Empresas de mineração e metais avançam na agenda de sustentabilidade

Praticamente todos os executivos atuantes no Brasil dizem, de acordo com estudo da EY, que fizeram progresso nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da ONU.

worker-hardhat-standing-sand-quarryPraticamente todos os executivos atuantes no Brasil dizem que fizeram progresso nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da ONU. (Foto: Freepik)

Quase todos os executivos de mineração e metais atuantes no Brasil (94%) dizem que fizeram progresso na categoria de sustentabilidade ambiental dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), da ONU (Organização das Nações Unidas). Porcentagem ainda maior, de 97%, foi registrada em relação ao progresso em termos de inclusão social. Ambas as porcentagens, obtidas por meio de entrevistas realizadas por estudo da EY, contemplam as seguintes respostas: algum progresso; progresso moderado; e progresso significativo. Essas percepções foram reunidas no estudo global “10 principais riscos e oportunidades para empresas de mineração e metais em 2025”, produzido pela EY, que entrevistou executivos do setor de mineração e metais atuantes em organizações com mais de US$ 1 bilhão de receita.

“Há uma priorização crescente da responsabilidade socioambiental no negócio por parte das empresas de mineração. Elas vêm construindo acordos e seguindo regramentos que asseguram ou buscam assegurar sua contribuição socioambiental para os territórios explorados. Faz parte desse processo dar transparência a cada uma dessas ações para todos os públicos envolvidos”, afirmou Afonso Sartorio, líder de Energia e Recursos Naturais da EY, que participou do evento em Minas Gerais, com apoio do IBRAM (Instituto Brasileiro de Mineração), de lançamento do estudo realizado pela EY.

A abertura do evento contou com a participação de Raul Jungmann, presidente do IBRAM, e de Sartorio, que, ao contextualizar o estudo, ponderou sobre como “a piora das condições macroeconômicas, não apenas no Brasil como no mundo, tem tornado mais difícil o levantamento de capital para financiar as atividades das mineradoras, apesar da crescente necessidade de minerais essenciais para a transição energética”.

João Brito, líder do Centro de Excelência em Mineração e Metais da EY, destacou que a preocupação com o esgotamento de recursos e reservas está na lista pela primeira vez, e os riscos associados a “novos projetos”, que não participavam do ranking desde 2018, estão de volta ao Top 10, atrelados às preocupações com acesso ao capital, o principal risco apontado nesta edição do estudo.

A tríade “gestão ambiental”, “licença para operar” e “mudanças climáticas” segue no ranking, ocupando as posições de número dois, cinco e sete respectivamente. Segundo Elanne Almeida, líder global de Sustentabilidade para Mineração e Metais, “as empresas estão mais familiarizadas com as demandas e complexidades associadas à gestão socioambiental e à necessidade de descarbonização. Isso explica a queda relativa de posição, cedendo lugar a outros temas mais recentes como a preocupação com o contexto geopolítico, produtividade e capital. Por outro lado, é justamente a consciência dessa complexidade, somada às expectativas de que o setor siga atuando de forma a contribuir com o desenvolvimento territorial e operando de forma mais limpa, que fazem com que esses temas sigam no radar e nas agendas dos executivos do setor”.

Investimento em inovação e capacitação dos colaboradores

Na segunda metade do evento, Sartorio fez a mediação de um painel que contou com a participação de Carlos Mello Junior, diretor superintendente da CSN Mineração; Marcelo Klein, diretor de Gestão de Territórios da Vale; Angela Vasconcelos, vice-presidente de Finanças e Administração da Equinox Gold; e Zé Silva, deputado federal e presidente da Frente Parlamentar da Mineração Sustentável.

Para Mello Junior, investir na formação de pessoas, promover a capacitação contínua e abrir espaço para a inovação são aspectos fundamentais para o sucesso de uma operação, especialmente em um contexto de escassez de mão de obra especializada – aspecto levantado pelos executivos brasileiros, mas que não chegou a figurar no ranking global do estudo. Na avaliação dele, um colaborador bem capacitado é mais produtivo e se engaja na busca por melhorias no processo produtivo. “Quando o empregado participa do programa de melhorias contínuas, por exemplo, ele se sente valorizado. Na CSN, 70% dos empregados estão participando desse programa, gerando para a empresa R$ 100 milhões de economia em um ano”, completou.

Ao falar sobre inovação, Mello Junior enfatizou que é preciso continuar investindo em ciência e tecnologia para aproveitar ao máximo os recursos, aumentando assim a produtividade – o que inclui, mais uma vez, a preparação e o treinamento dos colaboradores. Para o executivo, “conhecimento e tecnologia são alguns dos grandes vetores para a evolução do setor, que podem gerar ganhos de produtividade e ajudar uma companhia a fazer frente até mesmo a pressões inflacionárias e de custos”.

O investimento em inovação, ainda de acordo com o estudo da EY, tem crescido: mais de sete a cada dez respondentes (72%) dizem que a expectativa é que suas empresas gastem mais com pesquisa e desenvolvimento nos próximos 12 meses em comparação com o último ano. Já 57% têm essa mesma expectativa em relação à inovação.

Klein destacou a relevância do trabalho de gestão de impacto por parte das mineradoras. “Como parte desses esforços, é preciso mostrar à sociedade como a mineração vem trabalhando com ciência e inovação para fomentar novos modelos de negócios, impulsionar a circularidade e reduzir a geração de resíduos. Temos exemplos de sucesso nos quais o uso de tecnologia associada a novos processos tem possibilitado maior produtividade por tonelada, com pegada de carbono muito menor”, observou. Ao falar sobre sustentabilidade, o executivo explicou que a mineração lida com ambientes vulneráveis do ponto de vista socioeconômico, motivo pelo qual está dedicada a construir um legado positivo para as comunidades e o meio ambiente e a contribuir para o fortalecimento de políticas públicas, auxiliando o governo por meio de ações voltadas para as comunidades envolvidas com as operações.

Integração entre as áreas financeira e de sustentabilidade

Angela Vasconcelos destacou que a área financeira precisa estar próxima da agenda ESG. “Assuntos como transição energética não são somente para a equipe de sustentabilidade, estendendo-se para a área financeira, que precisa participar da implementação de projetos de escopos 1 e 2”, disse. “Há diversos exemplos nesse sentido, como estudos de viabilidade para reduzir o custo de energia, por meio da adoção de uma matriz solar. Essa proximidade com a área de sustentabilidade só traz ganhos para a atividade de mineração, podendo criar ou consolidar instrumentos para que a própria comunidade gere valor com a área explorada depois que a mineradora parar de operar na região”.

A executiva também afirmou que as mineradoras precisam evoluir para uma agenda complexa de riscos, que se materializam em distintos momentos da operação. Por esse motivo, ao longo do ciclo de vida de uma mina (“Life of Mine” ou LOM), é necessário questionar-se sobre aspectos como a estrutura e o modelo operacional, bem como a possibilidade de unificar operações para ser mais eficiente e melhorar o acesso ao capital. As empresas que operam com commodities distintas devem se perguntar qual commodity deve ser priorizada em um determinado momento e contexto econômico para aproveitar da melhor forma as condições de mercado. Angela pontuou ainda a necessidade de planejar o processo de encerramento das minas dentro do conceito de LOM, incluindo ações de mitigação dos impactos ambientais e sociais.

Para o deputado federal Zé Silva, a mineração precisa estar na agenda do debate das políticas públicas, com a aprovação de uma legislação que dê o mínimo de segurança jurídica para esse mercado. “O Parlamento está cumprindo seu papel de manter um espaço aberto com a iniciativa privada para debater a atividade de mineração. É possível fazer mineração de forma sustentável a partir de dois pilares: ciência, por meio da pesquisa mineral, e boas práticas na implementação de um projeto de mineração, por meio do envolvimento das populações locais”, disse. E concluiu com um convite ao setor para se aproximar mais do governo para que possam trabalhar juntos em planos de longo prazo, discutir necessidades, prioridades e soluções.