"A gente tem que parar de gerir o futebol apenas com paixão", diz Sergio Rodrigues em defesa da adoção do SAF
Presidente do Cruzeiro participou de painel sobre o modelo de gestão do esporte durante o Fórum Empresarial LIDE. Evento ainda homenageou o ex-jogador Zico e a ginasta olímpica Rebeca Andrade.
Presidente do Cruzeiro, Sérgio Rodrigues. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
O modelo de negócio do futebol brasileiro esteve em destaque na programação de sábado (25) no Fórum Empresarial LIDE. O presidente do Cruzeiro, Sérgio Rodrigues, e o presidente da Suzano, Walter Schalka, se uniram para debater o profissionalismo no setor, apontando possíveis caminhos para o futuro do negócio, em especial a adoção do modelo de gestão SAF (Sociedade Anônima do Futebol). O painel ainda contou com uma homenagem especial ao ex-jogador Zico, considerado um dos melhores da história, e da ginasta Rebeca Andrade, primeira atleta do Brasil a conquistar uma medalha de ouro e outra de prata em uma única edição dos Jogos Olímpicos.
De acordo com presidente do Cruzeiro, Sérgio Rodrigues, "o esporte é uma indústria gigante, que movimenta milhões e, por isso, deve ser tratado como negócio. A gente tem que parar de tentar gerir o futebol apenas com paixão, pois as decisões se perdem da razão. Estamos vivenciando um momento fora da curva no futebol brasileiro, que vai trazer profissionalismo para o setor. Mas o primeiro passo para isso é os clubes se tornarem SAF. Quem não fizer isso, estará num modelo falido e não vai conseguir prosseguir", afirmou Rodrigues. Em novembro do ano passado, o Cruzeiro formalizou o primeiro registro no estatuto de clube-empresa. Com o novo modelo de gestão, o clube ganhou mais margem de negociação com possíveis investidores que queiram injetar recursos.
Lars Grael, presidente do LIDE Esporte. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Mediador do painel, Lars Grael, presidente do LIDE Esporte, reforçou que o modelo ajuda a trazer credibilidade ao esporte.
“O Brasil viveu uma fase em que tinha que entregar resultado através da promoção de eventos. Tivemos copa, jogos sul-americanos, jogos olímpicos. Isso tudo em um mesmo momento em que o país vivia a fase de que ‘os fins justificavam o meio’, os meios nem sempre os mais justos. E isso, infelizmente, chegou ao esporte. Passamos por transformações que exigem um melhor modelo de governança e a SAF ajudará muito em relação aos clubes”, exaltou Lars.
Presidente da Suzano, Walter Schalka. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
O presidente da Suzano, Walter Schalka, que até o começo deste ano fez parte do Comitê de Gestão do Santos, concordou com os colegas. Segundo Schalka, o modelo atual tem um problema que precisa ser modificado de forma rápida.
"Só tem duas formas de fazer a mudança no futebol brasileiro: uma liga que seja adequada, com a arrecadação e distribuição de renda similar entre os clubes, provocando uma competitividade justa; E a adoção da SAF, que vai ajudar os times a pagarem dívidas antigas. Precisamos parar de levantar renda com a venda de jogadores, isso não se sustenta mais”.
A prática é absolutamente predatória, disse o executivo, pois hoje o mercado europeu tem foco em jogadores com 15 e 16 anos. Pela legislação, os clubes brasileiros só podem ter contratos com profissionais que tenham, ao menos, 18 anos.
Schakla ainda apontou que o maior índice de fidelidade do brasileiro está no futebol. "Mesmo que não seja torcedor presente em jogos, só 3% das pessoas trocam de time depois dos 12 anos de idade. É uma fidelidade maior que religião, profissão, preferência sexual e partido político”, explica.
Ex-jogador Zico e medalhista olímpica Rebeca Andrade. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
O painel "Profissionalismo, Negócios E Inclusão Social" foi encerrado com uma homenagem especial às realizações no esporte brasileiro. O ex-jogador Zico e medalhista olímpica Rebeca Andrade subiram ao palco para receber a placa comemorativa.
“Fico feliz de ver, hoje, aqui as conversas em torno da SAF como uma solução para o futebol brasileiro. Me fez lembrar meu período como secretário de Esportes, quando criei, há 21 anos, uma nova lei que permitiu a formação do futebol-empresa, foi com ela que criei o CFZ. Na época, fui massacrado. Era um momento difícil para criar uma lei nova, a gente não tinha recursos. Fomos pesquisar a legislação esportiva em outros países, como Portugal, Espanha, Estados Unidos. Convidamos entidades esportivas, confederações, clubes, mas poucos quiseram participar. Mesmo indo contra muitos interesses, a gente conseguiu fazer. O projeto ficou engavetado vários meses e quando entreguei minha carta de demissão ao presidente Collor, aí a coisa andou e o projeto foi encaminhado ao Congresso com os pontos principais de profissionalização do esporte. Fico muito orgulhoso por essa contribuição dada ao esporte brasileiro em todas as suas modalidades. Isso é um dos pontos que vou carregar comigo para o resto da vida”, contou o ex-jogador.
Ginasta Rebeca Andrade. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
A ginasta Rebeca Andrade relembrou sua trajetória e a importância do técnico Francisco Porath em sua formação.
“Comecei bem novinha, de 4 para 5 anos. Minha tia trabalhava no ginásio e perguntou pra minha mãe se eu podia ir começar a treinar lá. E foi lá naquele ginásio que conheci o Chico, que foi primeiro treinador. Fui crescendo junto com ele, enfrentei dificuldades na questão financeira, no início, fui pra Curitiba, treinei um ano lá. Em 2011, vim para o Rio, estou aqui desde então. Eu cresci muito, evoluí bastante com o apoio do Comitê, do meu clube (Flamengo) e dos meus treinadores. Foi muito bom porque a cada lesão eu entendia a importância de eu ser atleta e das pessoas que estou inspirando: hoje, depois da Olimpíada, tenho mais consciência disso. Sou muito grata ao meu treinador por ele ter acreditado em mim. E também à minha psicóloga, que foi extremamente importante para minha evolução no esporte. Quando eu sofria uma lesão, o Chico sentia, chorava junto. Isso faz a diferença, saber que eles pensam não só no atleta mas na pessoa também”.
Rebeca Andrade e o técnico. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Sobre o Fórum
Pela primeira vez, o Fórum Empresarial LIDE aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, entre 23 e 26 de junho, no Hotel Fairmont, em Copacabana, na Zona Sul da cidade. O evento reuniu líderes de diferentes setores para dialogar sobre novos caminhos para o desenvolvimento do Brasil, abordando temas como governança e transparência na gestão pública; sustentabilidade e compromisso ambiental; modernização do modelo energético brasileiro; o futuro político e institucional do Brasil; o papel da democracia na sociedade; as lideranças políticas e a retomada econômica, além da profissionalização do esporte e a retomada de eventos culturais.