Educação deve ser híbrida e estimular habilidades que vão além do âmbito técnico, avaliam especialistas
Educadores, empresários e gestores participaram do 7º Fórum LIDE de Educação, que pautou "Upskilling" e "Reskilling" para debater o futuro do setor. Encontro ocorreu virtualmente por meio das plataformas digitais do LIDE.
Gary Bolles disse que educação deve acompanhar dinamismo global. (Foto: Reprodução)
Habilidades multidisciplinares, aprendizagem híbrida, engajamento e estímulo ao talento foram alguns dos assuntos debatidos durante o 7º Fórum LIDE de Educação, nesta quarta-feira (23). O evento pautou os pilares de Reskilling e Upskilling para o desenvolvimento do setor (assista ou ouça abaixo).
Upskilling é o conceito para o aprimoramento profissional, enquanto Reskilling consiste em métodos para a requalificação. São definições utilizadas internacionalmente, também na educação, para desenvolver meios que estimulem habilidades sociocomportamentais de jovens e adultos, inclusive profissionais já formados.
Para Gary Bolles, presidente do hub de Futuro do Trabalho da Singularity University, a educação deve acompanhar o mesmo dinamismo do mundo globalizado, mas manter critérios de qualidade e, ainda, se antecipar ao futuro. Segundo ele, a resolução imediata de problemas é tendência, mas é preciso pensar a longo prazo.
"Ser adaptativo, criativo e ter empatia são características humanas destacáveis. Cada um de nós tem diferentes habilidades. Então, cada um tem que reconhecer o que ama e gosta de fazer, situações que têm cargas emocionais diferentes e que é preciso encontrar uma intersecção para haver equilíbrio".
O psicólogo, pesquisador e professor na Universidade de Ghent, na Bélgica, Filip de Fruyt, disse ser indispensável pensar na realidade global em que profissionais seniores, formados em outras gerações, perdem empregos em razão de novas demandas que ele não é capaz de atender. Para o especialista, o crescimento das organizações depende de um novo mindset.
"Nós queremos que os estudantes de hoje pensem em múltiplas opções, pensem fora da caixa, não somente foquem no desempenho das tarefas. Acredito que os estudantes precisam aprender explorar seus interesses vocacionais no sentido mais amplo e expandir seus conhecimentos e habilidades rotineiramente", defendeu.
Empresa e escola
Reynaldo Gama, CEO da HSM, considerou que os desafios ocasionados pela pandemia são oportunidades para a construção de novas referências. Para ele, desenvolver o futuro do trabalho é pensar no presente da educação, que deve deixar de lado paradigmas, se tornar cada vez mais híbrida e colaborar para capacitar pessoas e não apenas profissionais.
"Softskills e hardskills, habilidades comportamentais versus essenciais. Conversamos muito a respeito disso por estarmos próximos aos executivos da empresa. Eu contrato pelos hardskills e demito pelos softskills (comportamento). Temos olhado cada vez mais habilidades como valores, negociação, trânsito e cooperação", refletiu.
Gama afirmou que a revolução condiz em conviver com novas ideias, com novas realidades para sair da "bolha" e estar aberto a pensamentos diferentes. "A forma híbrida como vivemos atualmente vai mudar os aspectos de trabalho e de educação. Será uma necessidade estar presente em um determinado lugar?", questionou.
"Estamos vivemos o ineditismo e não existe especialista nesse assunto. Penso também ser muito precipitado taxar que viveremos somente no modelo virtual. A escola fundamentalmente ensina o convívio em sociedade, a interdependência e espírito de colaboração".
Reynaldo Gama, CEO da HSM: momento oportuno para novas referências. (Foto: Reprodução)
Para Leonardo Framil, presidente da Accenture na América Latina, as empresas, ao longo do tempo, adaptaram-se às mudanças na digitalização, um ponto chave para o futuro do trabalho. "Mas a indagação mais importante a se fazer é: como as empresas endereçarão a revolução que chega na demanda de skills?", indagou.
"Gap da força de trabalho já é uma realidade. É dramático para a nossa evolução das diferentes indústria e competitividade. A maior parte dos empregadores está mais disposta a contratar do que capacitar. Isso traz efeitos negativos. O gap continua e impacta em alguma indústria".
Framil sugeriu quatro caminhos prioritários: visualizar trajetórias, pois preparar tem de ser algo continuo; expandir acesso ao treinamento dentro e fora do trabalho; experimentar novas habilidades e funções, uma vez que o aprendizado também vem de contextos não educacionais; e empoderar, dar possibilidade de criar comunidades, caminhos para desaprender velhos hábitos.
Pedro Pontes, diretor Executivo da Accenture Brasil para Educação, defendeu que métodos tradicionais sejam rompidos para que os alunos de hoje "experimentem" o aprendizado. "Será que temos métodos de avaliação mais adequados à realidade? Será que não podemos aprender a novas formas de mensurar o aprendizado obtido?".
André Esteves, sócio do BTG Pactual e fundador do Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli), complementou o debate defendo o acesso e a integração ao universo digital para tornar a educação qualitativa ainda mais democrática. Para o executivo, é indispensável que a iniciativa privada lidere projetos que revolucionem conceitos e sejam inclusivos.
"A revolução digital está impregnada na nossa cultura. Precisamos ter mão de obra tecnológica de classe mundial, até mesmo porque a revolução digital é muito mais ampla do que conseguimos qualificar", disse.
André Esteves, sócio do BTG Pactual, falou sobre digitalização. (Foto: Reprodução)
Aprendizagem contínua
Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna e também anfitriã do evento, avaliou que o mundo vive uma "emergência de requalificação". Para ela, o atual modelo educacional está ultrapassado, pois condiciona as pessoas a cumprirem uma linha do tempo: escola, depois desenvolver carreira e, ao final, encerrar a vida na aposentadoria.
"Se a escola precisa preparar crianças para o século 21, ela precisa mudar radicalmente. O futuro não é um futuro simplesmente digital. Está relacionado a era da superaprendizagem contínua, frequente e rápida, ao longo de toda a vida. Se a educação já era importante, no século 21 será central para sociedades e para que o mundo dê certo", avaliou.
A presidente do Instituto Ayrton Senna considerou que as empresas vão operar, também, como uma "escola do futuro". Viviane disse que a adaptação aos atuais desafios vão fazer com que as pessoas entrem em uma jornada de aprendizado ao longo da vida, semelhante ao consumo de conteúdo que um aplicativo como a Netflix entrega em volume.
"Fazendo uma analogia, teremos que funcionar como se fôssemos um aplicativo móvel, em que as habilidades passassem a ter atualizações periódicas de skills. Isso vai significar em termos de trabalho, que as empresas saiam do modelo de capacitação anual, para um modelo contínuo de um dois meses ou mesmo diário de requalificação".
Viviane Senna ressaltou a importância em priorizar a educação. (Foto: Reprodução)
O secretário de Educação do Estado de São Paulo, Rossieli Soares, disse que a educação básica deve ser tratada como sinônimo de inovação, justamente pelas possibilidades de criar o novo. Ele também defendeu a parceria com a iniciativa privada para liderar novos projetos e permitir o acesso à educação de qualidade.
"O Brasil é um manancial do futebol porque as crianças começam a treinar desde cedo. O mesmo precisa acontecer na educação. Cadê os campos de futebol de inovação desse país? Cadê os incentivos para que as crianças se desenvolvam desde cedo? Se não transformarmos esse cenário, estagnaremos", refletiu.
Mário Anseloni, presidente do LIDE Educação e curador do evento, ressaltou que o debate do tema é fundamental para delinear o futuro do país. "A pandemia passará, mas deixará seus rastros. Uma delas, e talvez a mais importante, é a própria qualidade da educação e a eficiência da aprendizagem", disse.
Mário Anseloni, presidente do LIDE Educação e curador do evento. (Foto: Reprodução)
Celia Pompeia, membro do Comitê de Gestão do LIDE e vice-presidente executiva do Grupo Doria, considerou os impactos da pandemia no setor educacional brasileiro. Para ela, é necessário que a iniciativa privada seja protagonista no processo de suprir eventuais defasagens ocasionadas pelas interrupções do ano letivo entre crianças e adolescentes.
"O que passamos nas nossas empresas e a adaptação pela qual passamos foi um desafio enorme. Imagine, então, na educação, que não tinha profissionais e estudantes preparados para a mudança radical de rotina. A escola não pode parar e nós precisamos liderar esse gap para recuperar esse tempo perdido".