Programa eleva habilidades socioemocionais em áreas menos violentas

Estudo com crianças em escolas do Rio de Janeiro não detectou impacto onde há mais homicídios.

Mais de quarenta escolas do ensino fundamental participaram do experimento. (Foto: Reprodução/Agência Brasil)


A capacidade de distinguir e nomear emoções e a de pensar antes de reagir foram impulsionadas em crianças do Rio de Janeiro após as escolas em que estudam administrarem um programa para fomentar suas habilidades socioemocionais. Esse efeito, entretanto, só foi detectado em unidades situadas em regiões menos violentas do município.

A literatura especializada tem confirmado a hipótese de que a aquisição de habilidades não cognitivas, ou socioemocionais, pelas crianças também contribui para melhores resultados em sua trajetória escolar e profissional ao longo da vida. A Base Nacional Comum Curricular, de 2017, reconhece esse fato ao elencar valores como empatia, cooperação e autoconhecimento entre as competências gerais da educação básica.

A pesquisadora do Insper Cristine Pinto, com Dana McCoy e Emily Hanno, da Universidade Harvard, e Vladimir Ponczek, Gabriela Fonseca e Natália Marchi, da Fundação Getulio Vargas, avaliaram o impacto de um programa, chamado Compasso, que, durante um ano letivo, procurou instruir alunos de escolas públicas do Rio de Janeiro sobre aspectos importantes das habilidades socioemocionais.

Quarenta e cinco pares de escolas do ensino fundamental, cada par contendo duas com características sociodemográficas semelhantes, participaram do experimento. Por sorteio, uma de cada par aplicou o programa de habilidades socioemocionais, enquanto a outra manteve o currículo tradicional, servindo de base de comparação para o estudo.

As atividades do programa, ocorridas nas turmas do terceiro e do quinto anos, objetivaram aprimorar habilidades como o reconhecimento de emoções pela expressão facial, a identificação de reações em situações conflitivas, a capacidade de resposta diligente a estímulos súbitos e a memorização de informações que acabaram de ser ouvidas.

A pesquisa não encontrou efeito detectável de incremento de habilidades socioemocionais, na comparação com as unidades que não receberam o Programa Compasso, no conjunto total das escolas estudadas. Ao selecionar um subgrupo de escolas que ficavam em áreas com incidência de homicídios relativamente menor, porém, a análise verificou impacto positivo em duas habilidades: a de reconhecer adequadamente emoções e a de reagir controladamente a situações surpreendentes.

Leia o estudo:
Um Compasso Para Aprender: A Randomized Trial of a Social-Emotional Learning Program in Homicide-Affected Communities in Brazil

 

 

Fonte: Por Insper Conhecimento