Exportações do agronegócio brasileiro disparam com novo recorde em 2022

As importações do setor também registraram avanço significativo de 35% em relação a 2021.

Feature imagePreços internacionais em alta e volumes crescentes aumentaram o valor exportado em 60% desde o início da pandemia (Foto: Reprodução/Insper Conhecimento)


O valor das exportações do agronegócio brasileiro atingiu novo recorde nominal em 2022, somando US$ 159 bilhões, alta de 32% em relação ao ano anterior (US$ 120 bilhões) e de 60% em relação a 2020 (US$ 100,8 bilhões). Esse excelente resultado se deve ao forte crescimento dos preços internacionais (alta de 23% no índice de preços em comparação com 2021) e ao aumento nos volumes embarcados (crescimento de 7% no índice de quantum).

As importações do setor também registraram avanço significativo, de 35% em valores com relação a 2021, puxadas por insumos agropecuários, que responderam por dois terços do total importado, com destaque para fertilizantes.

 

 

Gráfico Exportacoes e importacoes do agronegócio

 

Gráfico: Índices das exportações do agronegócio

 

 

Gráfico: Índices das importações (produtos e insumos) do agronegócio

 

Nota técnica: Os índices apresentados são cálculos realizados com o objetivo de identificar e separar os efeitos preço e quantum determinantes do comportamento da balança comercial. Os efeitos preço são avaliados em dólares (mercado global) e em reais (mercado local), também considerando o efeito da taxa de câmbio. Esses índices calculados são baseados em metodologia aplicada pelo Banco Central em boletins regionais de comércio, em que são ponderados vetores de quantidades e preços.

 

Os preços internacionais das commodities vêm se sustentando em alto patamar desde 2020, com destaque para o mercado de grãos. Baixos estoques globais, associados a choques de restrição à oferta (pandemia, guerra e problemas climáticos em diversos países), elevaram os valores pagos e geraram preocupações ao redor do mundo em relação à inflação dos alimentos e aos riscos de recessão e insegurança alimentar.

O Brasil demonstrou grande capacidade de reação a essa conjuntura volátil e imprevisível, que resultou em forte impulso à produção doméstica, apesar de um aumento expressivo no custo de aquisição de insumos agropecuários. Especificamente em 2022, não houve quebras de safra significativas ou restrições à importação de produtos brasileiros, como ocorrido em 2021, o que levou as exportações a se manterem em alto patamar de volumes embarcados ao longo de todo o ano.

A taxa de câmbio (R$/US$) também seguiu favorável às exportações. Diferentemente do que se espera em um momento de alta de preços de commodities e de valores exportados, em que ocorre grande entrada de dólares no país, a taxa cambial permaneceu elevada diante do ambiente de incertezas macroeconômicas nacionais e internacionais, havendo, assim, mais um fator de incentivo ao exportador brasileiro.

Para as importações, a elevação de preços gerou preocupações no que se refere a custos de produção, dado que mais de 66% do valor total importado pelo agronegócio brasileiro é constituído por insumos (fertilizantes, pesticidas, saúde animal e máquinas agrícolas), sendo os demais 33% por produtos agropecuários.

 

Gráfico_Exportações do agronegócio por produto_valores correntes

 

 

 

Gráfico: Importações do agronegócio por produto

 

Com relação a produtos, destaca-se a sustentação de longo prazo do crescimento das exportações do complexo soja e do setor sucroenergético e, mais recentemente, a evolução extraordinária das exportações brasileiras de milho e algodão, que cresceram cerca de 15% ao ano nos últimos 20 anos, impulsionadas pelo aumento do plantio e das exportações de soja (a maior parte do milho e do algodão produzidos no Brasil originam-se da chamada “segunda safra”, que é plantada na mesma área e safra agrícola, logo após a colheita da soja). Estes produtos todos apresentaram crescimento anual (CAGR) da ordem de dois dígitos nas exportações, ampliando a sua relevância no total das exportações do agro brasileiro.

Proteínas animais (carnes e couros), produtos florestais e café tiveram crescimento anual das suas exportações na faixa de 6% a 8%, bastante elevado, mas inferior ao crescimento observado nas exportações de grãos e do setor sucroenergético. Já fumo e suco de laranja vêm crescendo pouco e perdendo participação relativa no total da pauta do agronegócio.

Com relação aos “outros produtos”, considerados não tradicionais na pauta de exportações brasileira, o crescimento médio de 6% ao ano entre 2000 e 2022, abaixo da média geral, indica que não tem ocorrido uma tendência de diversificação ou até mesmo de agregação de valor semelhante à observada no caso da complementariedade do algodão e do milho produzido nas áreas de plantio de soja. O gráfico de participação das cadeias no valor exportado confirma essa tendência. A única exceção relevante nesse ano foi o trigo, que atingiu quase US$ 1 bilhão em valor exportado, graças aos altos preços internacionais. Mas é importante destacar que o Brasil ainda é importador líquido de trigo e que o produto ainda não tem a mesma competitividade dos demais grãos exportados pelo país (leia mais aqui).

 

 

Gráfico_Exportacões do agronegócio por produto

 

Com relação aos países e regiões destino dos produtos do agro exportados pelo Brasil, observa-se que, apesar das importantes iniciativas para abrir novos mercados e promover novos produtos brasileiros no exterior, ainda predomina uma forte concentração dos embarques para a China, o Oriente Médio e outros mercados asiáticos.

Especificamente em 2022, verifica-se uma alta das exportações para a União Europeia. No entanto, tal movimento deve ser um ajuste temporário diante das restrições de oferta provocadas pela guerra, não sendo suficiente para reverter a tendência de longo prazo de diminuição relativa de participação dessa região na pauta brasileira do agronegócio. América Latina, Estados Unidos e Canadá, África e outros mercados vêm apresentando comportamento relativamente estável nos últimos anos.

Gráfico: Destino das exportações do agronegócio

 

Gráfico: Destino das exportações do agronegócio_em percentuais de representatividade

 

Desde o início de 2020, a pandemia, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e as dificuldades climáticas criaram um cenário global de incertezas, volatilidades e desajustes na oferta e demanda de produtos e insumos agropecuários. O mercado de commodities se defrontou com choques significativos de oferta e problemas nas cadeias globais de suprimento, que elevaram preços e exigiram respostas de países e agentes ligados ao comércio internacional.

O agronegócio brasileiro demonstrou grande resiliência e rapidez de resposta: o país se consolidou como um fornecedor confiável de produtos alimentares e conseguiu aproveitar os movimentos de alta de preços e redirecionamento de demanda, ampliando a produção e os embarques, principalmente em direção aos mercados asiáticos.

Hoje já lideramos hoje o ranking mundial dos países exportadores de soja, açúcar, carne, carne de frango, e suco de laranja. Tudo indica que em menos de uma década vamos nos consolidar como maiores exportadores mundiais de milho e algodão, que nasceram recentemente na esteira da “safrinha” da soja.

Em 2023, a conjuntura pode trazer fatores de atenção, resultantes da previsão de menor crescimento global (com destaque para a China, nosso maior parceiro comercial — veja aqui), recuperação da oferta de alguns países e incertezas geopolíticas que ainda precisam ser mais bem assimiladas. Prevê-se alguma retração em preços, o que pode apertar as margens dos produtores, que todavia devem ainda se manter em patamares confortáveis. Com os investimentos na expansão de oferta ocorridos nos últimos anos e o clima até aqui favorável para as duas safras brasileiras, fecharemos novamente com uma safra recorde em 2022/23, com grande excedente exportável.

Commodities agropecuárias, minerais e energéticas costumam ser classificadas como “produtos do passado”, fruto de uma pauta exportadora defasada no tempo. Ocorre, porém, que essas commodities nunca foram tão requisitadas como hoje, em um mundo que vive desajustes de oferta e demanda. A produção e a exportação competitiva e sustentável de commodities agropecuárias está em linha com as nossas vantagens comparativas. Elas são o futuro, e não o passado.

 

Fonte: Insper Conhecimento