Powell sugere corte de juros nos Estados Unidos e anima mercado
O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, não cravou a retomada do corte de juros nos Estados Unidos, mas seu discurso nesta sexta-feira, 22, no simpósio de Jackson Hole foi lido em Wall Street como uma porta aberta para a flexibilização monetária. Tanto que bancos como o Santander, Deutsche Bank e Barclays revisaram os seus cenários para uma redução nas taxas em setembro, e não apenas em dezembro, como previam anteriormente.
As falas de Powell impulsionaram os índices acionários e deram fôlego ao real frente ao dólar. Em Nova York, o Dow Jones terminou o dia com alta de 1,89%, enquanto o S&P avançou 1,52% e o Nasdaq, 1,88%. Já o Ibovespa, principal referência do mercado no Brasil, registrou ganho de 2,57% e giro financeiro acima de R$ 20 bilhões. Nenhuma ação fechou em baixa. O dólar recuou 0,97%, para R$ 5,42.
"Com a política (de juros) em território restritivo, a perspectiva básica e o equilíbrio cambiante dos riscos podem justificar o ajuste de nossa postura de política", disse Powell, em seu último discurso no tradicional simpósio de Jackson Hole; ele deixará o cargo em 2026.
O chefe do BC americano dedicou parte do discurso à deterioração do mercado de trabalho, tema central do evento deste ano. Segundo ele, os riscos de queda no emprego estão aumentando. "E, se esses riscos se materializarem, podem fazê-lo rapidamente na forma de demissões em massa e aumento do desemprego."
As declarações acontecem em meio à pressão do presidente Donald Trump para a redução das taxas de juros - que vão de 4,25% a 4,5% ao ano desde dezembro. Trump já se referiu a Powell como "estúpido". Ontem, ele disse que demitirá Lisa Cook, diretora do Fed, se ela não renunciar ao cargo. Trump se baseia em denúncia feita por um aliado seu, William Pulte, diretor da Agência Federal de Financiamento da Habitação, de que Lisa teria cometido fraude com o aluguel de imóveis - o que ela rebate.
Previsão
As chances de o Fed cortar os juros em setembro saltaram a cerca de 90% após as falas de Powell, conforme levantamento da plataforma americana CME Group. "Agora, é essencialmente 100% (as chances de um corte em setembro) após o discurso de Powell", disse o presidente da Queens College e conselheiro econômico-chefe da Allianz, Mohamed El-Erian.
Para o economista-chefe do Santander nos EUA, Stephen Stanley, Powell fez uma reviravolta de quase 180 graus em seu discurso, influenciado pelo fraco relatório sobre o mercado de trabalho nos EUA em julho. "Para meu ouvido experiente, a fala soa como um sinal bastante definitivo de que Powell pretende pressionar por um afrouxamento na reunião de setembro", disse Stanley, que agora vê o Fed cortando os juros em 0,25 ponto porcentual nas reuniões de setembro e de dezembro.
Outros dados que serão monitorados com atenção por Wall Street antes da reunião de setembro são a próxima leitura do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) de julho, que será conhecida na próxima semana e é a medida de inflação preferida do Fed, e o índice de preços ao consumidor (CPI) de agosto.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.