Acelerar agenda de carbono deve ser prioridade do Brasil, afirma CEO da Natura

País perde até US$15 bilhões em oportunidades ao adiar pautas ambientais.

João Paulo FerreiraJoão Paulo Ferreira, CEO da Natura, destacando a urgência de regulamentar o mercado de carbono no Brasil. (Foto: Divulgação)

Durante o evento Alianças pelo Clima, realizado na Casa Natura Musical, o CEO da Natura, João Paulo Ferreira, destacou a importância de o Brasil acelerar a criação de um mercado regulado de carbono. Ferreira apontou que a regulamentação do mercado de carbono no país pode impulsionar receitas bilionárias e gerar milhões de empregos, além de posicionar o Brasil como um agente global na luta contra a crise climática.

“O mercado de carbono hoje é bilionário. No Brasil, as pesquisas indicam que há um potencial de receita que supera US$100 bilhões até 2030, com mais de 8 milhões de empregos potencialmente associados a esse setor. Para além da urgência climática, essa regulamentação se configura como uma oportunidade de desenvolvimento econômico, um motor de inovação e diferenciação para o país”, afirmou Ferreira.

Organizado em parceria com Salesforce e ICC Brasil, o evento contou com a presença de multinacionais compradoras de créditos de carbono, agentes públicos responsáveis pela construção do SBCE e produtores e comunidades locais brasileiras e discutiu o papel estratégico do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE).

Ferreira também ressaltou a importância de uma abordagem inclusiva, com foco nas comunidades tradicionais que ajudam a preservar o meio ambiente. “Essa regulamentação tem o potencial de ser inclusive distributiva, beneficiando comunidades vulneráveis, que são as mais afetadas pelos eventos climáticos extremos, cuja intensidade e frequência estão aumentando. Parte desses fundos deve ser destinada à justiça ambiental para apoiar essas comunidades”, defendeu o executivo em sua fala de abertura.

Com o projeto de lei que tramita no Senado para adesão ao mercado regulado, Ferreira afirma que "teremos impacto direto em nossas ambições de descarbonização de longo prazo, dado o peso das emissões de escopo 3 em nosso inventário de GEE e, consequentemente, na execução do nosso Plano de Transição Climática, haja vista o efeito estímulo positivo para toda a cadeia da Natura”.

Além disso, o CEO discutiu o potencial do Brasil para liderar o mercado global de carbono, citando um estudo da consultoria McKinsey & Co. que aponta que o país detém 15% da oferta potencial das chamadas soluções baseadas na natureza (SBN). Esse mercado global tem um potencial estimado entre US$ 50 bilhões e US$ 100 bilhões, com a capacidade de capturar entre 1 e 2 gigatoneladas de CO2 equivalente até 2030.

“Esse é um caminho claro para que o Brasil se posicione como líder no fornecimento de créditos de carbono e aproveite essa oportunidade tanto econômica quanto ambiental”, conclui Ferreira.

Gabriella Dorlhiac, diretora executiva da Câmara de Comércio Internacional (ICC Brasil), ressaltou a importância dos produtores no ecossistema do mercado de carbono. “O Brasil tem potencial incontestável na área de restauração. O desafio é que esta é uma indústria nova e ainda estamos todos aprendendo a como acelerar seu crescimento”, diz.

Gabriella apresentou a série de estudos realizada pela ICC Brasil em parceria com a Way Carbon. O trabalho demonstrou que o país pode responder por cerca de 28% da demanda global de créditos sob o artigo 6.4, e praticamente 50% da demanda global em créditos de carbono dentro do mercado voluntário.

“Na última edição do estudo (2023), avaliamos como o contexto atual de comércio, cada vez mais pautado pelas questões ambientais, e o impacto de instrumentos, como o Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM) na Europa, impactariam a competitividade do Brasil. Ficou claro que a aprovação do mercado regulado no país é uma questão importante para garantir que nossos produtos possam enfrentar esses mecanismos”, complementa Gabriella.

Roberto Prado, vice-presidente de engenharia de soluções da Salesforce para a América Latina, que participou do fechamento do evento, destaca que a sustentabilidade é uma jornada em constante evolução. “Para alcançar uma alternativa sustentável para todos os grupos envolvidos, é necessário discussão e alinhamento. O mercado de carbono é uma enorme oportunidade para financiar investimentos em restauração florestal. Sua evolução exige coragem para lidar com desafios e empatia para compreender as mais diferentes demandas.”