circular será inevitável".
Professora e superintendente de Gestão Ambiental da USP e presidente do Instituto O Diretor por Um Planeta Verde, Patrícia Iglecias começou sua apresentação explicando que a atual crise ambiental que vivemos é um resultado do desequilíbrio entre a economia e a natureza. Ela trouxe dados sobre a atual era do carbono e o potencial de inserção do Brasil no mercado de soluções de carbono, tema do PL 182/2024, recentemente aprovado pelo Senado Federal, que cria o mercado de carbono regulado no Brasil.
Roberto Azevêdo, presidente global de operações da Ambipar, falou sobre as principais dificuldades da implementação de políticas de circularidade dentro das grandes empresas, principalmente quando o assunto é o uso de matérias-primas recicláveis, produção, preço e também a cultura dos consumidores de cada país.
Mas Azevêdo também apresentou a demanda por créditos de carbono como uma maneira positiva do Brasil se posicionar na indústria, com recursos verdes, matriz energética limpa e potencial de produção de biocombustíveis -- essenciais à transição energética. “Atingir a circularidade não é impossível, mas é preciso que as empresas incentivem a sociedade", concluiu.
Para finalizar o painel, Hélio Costa, presidente do Conselho da Light, apresentou dois exemplos de economia circular: o vapor e nuvens que se condensam em forma de rios suspensos da Floresta Amazônica, tão importantes para o agro brasileiro; e a iniciativa da Light de produzir energia renovável a partir do bombeamento de água tratada no seu parque gerador de energia elevatória no Rio de Janeiro. Para ele, a energia limpa é crucial para viabilizar outras áreas importantes para o país, como a Inteligência Artificial abordada no início da manhã:
“Para o país ter todo seu sistema de Inteligência Artificial operando plenamente, precisaremos ter o dobro de energia produzida nacionalmente, mais a de Portugal, Espanha e outros países".