Preocupação dos empresários com custo de mão de obra cresce

Aumento do rendimento do trabalho observado a partir de 2023 se deve a um efeito de reposição de perdas observadas no período da pandemia.

josh-olalde-X1P1_EDNnok-unsplashAumento do rendimento do trabalho se deve a um efeito de reposição de perdas observadas no período da pandemia. (Foto: Unsplash)

A preocupação com a evolução dos salários, que entrou no radar dos analistas na virada do ano, também registrou um importante crescimento entre empresários dos setores da construção e do comércio primeiro trimestre de 2024, conforme apontam as Sondagens do FGV IBRE.

No caso da construção, as assinalações de empresários do custo da mão de obra como fator limitativo de seus negócios estavam em março 6 pontos percentuais (pp) acima da média histórica. No caso do comércio, a diferença é de 5 (pp) a mais na mesma comparação.

Aloisio Campelo, superintendente de Estatísticas do FGV IBRE, lembra que parte do aumento do rendimento do trabalho observado a partir de 2023 se deve a um efeito de reposição de perdas observadas no período da pandemia.

“O que parece um descompasso com a tendência da atividade, e mesmo frente à política monetária, reflete o fato de os salários terem ficado parados durante muito tempo”, diz. “Se observarmos pela PNAD-C do IBGE, a taxa de crescimento do rendimento real interanual do trabalhador do comércio estava negativa em 7% no quarto trimestre de 2021, em 2022 zerou, e em 2023 ficou em 5,7%”, descreve.

Campelo ainda afirma que a desaceleração da atividade brasileira desde o segundo semestre de 2023 também contribui para essa mudança de percepção.

“Em um primeiro momento de economia aquecida, o empresário tende a achar que a valorização dos salários não é tão relevante, pois ele consegue garantir uma boa margem de lucro. Quando o ciclo perde fôlego, entretanto, ele passa a reavaliar esse cenário”, descreve, indicando uma possível defasagem nessa reação.

De acordo à Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do IBGE, a atividade do comércio varejista apresentou resultados decrescentes na ponta. Depois de um mês de janeiro com alta de 2,5% em relação a dezembro, o crescimento foi perdendo fôlego, para 1% em fevereiro e estabilização em março, com queda de -0,3% do varejo ampliado (que inclui atividades como de veículos, material de construção e produtos alimentícios).

No caso da construção, destacado anteriormente por Ana Maria Castelo em conversa para o Blog (leia aqui), André Braz, coordenador de Índices de Preços do FGV IBRE, destaca que, no acumulado de 12 meses até abril, o custo da mão de obra registra alta de 6,84%, contra 0,87% de materiais, equipamentos e serviços.

Campelo observa, entretanto, que no acumulado desde o início da pandemia, em 2020, a alta acumulada pelos insumos da construção é bem maior: de 59% -alta concentrada até agosto de 2022 -, conta 33% da mão de obra. Na construção, a tendência é de que a pressão dos salários ainda se mantenha, diante da dificuldade que os empresários demonstram em encontrar mão de obra qualificada.

“Há um mercado aquecido por obras de infraestrutura de governos municipais em ano de eleição, o PAC e, no campo imobiliário, o Minha Casa Minha Vida”, acrescenta.

Pelo lado do comércio, essa resistência a princípio parece menor, mas ainda é preciso observar as medidas de estímulo ao consumo – como novas modalidades de crédito – que o governo sinaliza operar, e sua resposta pelo consumidor.