Como funciona o sistema de defesa de Israel?

Tecnologia para segurança interna vira negócio para exportação no país do Oriente Médio, onde a CNI realiza imersão de inovação que visitou a Indústria Aeroespacial de Israel (IAI).

Linha de montagem de veículo aéreo não tripulado para operações de longa duração de altitude média, produzido pela Indústria Aeroespacial de Israel (IAI)Linha de montagem de veículo aéreo não tripulado para operações de longa duração de altitude média, produzido pela Indústria Aeroespacial de Israel (IAI) 

 

Por uma questão estritamente de necessidade e sobrevivência, Israel investiu pesado em segurança e na defesa de seu território. A inovação foi a principal aliada do sucesso do país nessa empreitada. O resultado é que a tecnologia empregada não só se converteu em sistemas de defesa aérea, terrestre, naval e cibernética ultramodernos, como levou o país a exportar soluções e produtos aeroespaciais para o mundo afora.

Grande parte do sucesso se deve a dupla de empresas estatais IAI (Indústria Aeroespacial de Israel) e Rafael Advanced Defense Systems, líderes no setor de defesa, que se destacam pelo investimento em ciência, tecnologia e inovação (CT&I) e pelos sistemas de mísseis, caças e radares antimísseis. A vizinhança com países com quem não mantém relações amistosas levou Israel a ter uma obsessão por segurança.

De acordo com um dos vice-presidentes da IAI, Udi Sharon, 90% dos mísseis disparados contra o território israelense são interceptados pelo sistema de radares. Exercendo uma liderança global no setor de defesa aeroespacial, a IAI está em operação há 65 anos e mantém suas operações cercadas de segurança e segredos operacionais, em uma ampla área anexada ao principal aeroporto do país, o Bem Gurion, em Tel Aviv.

Como funciona o impressionante sistema de defesa de Israel?

Só em vendas para o exterior a IAI arrecadou ao longo de 2021 uma cifra de US$ 4,5 bilhões e já espera aumentos significativos para este ano, entre outros fatores em razão da guerra na Ucrânia. “Toda a tecnologia que usamos internamente e exportamos foi obtida a partir de muita pesquisa, desenvolvimento e inovação. Sempre estamos um passo à frente. É uma questão de necessidade”, afirma Udi Sharon.

Os carros-chefe na IAI são o desenvolvimento de radares, a aviação militar (com produção de caças e radares), montagem de aeronaves comerciais, segurança cibernética e sistemas espaciais. “Já vendemos mais de 200 radares de missão, do mesmo tipo dos que estão em todas as nossas fronteiras protegendo o território de Israel”.

O IAI foi um dos locais visitados esta semana pelo grupo de mais de 40 empresários, gestores de empresas, pesquisadores e autoridades que participaram da 25ª edição do Programa de Imersões em Ecossistemas de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que acontece entre os dias 12 e 16 de junho nas cidades de Tel Aviv, Rehovot, Haifa e Jerusalém, em Israel.

Gilberto Peralta, presidente da Airbus Brasil, ao lado da diretora de Inovação da CNI, Gianna Sagazio; do diretor do SESI de Mato Grosso, Alexandre Serafim; e do presidente da FIEMT, Gustavo de Oliveira, na imersão da CNI em Israel

Estrutura industrial permanente

Participante da imersão, o presidente da Airbus Brasil, Gilberto Peralta, destaca que Israel tem muito a ensinar ao Brasil no setor aeroespacial, especialmente quando o assunto é defesa. Segundo ele, a visita ao IAI demonstra claramente que os israelenses mantêm uma estrutura industrial operativa 100% permanente, o que possibilita o deslocamento de pessoal e de linhas de produção para atividades militares quando há conflitos, a partir da interrupção da produção de equipamentos civis.


“O intuito deles é manter uma mão de obra sempre treinada, especializada e disponível. Por isso, mantém o trabalho civil, que, não só permite uma operação ininterrupta, como também gera receitas para a manutenção e ampliação de um constante investimento em defesa”, pontua Peralta.


“Esse é um bom exemplo para a indústria brasileira. É preciso haver um orçamento mínimo e contínuo para investir em inovação. Isso é essencial. Israel enxerga a importância da inovação em todas as áreas e, especificamente na área de defesa, consegue investir constantemente em pesquisas e melhorar satélites e foguetes, por exemplo”, acrescenta.

Para o head de Indústria 4.0 da Embraer, Gléverson Lemos, que também participa da imersão da CNI, a condição política de Israel impulsiona o desenvolvimento de tecnologias no segmento de defesa. Ele avalia que há espaço para cooperações e parcerias com o Brasil nas áreas de defesa e segurança, como segurança cibernética e sistemas aeroespaciais.

“A cultura da inovação de Israel inspira a indústria aeroespacial a partir do seu pensamento global, que é buscar soluções e tecnologias que, além de atender necessidades brasileiras, podem gerar interesse e impacto global", destaca Lemos.

Gléverson Lemos, head de Indústria 4.0 da Embraer, ao lado de Valentine Quintas, especialista em Inovação Aberta do Grupo Boticário, na imersão da CNI em Israel

Linha industrial de defesa

Aliada a IAI, a Rafael participa da estruturação e montagem da linha industrial de segurança e defesa. Destaca-se na produção de mísseis e equipamentos de ataques aéreos, atuando nos setores aéreo e espacial, terrestre, comunicações, segurança cibernética e inteligência, além de outras tecnologias aplicadas para além da indústria de defesa.

Para além dos mísseis, radares e equipamentos bélicos, Israel tem investido na produção de aeronaves executivas de médio porte e também virou líder mundial na transformação de aviões de passageiros em cargueiros – tudo feito nos hangares da IAI. Mais de 300 unidades da aeronave com capacidade para entre 18 e 20 pessoas foram exportadas. Cada avião custa entre 19 e 25 milhões de dólares.

Algumas empresas brasileiras mantêm parcecris com as gigantes estatais israeleneses da aérea de defesa. É o caso da Stefanini, que integra a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), que criou um joint venture com a Rafael focada em inovação tecnológica. Atualmente, a empresa trabalha em três grandes áreas: segurança cibernética; segurança & Inteligência; e comunicação para missão crítica.