Líderes são os mais denunciados por práticas abusivas
Lideranças e gestores somam 64% das denúncias, sendo o assédio moral e a agressão as práticas mais relatadas, registrando 34% das denúncias.
Lideranças e gestores somam 64% das denúncias, sendo o assédio moral e a agressão as práticas mais relatadas, registrando 34% das denúncias. (Foto: Unsplash)
A maior e mais tradicional pesquisa sobre denúncias corporativas na América Latina, realizada anualmente pela Aliant, empresa especializada em soluções completas para Ética, Compliance e ESG, apresentou um relevante aumento de 23,65% nos registros em 2023, saltando de 152 mil em 2022 para 188 mil relatos qualificados neste último ano.
O crescimento é o resultado da maior conscientização do público em relação a comportamentos que não são mais aceitos; a multiplicação de canais nas empresas, seja por iniciativa própria ou por novas legislações; e a ampliação da confiança na eficácia dos canais.
A pesquisa foi baseada em 710 grupos empresariais de diferentes portes e segmentos. Em relação aos dados históricos, a Aliant registrou de 2019 a 2023 o volume de 665 mil relatos qualificáveis para a pesquisa.
Na edição deste ano, as lideranças e os gestores estão no centro das atenções, algo esperado, considerando o funcionamento e o objetivo dos canais de denúncias. Além de representar 64% das denúncias, ou seja, 120 mil relatos, os líderes também revelam um percentual expressivo em relação ao principal motivo pelo qual são denunciados: o relacionamento interpessoal.
Na pesquisa, as denúncias de relacionamento interpessoal representam 48%, ou seja, 90 mil registros. Desse total, 58%, ou seja, 52,2 mil relatos são somente contra o líder. Dentro desta tipologia, as práticas abusivas, ou seja, aquelas que envolvem assédio moral e agressão física, representam 44% das denúncias (39,6 mil). Desse número, 72% são somente contra o líder, ou seja, 28,4 mil registros.
“Esses dados demonstram a prevalência de problemas em relação às práticas abusivas no contexto das lideranças, destacando a necessidade de abordagens mais eficazes para prevenir e resolver tais questões no ambiente de trabalho”, explica Fernando Fleider, CEO da ICTS, controladora da Aliant.
Apesar da proporção de uma em cada três denúncias sobre líderes ser procedente, o que levanta questões sobre a qualidade da liderança e das relações interpessoais no ambiente de trabalho, a tendência de aplicação de feedbacks e orientação ocorre em 41% dos casos, enquanto a rescisão contratual é aplicada em 0,31% das situações. “Há uma tendência das empresas em preferir essas abordagens construtivas ao invés de medidas punitivas diretas, como a demissão, mas esta tendência pode vir a ser pressionada por novas gerações, que exigem posturas mais combativas contra o assediador”, esclarece Fleider.
Ainda considerando a relação líder e liderado, o relato anônimo neste caso também apresenta forte indicativo de preocupações com privacidade e retaliação. Quando analisados os números de denúncias do líder, o anonimato ocorre em 72,18% dos registros, enquanto nas denúncias em geral é de 63,67%.
Além disso, o tempo médio de resolução de denúncias sobre lideranças é sempre maior, com 55 dias, enquanto o tempo médio geral é de 47 dias. Isso sugere que casos envolvendo lideranças podem ser mais complexos ou exigir investigações mais detalhadas. De modo geral, o tempo de resolução em 2023 foi reduzido de 54 dias em 2022 para 47 dias, refletindo numa melhoria significativa na eficiência operacional dos canais de denúncia, principalmente pelo uso da Inteligência Artificial, que passou a ser adotada pela Aliant para ajudar na identificação e na qualificação dos relatos.