Robson Braga de Andrade, da CNI: Novo governo deve prever ações que fortaleçam a indústria e ajudem o país nas oportunidades

Quadro econômico demandará cautela e novas estratégias para manutenção de negócios que exigem a ampliação do crédito e alta demanda de consumo.

CNIPresidente da CNI, Robson Braga de Andrade. (Foto: Divulgação)

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) prevê expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,6% em 2023, sobre crescimento de 3,1% previsto para 2022. A redução do ritmo de crescimento da economia deve ser provocada, principalmente, pelas altas taxas de juros, com acréscimo dos fatores inflação elevada e menor crescimento mundial. Os dados estão no documento Economia Brasileira 2022-2023.

Para o setor industrial, a previsão é de alta de 0,8% do PIB em 2023, desempenho menor do que a expansão de 1,8% prevista para 2022. A indústria de transformação deve crescer 0,3%, com expectativa de desempenhos setoriais diferentes.

Foco no necessário

Para criar as bases de crescimento sustentável, o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, avalia que a prioridade para 2023 precisa ser a reforma tributária sobre o consumo. A PEC 110, que tramita no Congresso, contempla as principais demandas do setor produtivo, como eliminação da cumulatividade e imediata recuperação dos créditos tributários devidos e não-pagos, além de corrigir distorções do sistema tributário atual, que levam à perda de competitividade da indústria e de eficiência econômica.

“O Brasil também está muito atrasado na adoção de uma política industrial moderna. Todas as nações desenvolvidas, e mesmo algumas que estão em estágio similar ao nosso, têm atuado para fortalecer ao máximo suas indústrias, sobretudo porque vivemos em um cenário de acirrada rivalidade entre os estados nacionais, barreiras comerciais e remodelação das cadeias globais de valor”, explica o presidente da entidade.

Olho neles

Levantamento da CNI mostra que Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, China, Alemanha e os demais países da União Europeia preveem investimentos de US$ 5 trilhões já nos próximos anos, por meio de políticas de apoio às suas respectivas indústrias, com vistas a alcançar objetivos estratégicos, como a digitalização e a descarbonização da economia.

“Defendemos que o novo governo coloque como uma de suas prioridades a adoção de uma política industrial alinhada às melhores tendências internacionais, que tenha como objetivos o aumento da produtividade e a inserção das empresas brasileiras na economia global. As iniciativas devem prever ações que fortaleçam a indústria e ajudem o país a aproveitar as oportunidades abertas pela revolução tecnológica e pela transição para a economia de baixo carbono”, afirma o presidente da CNI.

Andrade destaca que as propostas da indústria - parte integrante do Plano para a Retomada da Indústria, entregue ao futuro governo - não se baseiam na criação de incentivos nem na redução de tributos, mas na adoção de medidas que garantam às indústrias nacionais igualdade de condições frente à acirrada competição do mercado internacional, com a redução do Custo Brasil e com políticas de apoio à indústria nacional similares às implementadas pelos nossos concorrentes. “A premissa básica é a seguinte: não existe país forte e desen- volvido sem uma indústria competitiva e integrada ao mercado global”, reforça.

Externo e interno

Segundo o coordenador do curso de Ciências Econômicas da Universidade Cruzeiro do Sul, professor e doutor Nelson Calsavara Garcia Junior, as expectativas para 2023 são, no mínimo, desafiadoras: no ambiente interno teremos um novo presidente, acompanhado de seus ministros e a renovação de parte do Congresso - com considerável número de oposicionistas. Além disso, há os rumos imprevisíveis da Covid-19. Já no ambiente externo, a guerra na Ucrânia continua e se mantém a disputa comercial entre os Estados Unidos e a China.

“Em se tratando da China, a Covid-19 ainda tem causado lockdown por lá, o que prejudica a produção do país. No caso dos Estados Unidos, a expectativa mundial diz respeito a qual será a movimentação da taxa de juros nos próximos meses. O que se espera por enquanto é um movimento de alta, que pode reverberar para outros países”, esclarece.

Tendências tecnológicas

A instabilidade muitas vezes funciona como catalisador para inovações importantes. Durante a Grande Depressão, por exemplo, houve a criação do nylon, da gravação de fita magnética e do primeiro helicóptero em funcionamento – grandes invenções ainda utilizadas atualmente.

Para que uma empresa se prepare para o futuro e siga inovando, será necessário realizar um balanço de onde esteve, o que foi feito e para onde deseja ir. De acordo com a ServiceNow, há quatro inovações tecnológicas que estão virando tendências para os próximos anos. Veja quais são elas e porque devem ser adotadas para ajudar as empresas a se destacarem por meio da tecnologia em tempos incertos para a economia global:

Quanto ao cenário de desemprego no Brasil, Junior explica que: “Os dados mais recentes do Banco Central têm apontado um pequeno crescimento do PIB já para o próximo ano, de 0,70%. Sem crescimento significativo para o PIB, isso pode acarretar uma perspectiva ruim para o desemprego, e mesmo para as novas vagas, que têm oferecido condições de remuneração inferiores, se comparado aos outros anos”, comenta.

No caso do salário-mínimo, o professor enfatiza que o projeto de lei orçamentária anual para 2023, enviado para o Congresso em agosto de 2022, contava com valor de R$ 1.302,00. Em termos práticos, o aumento representa apenas a correção da inflação do período. “Se o governo aumenta muito o salário mínimo, isso pode causar mais inflação. Por outro lado, se aumenta pouco, além da queda na popularidade, pode aparecer outros tipos de problemas, desencadeado pelo endividamento das famílias”, explica.

CRISTINA HELENA MELLO_NOVAPR_007Cristina Helena de Mello, professora de economia da ESPM. (Foto: Divulgação)

Crédito e consumo

Segundo Cristina Helena de Mello, professora de economia da ESPM, o aumento no endividamento está ligado a menor renda real das famílias em função da elevação de preços. “Mesmo os esforços realizados em ano eleitoral e que resultaram em crescimento da massa salarial real efetivamente recebida não foram suficientes para conter o endividamento”, diz.

Para a especialista, não existem fontes consistentes para a retomada do crescimento da economia em 2023. Os motivos ocorrem pelas dificuldades da renda familiar, despesas e investimentos das empresas, ou pelo alto gasto do governo (ainda contido por regras orçamentárias limitantes), com exportações líquidas em cenário externo desfavorável.

“Para melhor planejamento, as famílias devem realizar um levantamento de suas dívidas em diferentes modalidades. É importante olhar o estoque da dívida e não apenas seu fluxo. Fazer as perguntas: estou conseguindo pagar mensalmente minha conta de cartão de crédito? E, se perder o emprego, terei dinheiro e conseguirei pagar essa dívida? Nestes casos, sugere-se utilizar o décimo terceiro como forma de redução no estoque de dívida neste fim de ano”, afirma Mello.

Acreditar é preciso

A ampla maioria (94%) dos CEOs no Brasil está confiante ou muito confiante quanto ao crescimento das empresas que lideram nos próximos três anos, alta significativa em relação ao ano passado, quando os confiantes, de modo geral, eram 88%. Além disso, a confiança desses executivos para o crescimento no próximo triênio do setor em que operam atingiu 92%, enquanto 86% avaliavam dessa forma há um ano. Sobre o crescimento da economia nacional, 82% dos CEOs estão confiantes, o mesmo índice do ano passado. Em relação à economia global, houve elevação no saldo de 64% para 74%. Essas são algumas das conclusões do estudo “CEO Outlook 2022”, publicado pela KPMG em outubro contendo respostas de 50 CEOs no Brasil, 255 da América do Sul e 1.325 líderes de outros 11 mercados no mundo.

"A resiliência é uma característica cada vez mais marcante das empresas e os líderes brasileiros estão demonstrando elevado grau de consciência e liderança nesse cenário de incertezas geopolíticas, crise climática e demandas tecnológicas. Todos os desafios recentes não reduziram o nível de confiança no crescimento de empresas, setores e países. As receitas e os quadros de funcionários dos entrevistados não foram impactados negativamente. A pesquisa evidencia que o mercado brasileiro está cada vez mais resiliente, conectado e fortalecido. Isso contribui para explicar o otimismo dos executivos da alta liderança no mercado, nos negócios e na economia”, afirma Charles Krieck, presidente da KPMG no Brasil e na América do Sul.

ckrieck_038_110166_ORG_032021Charles Krieck, presidente da KPMG no Brasil e na América do Sul. (Foto: Divulgação)

Expectativas

Um aspecto relevante da pesquisa está na diferença de opiniões entre os que acreditam que haverá recessão nos próximos 12 meses (32% entre respondentes brasileiros e 86% do grupo global) e aqueles que não acreditam nisso (56% do Brasil e 6% do global). Sobre medidas para ajustar a estratégia para uma possível recessão, os brasileiros apresentaram as seguintes opções: considerar reduzir a base de funcionários (50%), gerenciar custos elevando preços (46%), pausar ou reconsiderar esforços ESG (44%), reduzir margens de lucros (42%), transferir operações no exterior (38%), pausar ou reduzir a estratégia de transformação digital (34%).

ESG na dianteira

Ainda conforme o estudo, para 80% os principais desafios globais de ESG, como desigualdade de renda e mudanças climáticas, são uma ameaça ao crescimento e ao valor de suas empresas. Em 2021, o índice era de 76%. Os CEOs brasileiros também destacaram que para os investidores, reguladores e clientes, o interesse por ESG é imprescindível e deve aumentar: para 86%, pois há uma demanda significativa por mais relatórios e transparência, ante 48% no ano anterior.

Sobre o impacto das ações dessa agenda no desempenho financeiro das empresas, 64% dos entrevistados acreditam que essas ações melhoram o desempenho das contas, contra 56% no ano passado “Importante destacar o que embasa o otimismo dos CEOs.

Eles estão muito conscientes sobre o propósito corporativo e sabem que este ponto é fundamental para gestão estratégica da organização, desde a contratação de talentos até os resultados financeiros. Os líderes de negócios também estão fortalecendo e tornando mais transparentes as iniciativas ESG. E seguem focados em sustentar uma estratégia digital eficiente e agressiva para manter a competitividade e fortalecer a resiliência. Esta, aliás, é a palavra-chave de todo o cenário analisado em nossa pesquisa”, finaliza Charles Krieck.