"A Vale tem o dever de liderar a transição energética", defende Gustavo Pimenta
Em evento com empresários e gestores públicos, CEO da Vale apresenta plano Vale 2030 e reforça aposta em cobre, briquete verde e hidrogênio.
Gustavo Pimenta, CEO da Vale. (Foto: Gabriel Okawa/LIDE)
O CEO da Vale, Gustavo Pimenta, participou nesta sexta-feira (27) do Almoço Empresarial LIDE, realizado no Hotel W, em São Paulo. O evento reuniu executivos de destaque e gestores públicos para discutir temas estratégicos da economia nacional. Em sua fala, Pimenta compartilhou um panorama da atual fase da mineradora, traçou um retrato dos desafios macroeconômicos e apresentou a visão da companhia para o futuro, centrada em segurança, inovação e sustentabilidade.
Vale em transformação: “o melhor momento da história”
Pimenta destacou que a Vale vive atualmente seu “melhor momento histórico”. Ele lembrou o processo de reconstrução vivido pela empresa após o desastre de Brumadinho, em 2019, que levou a uma profunda revisão cultural, organizacional e técnica. “Foi quase uma refundação da companhia”, afirmou.
Entre os avanços, ele citou a eliminação de barragens à montante, o uso de tecnologias de filtragem e empilhamento a seco de rejeitos, além da criação de três linhas de defesa para a gestão de risco. O resultado, segundo o executivo, é um índice de segurança referência no setor: “temos o menor indicador de acidentes da indústria de mineração em padrão mundial”.
Avanços em acordos e governança
Em seus primeiros nove meses como CEO, Pimenta comemorou a conclusão do Acordo de Mariana, que envolve R$ 170 bilhões em compensações ambientais — o maior da história mundial. Também mencionou a repactuação de ferrovias e a reformulação do Comitê Executivo, que agora, segundo ele, é “classe mundial”.
Geopolítica e o impacto no mercado de commodities
Apesar da estabilidade interna, o cenário global traz desafios. Pimenta citou a influência de guerras, tarifas e incertezas geopolíticas nos preços de commodities como ferro e níquel. Ainda assim, manteve um tom otimista com base na “economia real”, citando a demanda aquecida na China e em países do Sudeste Asiático.
Gustavo Pimenta, CEO da Vale. (Foto: Gabriel Okawa/LIDE)
Vale 2030: crescimento com foco em baixo carbono
O CEO revelou os pilares da estratégia Vale 2030, com metas ambiciosas como aumentar a produção de minério de ferro de 328 para 360 milhões de toneladas por ano. Mais do que volume, o foco está na qualidade: “a indústria precisa de minério de alto teor para descarbonizar a cadeia do aço”.
Nesse sentido, a empresa aposta em soluções como o briquete verde e no desenvolvimento de hubs industriais de baixo carbono em regiões com gás natural barato, como o Oriente Médio. Pimenta também vislumbra um papel inédito para o Brasil, utilizando seu potencial em hidrogênio verde para criar uma indústria siderúrgica de baixo carbono.
Cobre e minerais críticos: nova fronteira de crescimento
A Vale mira ainda o crescimento em minerais críticos para a transição energética, com destaque para o cobre. A empresa anunciou investimentos de até R$ 70 bilhões em Carajás — batizado de “Novo Carajás” — com o objetivo de dobrar a produção de cobre nos próximos dez anos. “Cobre é essencial para eletrificação e o Brasil ficou para trás nesse desenvolvimento. Temos agora a chance de liderar”, enfatizou.
Perguntas de empresários
Durante o Almoço Empresarial LIDE, o CEO da Vale, Gustavo Pimenta, respondeu a perguntas de lideranças empresariais sobre os desafios e oportunidades da mineração no cenário global.
Ao ser questionado pela conselheira sênior da Ambipar, Silvia Coutinho, sobre o impacto das tensões geopolíticas, Pimenta afirmou que, embora os efeitos diretos sejam limitados — como no caso dos Estados Unidos, que consome pouco minério —, há consequências indiretas importantes, como o arrefecimento do PIB global, que impacta a demanda por commodities. Por outro lado, destacou a abertura de novos mercados, como Índia e Oriente Médio, impulsionados pela busca por minérios de maior qualidade.
Presidente do LIDE, João Doria Neto, participa dos debates. (Foto: Gabriel Okawa/LIDE)
Silvia também abordou a relação entre mineração e meio ambiente. Pimenta reconheceu o preconceito histórico, mas defendeu que a mineração pode ser uma aliada da preservação ambiental quando bem regulada e executada com responsabilidade. Destacou a atuação da Vale em Carajás como exemplo de operação sustentável e reforçou a importância do diálogo entre empresas, governo e sociedade para criar incentivos corretos.
“Se a gente se afastar desse debate, abrimos espaço para a ilegalidade”, afirmou, apontando a necessidade de modernizar o marco regulatório e valorizar as soluções de baixo carbono.
O tema ESG também foi pauta da pergunta de Daniel Mendez, fundador da Sapore, que questionou como empresas menores podem gerar valor com práticas sustentáveis. Pimenta afirmou que a Vale aposta em tecnologia e automação como caminhos para esse futuro. Citou a mina de Brucutu, hoje 100% autônoma, e defendeu que o novo modelo operacional — sem barragens e com menor pegada de carbono — já mostra ganhos de eficiência. Embora o custo tenha subido inicialmente, ele acredita que o aprendizado levará a um equilíbrio entre sustentabilidade, segurança e competitividade.
Por fim, o conselheiro Herman Voorwald pediu que o executivo detalhasse a visão da chamada “mineração do futuro” e do aço verde. Pimenta explicou que a Vale trabalha para desenvolver hubs industriais baseados em hidrogênio verde, especialmente no Nordeste, aproveitando o potencial das renováveis. A ideia é produzir aço com pegada zero de carbono, viabilizando cadeias produtivas sustentáveis, como veículos e eletrodomésticos verdes.
“Queremos acelerar esse futuro. Esse talvez seja o maior legado que podemos deixar”, concluiu.
O Almoço Empresarial LIDE teve patrocínio de Ambipar, Gerdau, UBS, Rede, África Creative, Sapore, HBR Realty. Os parceiros de mídia foram a Jovem Pan, Revista LIDE e TV LIDE. Os fornecedores oficiais são Ambipar, Compactor, Mistral, Águas da Prata e RCE.