Dar efetividade ao Inventário Global de Emissões é meta da COP30

A carta mais recente da presidência brasileira da conferência do clima deste ano traz a necessidade de implementar efetivamente os compromissos acordados no principal documento originado na COP28.

Ricardo Assumpção-DivulgaçãoRicardo Assumpção, líder de Sustentabilidade e CSO da EY para América Latina. (Foto: Divulgação)

O principal objetivo já está traçado para a COP30 que será realizada neste ano no Brasil: dar efetividade aos compromissos assumidos no Inventário Global de Emissões, também chamado de Global Stocktake, definido na COP28 realizada no ano retrasado em Dubai. Esse documento trouxe o compromisso até então inédito de promover a transição dos combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural, para fontes limpas, como eólica, solar, hidrogênio verde e biocombustíveis, nos sistemas energéticos. Para isso, estabeleceu a necessidade de triplicar até 2030 em nível mundial a capacidade de energia renovável e dobrar a taxa média anual de melhorias na eficiência energética.

“O primeiro Balanço Global (GST, da sigla para Global Stocktake) orienta nossos esforços coletivos para perseguir os objetivos do Acordo de Paris no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza”, diz trecho da Quarta Carta da Presidência Brasileira, assinada pelo embaixador André Aranha Corrêa do Lago, presidente designado da COP30. Ainda segundo o documento, a chamada Agenda de Ação da edição deste ano da conferência do clima deve mobilizar todas as partes interessadas, incluindo o setor privado, para trabalhar ao lado dos governos em prol de causas globais, como interromper e reverter o desmatamento e a degradação florestal até 2030, além de apoiar a aceleração da transição energética em todo o mundo de forma a afastar os combustíveis fósseis dos sistemas energéticos.

A Carta inova ao considerar o GST uma NDC global a fim de “imprimir uma nova dinâmica à ação climática global, alinhando os esforços feitos por empresas, sociedade civil e todos os níveis de governo em uma ação coordenada”, defendendo um mutirão global em torno da realização do GST como uma NDC Global. “Ou melhor, uma GDC – contribuição globalmente determinada”, ainda segundo o documento.

Por meio das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês), os países apresentam, de forma voluntária, suas metas de redução de emissões líquidas de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono e o metano, firmando, perante a comunidade internacional, um compromisso de descarbonização da economia. A regra é que, a cada cinco anos, podendo ocorrer antes desse prazo, as NDCs sejam revisadas com o estabelecimento de metas mais rigorosas.

Participação do setor privado

Na avaliação de Ricardo Assumpção, líder de Sustentabilidade e CSO (Chief Sustainability Officer) da EY para América Latina, o setor privado tem papel central para a concretização dos compromissos assumidos no Global Stocktake, mas os governos precisam garantir essa participação das empresas por meio incentivos ao investimento e regulamentações voltados para a sustentabilidade. São essas ações que colocam efetivamente a sustentabilidade na agenda corporativa, contribuindo para o objetivo maior de promover a transição da economia global para uma realidade de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Na London Climate Action Week (LCAW), realizada em junho, que contou inclusive com a participação do embaixador Corrêa do Lago, além de outras autoridades e especialistas em clima do mundo todo, o evento concluiu que, apesar da turbulência na geopolítica global, o fortalecimento do multilateralismo e da cooperação na agenda climática é fundamental para endereçar satisfatoriamente os desafios das empresas, da sociedade e do planeta.

“A bioeconomia surge como um caminho estratégico em direção a um modelo sustentável, inclusivo e de baixa emissão de carbono. No Brasil, com sua vasta biodiversidade, especialmente na região amazônica, a bioeconomia representa uma oportunidade de gerar valor, riqueza e conservação ambiental”, diz Ricardo, que representou a EY na LCAW.

Há, portanto, necessidade de estimular a implementação de soluções integradas e multissetoriais baseadas na natureza e na agricultura sustentável, o que envolve o uso da terra, conforme também destacou a versão final do Global Stocktake. “Esse assunto receberá especial atenção na COP30, já que a natureza deve fazer parte das estratégias corporativas e das tomadas de decisão. Isso só ocorre por meio da transição dos negócios para incorporar a natureza como solução, promovendo a descarbonização da cadeia de valor de ponta a ponta, modelos de negócios de economia circular, preservação da biodiversidade, entre outras ações”, finaliza o executivo, que destaca, ainda, que essa e outras discussões farão parte da programação da EY durante a COP em um espaço próprio localizado em Belém cujos detalhes serão divulgados em breve.