Ricardo Cappelli, ABDI: 'O protecionismo não é uma causa, é uma resposta ao liberalismo que aprofundou as desigualdades entre povos'

Os desafios e soluções sobre o tema foram discutidos nesta sexta-feira (25), no segundo dia do B20 Summit Brasil, em São Paulo.

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Segundo dia do B20 Summit Brasil debateu o papel do comércio internaciona  para o crescimento econômico. (Foto: Divulgação/CNI)

O comércio internacional é fundamental para o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável, e precisa ser usado para aumentar a capacidade de produção de alimentos de forma saudável de forma que atenda a uma população que cresce cada vez mais. Os desafios e soluções sobre o tema foram discutidos nesta sexta-feira (25), no segundo dia do B20 Summit Brasil, em São Paulo. O evento reúne 1,3 mil pessoas de todo o mundo.

O objetivo em comum é transformar os atuais sistemas alimentares para que sejam mais resilientes, inclusivos e em harmonia com o meio ambiente, e que contribuam com a segurança alimentar global. Segundo o relatório Growing Better, da The Food and Land Use Coalition (FOLU, serão necessários de US$ 300 a 350 bilhões por ano até 2030 para transformar esses sistemas.

Mais cooperação além-fronteiras para alcançar o equilíbrio

Para o representante regional para a América Latina e Caribe da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Mario Lubetkin, é preciso levar a sério a aliança contra a fome e a pobreza para resolver os atuais problemas globais, e isso deve ser feito em conjunto. “Globalmente temos o relatório global que mostra que no mundo há mais de 700 milhões de pessoas com fome, e não estamos mudando as ações. Não podemos simplesmente trazer uma solução, mas combinar soluções entre todos - sociedade, civil, setor privado, governo”, alertou Lubetkin.

A diretora de Comércio e Agricultura, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Marion Jansen, concorda que é necessário que os países atuem em uma cooperação além-fronteira para encontrar o equilíbrio entre alimentação básica e saudável da população, aumento da produtividade e proteção do meio ambiente. “Não há resposta fácil e precisamos de equilíbrio, precisamos ser melhores do que jamais fomos para lidar juntos com esses desafios e encontrar um consenso”, disse a diretora.

Por que o protecionismo tem crescido no mundo?

O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli, lamentou que ao mesmo tempo em que o mundo não consegue resolver problemas como a fome e a emergência climática, o protecionismo tem crescido cada vez mais e constatado que “a humanidade está falhando no objetivo de desenvolvimento igualitário e sustentável que responda os anseios da população mundial”. Segundo Cappelli, mais do que debater os efeitos do protecionismo é necessário questionar o motivo do protecionismo.

Protecionismo é uma política econômica para proteger a economia de um país, limitando ou proibindo a importação de produtos e dificultando a concorrência estrangeira.

“O protecionismo não é uma causa, é uma resposta ao liberalismo que aprofundou as desigualdades entre povos e nações e não só não resolveu a fome como aprofundou o problema. Vemos pouca sensibilidade com a fome e a emergência do clima”, lamentou Cappelli.

Para a diretora da OCDE, no que diz respeito às regulamentações ambientais dos países, o mundo também não entendeu ainda como fazer de forma que não traga ruptura ao comércio. “Precisamos de um sistema que tenha diálogo e para a agricultura isso é difícil. Nós precisamos de mais discussões entre fronteiras pra que possamos fazer com que isso funcione e tenhamos algo que proteja o meio ambiente e mantenha o comércio”, ponderou Marion Jansen.

Compartilhar conhecimento pode melhorar o cenário atual

A União Africana tem atuado para promover o os pactos agrícolas africanos além-fronteira não apenas para o consumo no continente, mas em busca de algo maior, e quando isso avançar a expertise poderá ser compartilhada, segundo a presidente do Conselho, Corporação de Desenvolvimento Industrial (IDC) da África do Sul, Busi Mabuza.

Para a líder empresarial, uma das respostas a esses desafios atuais dos sistemas alimentares é criar as plataformas de tecnologia e com disponibilidade para pequenas e médias empresas, de preferência gratuitas, com padrões e diretrizes. “Isso poderia mudar totalmente o jogo para o nosso continente, se tornaria mais palpável”, explicou.