Empresas de telecom e tecnologia começam a se adaptar à reforma tributária
Desafio é saber exatamente os impactos para o negócio que serão causados pelas novas regras dos tributos incidentes sobre o consumo.
Waine Peron, sócio-líder de impostos da EY Brasil. (Foto: Divulgação)
O próximo ano marca o início do período de transição da reforma tributária. A partir de 2033, o novo sistema dos tributos incidentes sobre o consumo estará plenamente em vigor. As empresas de TMT (tecnologia, mídia e entretenimento e telecomunicações) já começaram a se adaptar a essas mudanças, conforme demonstrou evento realizado pela EY em São Paulo com a presença de diversos executivos desse mercado. “Criamos um comitê interno com PMO corporativo para dar força e aumentar o engajamento em todas as áreas do negócio. Estamos há mais de um mês fazendo reuniões produtivas e com uma agenda bastante organizada. Todos os executivos participaram do treinamento, já que, em um negócio tão diversificado como o nosso, os impactos da reforma são muito relevantes, especialmente para a precificação”, disse Vasco Gruber Franco, diretor tributário corporativo do Grupo Telefônica. “Estamos agora nos planejando para fazer o exercício de modelagem tributária”, completou.
O diretor tributário da 99, Rodrigo Reis, afirmou que a empresa já tem um projeto interno para implementação e avaliação dos impactos da reforma em cada uma das áreas do negócio. “Atuamos pela aprovação da reforma, participando ativamente das discussões e da sua concepção, já que somos conselheiros do CCiF (Centro de Cidadania Fiscal), cujo propósito é ajudar a simplificar e aprimorar o sistema tributário brasileiro e o modelo de gestão fiscal. Vamos seguir fortes nessa jornada pelos próximos anos”, destacou.
Para o sócio-líder de impostos da EY Brasil, Waine Peron, há um movimento por parte das empresas de fazer o outsourcing da gestão dos tributos atuais para que foquem a atenção dos seus profissionais na preparação para o novo sistema tributário.
“Ou o inverso, mantendo nesse caso a equipe concentrada naquilo que precisa fazer hoje e terceirizando a conformidade com os novos tributos. Isso ocorre por causa da agenda intensa de mudanças, o que tem exigido muito dos profissionais tributários, que, além da reforma, estão atentos às novas regras do preço de transferência e ao Pilar 2”, explicou.
Há ainda uma questão relevante sobre a transformação da área tributária, que se tornou mais estratégica nos últimos anos, sendo agora chamada desde o início das discussões nas empresas sobre questões de negócio como se haverá investimento ou desinvestimento, a fim de que Tax analise o efeito colateral dessas decisões.
Uso da tecnologia, especialmente da IA
“Os clientes têm se perguntado como tratar esse turbilhão de mudanças, por onde eu começo, quais atividades eu terceirizo, em quais ferramentas invisto, em um contexto de restrição do orçamento das empresas”, disse Tiago Aguiar, sócio de International Tax and Transaction Services da EY Brasil. Para se manter em conformidade com essas modificações constantes, ainda segundo Aguiar, o uso da tecnologia, especialmente da inteligência artificial, é importante. “Como o volume de informações provido ao fisco é gigantesco, há um desafio para as empresas de interpretar corretamente esses dados para geração de insights. A perspectiva, aliás, é de aumento dos esforços de compliance com as novas regulações. Nesse contexto, é relevante que a empresa se estruture para extrair insights que possam efetivamente auxiliar suas decisões, não esperando as perguntas serem feitas pelos stakeholders, mas se antecipando a elas”, completou.
Na visão de Long Hua, EY Americas Technology Sector Tax Leader, o profissional tributário precisa estar preparado atualmente para atuar em um ambiente incerto e que tende a ser mais litigioso nos próximos anos por causa de mudanças com implicações globais como o preço de transferência – que se estendem às operações das empresas em diversos países. “Os profissionais devem se perguntar como podem transformar os dados em insights por meio da IA. Eles precisam saber responder a perguntas cruciais para o negócio como o que você faria, por que você faria, quais os riscos de fazer isso e o que as outras empresas estão fazendo. Não basta mais somente saber as regras tributárias, é preciso dar um passo além do que estamos acostumados”, observou.