Capital humano pode atenuar desincentivo à eficiência no setor público
Estudo encontrou relação entre qualificação profissional e boas práticas gerenciais em escolas.
Capital humano pode atenuar desincentivo à eficiência no setor público. (Foto: Pixabay)
O conjunto de fatores que, nas organizações públicas, inibe a adoção de práticas administrativas mais eficientes pode ser parcialmente compensado por uma qualificação maior do seu corpo de profissionais. Essa associação entre capital humano e moderação do desincentivo à boa gestão foi encontrada num estudo com escolas brasileiras de ensino médio.
Os pesquisadores do Insper Sérgio Lazzarini e Sandro Cabral, com Thomaz Teodorovicz (Harvard) e Leandro Nardi (HEC Paris), trabalharam com dados do Censo Escolar e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) dos anos de 2007 e 2008 para investigar três hipóteses acerca da qualidade da gestão num universo de 13.939 escolas, sendo 11.058 públicas.
Em primeiro lugar, o estudo confirmou pela análise econométrica que escolas públicas, à diferença das privadas, estão associadas à menor propensão a adotar práticas superiores de gestão interna e também de engajamento com o público externo diretamente afetado pelas atividades escolares, como os pais e a comunidade local.
Variáveis para exprimir práticas gerenciais e padrões de engajamento foram elaboradas a partir das respostas dos estudantes no questionário do Enem sobre suas percepções acerca de como funcionam aspectos do cotidiano escolar, como planejamento, organização de horários e turmas, solução de conflitos, promoção de feiras, palestras e excursões e capacidade de avaliar o aprendizado.
A segunda hipótese confirmada pelos pesquisadores foi a de que o acesso a professores e gestores mais bem instruídos, bem como a mais e melhores recursos tecnológicos, está relacionado à adoção de práticas superiores de gestão interna e de engajamento externo em todo o universo de escolas investigado.
A qualificação dos profissionais foi apurada com base na proporção de professores com diploma universitário na escola, e a dotação tecnológica das unidades foi aferida pelo número de computadores dividido pelo número de funcionários, informações dos censos escolares.
A terceira e última hipótese avaliada no estudo foi a seguinte: considerando apenas o conjunto das escolas públicas, se a maior dotação de capital humano e de recursos tecnológicos se associa a uma tendência reduzida à não adoção das práticas superiores de gestão e engajamento. A resposta encontrada na análise foi positiva apenas para o caso dos recursos humanos — a infraestrutura tecnológica não se relacionou com menor propensão a dispensar boas práticas.
As principais conclusões de Lazzarini, Cabral, Teodorovicz e Nardi resistiram a testes suplementares, feitos por exemplo para comparar escolas cujos alunos detêm características socioeconômicas semelhantes, sugerindo haver um caminho para a melhoria das práticas gerenciais nas escolas públicas mesmo levando em conta a falta de incentivos diretos — como distinções salariais e liberdade de contratar — constitutiva desse modelo de organização.
Exercícios dos autores e uma série de outros estudos coincidem em concluir que práticas administrativas superiores estão diretamente relacionadas à melhor aprendizagem dos alunos.
O estudo mostra, portanto, que uma parte substancial da diferença de desempenho entre escolas públicas e privadas se deve à menor adoção, por parte das públicas, de práticas gerenciais como planejamento e acompanhamento de resultados, além do baixo engajamento com a comunidade externa.
O setor público, de acordo com os achados da pesquisa, não está condenado à ineficiência, desde que implemente práticas que sabidamente produzem maior desempenho.