Gestão da agenda de sustentabilidade está entre os riscos para as telcos em 2024
Quase todas as empresas reportam Escopos 1 e 2, mas têm dificuldade no Escopo 3, que inclui cadeias de suprimentos, data center e emissões dos serviços oferecidos por seus clientes.
Quase todas as empresas reportam Escopos 1 e 2, mas têm dificuldade no Escopo 3, que inclui cadeias de suprimentos, data center e emissões dos serviços oferecidos por seus clientes, de acordo com estudo global da EY sobre o setor de telecomunicações. (Foto: Freepik)
A gestão inadequada da agenda de sustentabilidade está entre os dez principais riscos das operadoras de telecomunicações em 2024, de acordo com a edição mais recente do estudo global da EY voltado para esse setor. O principal motivo para isso está na qualidade dos reportes, que não aumentou significativamente nos últimos dois anos apesar da expansão considerável das divulgações de sustentabilidade. O Brasil tornou-se recentemente o primeiro país do mundo a trazer as normas do ISSB (International Sustainability Standards Board) para seu arcabouço regulatório, por meio da Resolução CVM (Comissão de Valores Mobiliários) 193 aplicável às companhias abertas, securitizadoras e fundos de investimentos.
A maior dificuldade das telcos está no reporte do chamado Escopo 3, o que inclui cadeia de suprimentos, data center e serviços oferecidos pelos clientes. Há poucas divulgações sobre essas emissões – ao contrário daquelas dos Escopos 1 e 2, cujo trabalho está avançado, com quase todas as operadoras reportando. As empresas, independentemente do seu setor de atuação, estão enfrentando dificuldades para reduzir as emissões de gases de efeito estufa do Escopo 3, que são aquelas que dependem da mobilização de terceiros, como a cadeia de suprimentos.
Essa percepção, que consta no estudo “Sustainable Value Study”, apresentado pela EY na COP28, foi obtida com base nas respostas de 520 CSOs (Chief Sustainability Officers) provenientes de dez indústrias em 23 países, entrevistados entre agosto e outubro do ano passado. As empresas que já publicaram análises do Escopo 3 reconhecem que essas emissões podem representar em média 75% do total gerado por suas operações, o que demonstra sua relevância, segundo relatório do CDP (Carbon Disclosure Project).
Net zero
A emissão líquida zero de carbono tem sido buscada pelas organizações. No entanto, mais de quatro em cada dez empresas de telecomunicações e tecnologia (43%) não reportam uma estratégia específica de net zero, um plano de transição ou uma estratégia de descarbonização.
O motivo para isso está em uma combinação de baixa priorização da ação climática e alta complexidade interna. Estudo da EY revelou que 46% das telcos consideram a sustentabilidade ao alocar capital, mas não atribuem peso suficiente a ela para garantir o financiamento necessário. Os executivos de telecomunicações têm dificuldade na tomada de decisões em torno de iniciativas voltadas às mudanças climáticas em geral. Quatro em cada dez relatam dificuldade de obter a adesão dos stakeholders internos, com uma proporção ainda maior (57%) dizendo que o número de grupos envolvidos internamente dificulta o progresso das iniciativas. Também chama a atenção a falta de coesão na estratégia, com mais da metade dos executivos de telecomunicações afirmando que sua estratégia climática consiste em múltiplas iniciativas concorrentes, sem uma abordagem unificada.