Com tensão externa, Ibovespa inicia semana em baixa de 0,41%, aos 136,5 mil

As hostilidades em andamento no Oriente Médio - que envolveram nesta segunda-feira, 23, ataques, ainda que telegrafados pelo Irã, a bases norte-americanas no Catar - mantiveram o apetite por risco na defensiva nesta abertura de semana. Aqui, no pior momento, o Ibovespa parecia a caminho da faixa dos 135 mil pontos em fechamento pela primeira vez desde o último dia 9.

Ao fim, o índice marcava 136.550,50 pontos, em baixa moderada a 0,41%, com giro a R$ 20,5 bilhões na sessão. Entre mínima e máxima do dia, oscilou dos 135.835,25 aos 137.130,13 pontos, saindo de abertura aos 137.115,66. No mês, recua 0,35%, ainda acumulando ganho de 13,52% no ano.

As Forças Armadas do Irã confirmaram ataque à base americana de Al-Udeid, no Catar, alertando que violações à sua "integridade territorial" terão resposta, em comunicado divulgado no Telegram no período da tarde (horário de Brasília). Por sua vez, o governo do Catar afirmou que se reserva o direito de "responder diretamente, de maneira proporcional à natureza e à gravidade dessa agressão descarada".

Contudo, relato do The New York Times aponta que o Irã coordenou os ataques à base aérea norte-americana no Catar com autoridades catarianas: avisou com antecedência que os ataques estavam chegando para minimizar as baixas, de acordo com três autoridades iranianas familiarizadas com os planos. As mesmas autoridades disseram que o Irã precisava simbolicamente revidar os EUA, mas, ao mesmo tempo, agir de forma que permitisse a todos os lados uma saída negociada.

Na primeira declaração pública após os ataques a bases americanas no Catar, o Líder Supremo do Irã, Ali Khamenei, afirmou que o país não aceitará ser alvo de ofensivas estrangeiras. "Não agredimos ninguém. E não aceitaremos nenhum tipo de agressão de ninguém, sob nenhuma circunstância", afirmou em publicação no X.

Apesar das tensões sem um desfecho previsível, os índices de ações subiram em Nova York, com S&P 500 (+0,96%) à frente na sessão, e os preços do petróleo Brent e WTI recuaram mais de 6,5%, devolvendo parte dos prêmios de risco que haviam se acumulado na commodity desde que Israel iniciou, na madrugada do último dia 13, ataques ao Irã - situação geopolítica que se tornou ainda mais sensível com o envolvimento direto dos Estados Unidos, neste sábado, em ataques a instalações associadas ao programa nuclear do Irã, em ação inédita no país envolvendo os superbombardeiros B-2 Spirit.

Ainda assim, apesar da recomendação feita pelo Parlamento iraniano, o Estreito de Ormuz, por onde passam 20% do fluxo global de petróleo, permanece aberto, o que reforça a expectativa de que o Irã esteja, de fato, interessado em uma trégua negociada, e não no acirramento de tensões. Ali perto, no Bahrein, está a frota naval americana que assegura o tráfego de petroleiros pelo Golfo Pérsico.

"Todos os olhos estão voltados para a extensão da retaliação do Irã", diz Eduardo Moutinho, analista de mercado do Ebury. De certa forma, acrescenta o analista, os investidores se agarram, no momento, à expectativa de que venha a prevalecer uma distensão entre as partes em disputa, apegados à constatação de que a reação do Irã se mostra, até aqui, relativamente limitada - e, também, pela indicação da Casa Branca de que o ataque do fim de semana foi uma ação única, que não se repetirá, "e não o início de uma guerra total".

Como enfatiza Moutinho, os mercados não têm como saber o que, de fato, ocorrerá adiante. Mas é certo que uma eventual escalada do conflito seria recebida, pelos investidores, com outro "surto" de aversão a risco, acrescenta o analista.

"A grande questão é a capacidade real das forças de segurança iranianas de fechar o estreito de Ormuz", diz Igor Lucena, economista e doutor em relações internacionais, CEO da Amero Consulting. "Estamos falando de uma região por onde passam entre 20 e 24 milhões de barris de petróleo por dia. É claro que países como a Arábia Saudita ainda contam com gasodutos e oleodutos que possibilitam o escoamento de parte dessa produção, mas esse volume não deve ultrapassar 4 a 5 milhões de barris. Ou seja, está longe de ser suficiente."

Segundo ele, há outras questões importantes em aberto relacionadas ao conflito, como o impacto sobre o custo dos fretes em escala global - principalmente no Oriente Médio -, bem como sobre seguros e operações financeiras associadas, com potencial para afetar o comércio internacional.

Na B3, com queda que chegou a superar 7% nos preços do petróleo durante a sessão, ambas as ações de Petrobras fecharam em baixa (ON -2,81%, PN -2,50%). Por outro lado, a principal ação da carteira, Vale ON, subiu 1,26%, a R$ 50,55 (na máxima do dia no fechamento, exceção entre as blue chips a conseguir mostrar ganho nesta segunda-feira.

Outro segmento de peso, o financeiro, registrou em geral perdas em torno ou pouco acima de 1% durante a sessão, com destaque negativo no fechamento para Santander (Unit -1,19%) e Banco do Brasil (ON -1,22%).

Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque para os frigoríficos BRF (+4,67%) e Marfrig (+4,46%), à frente de RD Saúde (+3,64%). No lado oposto, Cosan (-4,67%), Vamos (-4,24%) e Raízen (-4,07%).