Cenário industrial brasileiro melhora, ainda que modestamente

Carlos Vian comenta as expectativas e a confiança na indústria brasileira, assim como as perspectivas para os próximos anos.

factory-worker-wearing-uniform-hardhat-operating-industrial-machine-with-push-button-joystick-production-hallPesquisa revela aumentos nas produções industriais nos últimos meses, particularmente na siderurgia e materiais de cunho eletrônico. (Foto: Freepik)

A recém-lançada edição 28 do Boletim de Conjuntura Industrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) mostra relativos aumentos nas produções industriais nos últimos meses, particularmente na siderurgia e materiais de cunho eletrônico. O setor automotivo também traz boas notícias, tendo uma das performances mais positivas dentre os setores. Carlos Vian, do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq USP, comenta: “Vemos que houve uma certa melhora, saindo de um estado de desconfiança para um nível de confiança”.

Nova Política Industrial

Um dos principais apontamentos para essa melhora se deve, segundo Carlos Vian, à Nova Política Industrial. “Os setores que tiveram um pouco mais de clareza de medidas para a Política Industrial estão começando a reagir. Ainda não são aumentos expressivos, mas vemos em alguns desses segmentos uma iniciativa da indústria com relação a essa política”. O projeto da Nova Política Industrial foi lançado em janeiro de 2024, e prevê metas e medidas para curto e médio prazo.

De acordo com o próprio governo, o objetivo das reformas é “melhorar diretamente o cotidiano das pessoas, estimular o desenvolvimento produtivo e tecnológico, ampliar a competitividade da indústria brasileira, nortear o investimento, promover melhores empregos e impulsionar a presença qualificada do País no mercado internacional”. Para tanto, foi prometido um financiamento de R$ 300 bilhões para a nova política.

Algumas metas concretas são, por exemplo, mecanizar até 70% dos estabelecimentos de agricultura familiar (atualmente apenas 18%) até a próxima década, sendo que o intuito é que 95% do maquinário seja proveniente da indústria nacional. Também é um objetivo “transformar digitalmente 90% do total das empresas industriais brasileiras (hoje são 23,5%) digitalizadas e triplicar a participação da produção nacional nos segmentos de novas tecnologias”, entre outras propostas.

No caso do setor automobilístico, Vian o descreve como o setor de mais destaque, pois tem uma das políticas mais estruturadas. Sendo assim, a confiança cresce, e com isso crescem também os investimentos. Uma outra medida da Nova Política Industrial é aumentar a participação estatal em investimentos em ônibus elétricos.

Cenário macroeconômico

O professor também comenta questões de âmbito nacional e internacional, as quais podem afetar a economia industrial. Um dos grandes medos que permearam o Brasil nos anos recentes foi o descontrole da inflação. Mas, aparentemente, o índice está estável e tende a não ter grandes aumentos nos próximos anos, podendo até cair. Isso traz mais segurança e confiança para investimentos, podendo a indústria crescer aos poucos.

Ainda que a expectativa tenda a ser positiva, Vian ressalta que não é nada excessivo, ainda havendo receios. Para que cresça mais a confiança, ele diz que é preciso mais anúncios concretos de investimentos e modernização, tal como foi feito na indústria automobilística. “Os outros setores ainda estão esperando que algumas coisas fiquem um pouco mais claras”. Segundo ele, ainda falta detalhar e propor medidas efetivas e claras por parte do governo.

Conforme a situação industrial melhora, é possível que o Brasil retome seu papel maior no cenário internacional. “Nós perdemos durante as últimas décadas um pouco desse protagonismo de inserção internacional da indústria. Ele precisa começar a voltar, e um caminho que eu acho interessante é adotar algumas medidas de atração de investimento externo, que é algo que perdemos nos últimos anos”. Conciliando as medidas da Nova Política Industrial com interesses de investimento, o Brasil pode voltar a se tornar um personagem industrial, em especial na América Latina, segundo o professor.