Mercado de viagens corporativas deve ultrapassar US$ 2 tri até 2028 com impacto direto nos setores de tecnologia, hotelaria e transporte

Mercado de viagens corporativas deve ultrapassar US$ 2 tri até 2028 com impacto direto nos setores de tecnologia, hotelaria e transporte.

Site-Chieko-Aoki-1-01A empresária Chieko Aoki, presidente da Blue Tree Hotels, é a única representante do setor hoteleiro na lista das 500 pessoas da América Latina que mais contribuíram para o retorno da normalidade durante o período pandêmico. (Foto: Divulgação)

Depois da pandemia de Covid-19 e da necessidade de isolamento social, a demanda por viagens de negócios está preparada para decolar. De acordo com o Business Travel Market, o tamanho do mercado global deve atingir US$ 2 trilhões até 2028, alcançando uma taxa de crescimento de 13,2% ao ano. Os principais fatores que estão alimentando o segmento são: bleisure (trabalho e lazer); desenvolvimento de hotéis inteligentes; uso da tecnologia robótica para evitar burocracias e trabalhos repetitivos, além do uso de realidade virtual para reservas de hotéis e transportes.

Segundo levantamento da Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas (Abracorp), em 2021, o nicho teve aumento no faturamento de 10,7% em relação a 2020, totalizando R$ 3,840 bilhões. Apesar desse aumento, as vendas ainda são menores em comparação ao período anterior à pandemia. Chieko Aoki, presidente da Blue Tree Hotels, indica que o segmento de turismo de negócios vem apresentando recuperação gradativa, o que tem aumentando o otimismo para resultados cada vez mais positivos.

“Por conta do grande número de eventos corporativos reprimidos em todo o país e a boa notícia da flexibilização no uso das máscaras pela queda progressiva da contaminação pelo coronavírus, os eventos presenciais já são muito procurados. E como parte dos eventos, as hospedagens de participantes cresceram significativamente, com altas taxas de ocupação, principalmente, nas grandes cidades”, diz.

Neste novo momento, Chieko avalia que o bleisure travel é uma opção bastante atraente para quem deseja conciliar a viagem de lazer com outros objetivos, entre eles, o trabalho.

“Trata-se de uma modalidade que foi positiva e fortemente impactada, evoluída e acelerada pela pandemia, e que as empresas, globalmente, têm utilizado para manter a comunicação fluida entre grupos e comunidades, em tempo real e com grande número de participantes”, finaliza.

marcelo-linhares-ceo-da-onfly-foto-divulgacao-2Marcelo Linhares, CEO da Onfly. (Foto: Divulgação)

Novas rotas

O boom das startups e o trabalho híbrido ou 100% on-line já estão entre os principais responsáveis pelas mudanças neste mercado, que continua se adaptando em 2022. Para Marcelo Linhares, CEO da Onfly, startup 100% nacional especializada em gestão de viagens a trabalho, no Brasil, a grande lacuna do setor está no fato que boa parte das empresas com colaboradores que precisam ultrapassar os limites físicos do escritório, seja para participar de eventos, visitar um fornecedor no estado vizinho, fazer cursos de aprofundamento ou mesmo fechar novos negócios, ainda não fazem gestão de viagens corporativas.

“São vários os problemas, a começar pelo peso no orçamento, afinal, passagens compradas em cima da hora, falta de acordos com fornecedores, ausência de políticas claras de reembolso são fatores que contribuem para fraudes e erros, fazendo com que os custos se tornem exorbitantes, sem necessidade”, explica.

A CVC Corp, um dos maiores grupos de viagens da América Latina, com marcas que atuam no Brasil, Argentina e Estados Unidos, nos segmentos de férias e lazer, corporativo/negócios com as empresas RexturAdvance e Esferatur, educação (intercâmbio cultural no exterior), gestão e locação de residências (nos EUA e Brasil), investiu cerca de R$ 134 milhões de reais ao longo de 2021, o maior valor já desembolsado pela companhia em um único ano, reforçando seu propósito de digitalização.

default Leonel Andrade, CEO da CVC Corp. (Foto: Reprodução)

De acordo com Leonel Andrade, CEO da CVC Corp, os investimentos da empresa são para usar o melhor da tecnologia, inovações e dados para atender ao cliente em toda a sua jornada de consumo, independentemente dos canais por ele acessados, de modo a garantir maior e melhor conversão de vendas e a excelência na experiência para o cliente.

“Com o uso de recursos de inteligência artificial e machine learning, a empresa vem aprimorando a captação de dados e informações que vinham de qualquer canal de comunicação e hoje já consegue cruzar nove bilhões de informações para chegar a recomendações únicas e personalizadas”, afirma.

Serviços

Assim como no segmento tradicional, o turismo de negócios também movimenta companhias aéreas, hotéis, restaurantes, aluguéis de carros ou serviços por aplicativo. A Prime You – pioneira e maior empresa da América do Sul de compartilhamento de bens de luxo, como jatos executivos e helicópteros – é um exemplo dessa tendência. Em 2020, o crescimento já tinha sido de 20% e, em 2021, o número de voos cresceu mais 96%. Marcus Matta, CEO e fundador da empresa destaca que muitos executivos e profissionais liberais, que já haviam passado a conciliar o home office e vida pessoal fora dos grandes centros, devem manter essa rotina.

“Passar uma temporada na praia ou no campo durante o home office tornou-se cada vez mais uma prática comum – tanto no período mais crítico da pandemia, quanto agora em que muitas empresas passaram a adotar o trabalho híbrido. Na Prime You, os cotistas de Real Estate Duo - imóveis de alto padrão com embarcações -, por exemplo, conseguem conciliar trabalho e lazer com todo o conforto, serviços exclusivos e, ainda, realizar turismo local ou navegar a bordo de uma embarcação personalizada de acordo com o perfil do cotista”, detalha o CEO.

Marcus-Matta_-presidente-Prime-Fraction-ClubMarcus Matta, CEO e fundador da Prime You. (Foto: Divulgação)

Velocidade de cruzeiro

De acordo com a Associação Brasileira de Aviação Geral (ABAG), a movimentação da aviação executiva no Brasil em 2021 foi 20% maior do que 2020, e um dos fatores que contribuíram para esse crescimento foi o aperto da malha convencional. A WingX, empresa de consultoria especializada em tendências do setor aeronáutico, aponta aumento, apenas na América do Sul, de 52% nas decolagens de aviões executivos nas últimas quatro semanas de 2021, comparado ao mesmo período de 2019.

Leonardo Fiuza, presidente da TAM Aviação Executiva, lembra que o mercado brasileiro de aviação executiva é o segundo maior do mundo, atrás apenas do norte-americano.

“Nosso país possui dimensões continentais e os voos comerciais não alcançam todo o Brasil, por isso, a procura por voos fretados cresce a cada dia.  O serviço de fretamento é diferenciado, exclusivo, privado, e segue altos padrões de segurança. Investimos muito em atendimento personalizado e eficaz, de acordo com a necessidade e a missão de cada cliente”, afirma Fiuza.

Marcus-Matta_-presidente-Prime-Fraction-ClubLeonardo Fiuza, presidente da TAM Aviação Executiva. (Foto: Divulgação)

C-Level em destaque

A empresária Chieko Aoki, presidente da Blue Tree Hotels, é a única representante do setor hoteleiro na lista das 500 pessoas da América Latina que mais contribuíram para o retorno da normalidade durante o período pandêmico publicada pelo portal Bloomberg Línea. A executiva já atuou em diversos lugares do mundo como presidente da rede Caesar Park e como vice chairman da Westin, a mais antiga rede hoteleira dos Estados Unidos. Integrante do movimento Unidos Pela Vacina, Chieko esteve à frente de palestras e negociações junto às iniciativas privadas em ações com o propósito de facilitar a chegada dos imunizantes a todos os brasileiros.

Bad trip

Setor de viagens corporativas perdeu cerca de R$ 100 bilhões em dois anos de pandemia. Apesar do crescimento de 46% em 2021, o faturamento ainda é 47,6% menor que em 2019. Os dados são do indicador Levantamento de Viagens Corporativas (LVC), lançado em março pela FecomercioSP e a Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (ALAGEV).

“O estudo apresenta dados relevantes para analisar a retomada do turismo e verificar os próximos passos do mercado. Nos meses seguintes teremos um crescimento mais sólido, mas ainda enfrentaremos problemas da pandemia, economia com inflação e juros elevados”, comenta Giovana Jannuzzelli, diretora executiva da ALAGEV.

 Giovana-Jannuzzelli-assume-frente-executiva-da-Alagev-1Giovana Jannuzzelli, diretora executiva da ALAGEV.

5 tendências para viagens corporativas em 2022

  1. Viagens híbridas a trabalho e lazer
    Com o modelo híbrido, que veio para ficar, já é possível observar as empresas mais flexíveis, dando a possibilidade para os funcionários ampliarem as viagens durante a semana ou fim de semana para poderem conhecer e desfrutar da cidade que foram visitar a trabalho. As empresas passaram a flexibilizar a passagem de volta em dois ou três dias, como um benefício para o funcionário. E, como consequência desta tendência, acarretou um aumento no turismo de lazer.

  2. Viagens a curto prazo
    Outra mudança diz respeito ao período de antecedência que as viagens passaram a ser confirmadas, que reduziram de 10 dias (para viagens nacionais) ou 15 dias (para viagens internacionais) para dois dias úteis em ambos os casos. Essa tendência resultou no aumento do ticket médio dessas viagens e, por outro lado, na menor taxa de alteração de roteiro ou data.

  3. Mais atenção na segurança dos funcionários
    As empresas também passaram a priorizar indicadores de higiene, especialmente para hospedagem dos funcionários. O setor precisou se atentar a essas questões de sanitização, além de executar mudanças em políticas de viagens das empresas e os serviços de segurança, que eram mais requisitados por empresas globais, ficaram mais evidentes nas empresas nacionais.

  4. Consultoria de viagem
    É possível notar a alta procura das empresas por serviço de consultoria e monitoramento 24 horas, com foco nas mudanças de regras de embarque e desembarque das principais cidades do Brasil e do mundo, devido às constantes mudanças de restrições ao combate à pandemia.

  5. Segurança da informação
    Com um volume muito maior de transações, conversas e decisões tomadas de forma digital, também em decorrência da pandemia, já existe um alto investimento em segurança de dados, criação de regras de boas práticas e governança, plano de comunicação de incidente de segurança, criação de canal de atendimento e treinamento para colaboradores.

Fonte: Fernando Vasconcellos, co-CEO do Grupo Kontik, uma das maiores Travel Management Company do país

Nômades digitais

Também conhecido como turismo MICE (sigla em inglês para “reuniões, incentivos, convenções e exposições”), o turismo de negócios já vinha passando por constantes alterações com o avanço da globalização e da tecnologia, estabelecendo contatos mais dinâmicos entre profissionais e transações geograficamente mais abrangentes. A partir desse ponto, surge um novo tipo de profissional, o nômade digital. Ou seja, aquele que consegue aliar os momentos de trabalho com uma movimentação física constante, e não apenas trabalhando de casa ou de um endereço fixo. Nesse sentindo, uma alternativa que vem crescendo são os coworkings, setor afetado positivamente pelas mudanças no turismo de negócios.

De acordo com a Associação Brasileira de Coworkings e Escritórios Virtuais (Ancev), houve uma aceleração de tendências e adaptação do mercado para oferecer novos serviços e atender diferentes perfis de clientes. Dos escritórios consultados pelo Censo Ancev 2021, quase 30% afirmaram que pelo menos metade dos seus clientes, antigos ou novos, adotaram o formato hibrido. 

“A chegada da pandemia concretizou tendências do setor como o trabalho híbrido, pois as empresas entenderam que há muito benefícios em estar instalado numa estrutura pronta, repleta de conveniências e na qual ele pode diminuir ou crescer o número de posições com agilidade”, explica Mari Gradilone, diretora da Ancev.

“Os coworkings são o melhor dos dois mundos para empresas e funcionários. Enquanto os nômades digitais podem acessar os espaços de trabalho colaborativo de onde quer que estejam, as empresas podem garantir que seus colaboradores estejam bem assistidos e tenham um ambiente que estimula e está preparado para incentivar o melhor da produtividade de cada um ao direcioná-los para um coworking, seja no momento de uma viagem a negócios, ou para realizar um evento profissional, ou ainda para adotar o trabalho híbrido em sua cultura organizacional”, comenta Patrícia Coelho, responsável pelas operações do Club Coworking.