Atacar a baixa produtividade e o baixo investimento é imprescindível para evitar um futuro econômico medíocre

O atual modelo econômico brasileiro não tem nos proporcionado um ritmo mais elevado  e constante  de crescimento da produtividade.

Comitê LIDE 2023 - Fredy Uehara - Uehara Foto & Vídeo (28)Roberto Giannetti da Fonseca, economista e empresário, Presidente da Kaduna Consultoria e do Lide Energia e Infraestrutura. (Foto: Fredy Uehara/Uehara Fotografia)

Se há dois indicadores que hoje em dia me preocupam profundamente na economia brasileira, são eles a baixa produtividade dos fatores de produção e o reduzido grau de investimento,  tanto do setor  público como do setor privado. Se estes temas não forem atacados com seriedade por políticas públicas e iniciativas privadas consistentes e perseverantes, o futuro de nossa economia será  certamente medíocre. O atual modelo econômico brasileiro não tem nos proporcionado um ritmo mais elevado  e constante  de crescimento da produtividade que, sem dúvida, é uma condição  imprescindível  para o Brasil tornar-se um país de renda mais alta e justa como é desejável  por todos  brasileiros.  Do lado privado, deveríamos  estimular  fortemente os investimentos em inovação e tecnologia, na modernização industrial,  na maior  eficiência logística, em direção a uma estrutura produtiva mais moderna, competitiva,  diversificada e com maior nível de produtividade. 

Do lado do setor público, a necessidade de melhorar  a produtividade é ainda maior, tanto  no aprimoramento da gestão  fiscal, como na modernização da estrutura administrativa, na redução  de gastos  supérfluos ou desnecessários, e na melhoria  da prestação  de serviços à população. Voltar a crescer de forma consistente e contínua a taxas superiores a 3,0% ao ano deveria ser uma meta permanente  e uma obsessão nacional, tanto  quanto ganhar a Copa do Mundo de Futebol.

Temos atualmente um cenário de transição energética a nível global que nos oferece desafios e oportunidades. No futuro próximo, o Brasil poderia ser, sem sombra de dúvida, um protago- nista relevante, tanto no processo de reorganização das cadeias globais de valor, como no método de transição  energética, promovendo  uma metodologia de  neo-industrialização de  sua economia, com foco em setores  dinâmicos  relacionados  com produtos  de alto conteúdo tecno- lógico, como chips e semicondutores, como também nos produtos  relacionados às novas fontes de energia  renovável, nos quais certamente terá uma escala  superlativa,  tais como energia  foto- voltaica e eólica, hidrogênio verde e suas aplicações na mobilidade urbana e nas indústrias siderúrgicas, metalúrgicas, químicas, e fertilizantes (amônia verde).

Temos no Brasil os principais elementos básicos para se obter  um custo ope- racional relativo de geração de energias  renováveis mais favorável que todos outros países concorrentes, ou seja, abundância de sol, água, vento, e  um  vasto  território.  No  entanto, se apresentam como desfavoráveis  tanto  o custo de oportunidade do capital, como também  o custo relativo de equipamentos que compõem  o ativo fixo das unidades  geradoras de energia eólica e solar, em geral, ainda onerados  por tarifas de importação e tributos  internos  elevados.

Este absurdo  de política  tributária  precisa  ser imediatamente eliminado para que se apresente um ambiente de negócios  mais atrativo  para estas  novas  atividades  da economia  de baixo carbono. Para atender ao potencial  destas  atividades, seriam  necessários, nos  próximos  dez anos, investimentos da ordem de 200 bilhões de dólares  de forma a viabilizar uma expansão da oferta  de energia  em 180 GW, o que é mais ou menos equivalente à atual capacidade instalada que dispomos hoje em dia no país.

Na esteira do  evento  Brazil Development Fórum, que será realizado  pelo LIDE nos dias 01 e 02 de Setembro,  em Washington, com a presença das instituições multilaterais (Banco Mun- dial, BID, e IFC – International Finance Corporation), poderão  surgir  boas  oportunidades de financiamentos e investimentos para empresas privadas nos mais variados setores  da economia, desde  empresas  concessionárias de serviços públicos (saneamento básico, energia  renovável, logística, habitação) como também  do setor pro- dutivo,  na  indústria,  agronegócio e  serviços.

Temos ainda a oportunidade para bancos de investimentos, escritórios  de advocacia  consultorias especializadas, de participar  e relacionar com prospectivos clientes  públicos  e privados, na atividade  de assessoria técnica  e institucional na elaboração de projetos  e negociação dos financiamentos multilaterais. Os entes sub-nacionais, estaduais e municipais,  que  estarão representados pelos respectivos  Governadores e Prefeitos presentes ao evento, poderão melhorar seu conhecimento e acesso  as linhas de financiamento  multilateral atualmente disponíveis nas instituições sediadas  na capital americana. A oportunidade histórica bate a nossa porta, não temos o direito de desperdiçá-la.