"Os marketplaces caminham na contramão da crise", afirma Andries Oudshoorn

CEO da OLX Brasil detalha como a companhia quer se posicionar como protagonista no mercado imobiliário.

Andries Oudshoorn_4CEO da OLX Brasil detalha como a companhia quer se posicionar como protagonista. (Foto: Divulgação)

Nascido na Holanda e com mais de 10 anos de experiência na área de classificados digitais, Andries Oudshoorn começou a sua carreira em 1999 como consultor, passando por Braxton Associates – atualmente Deloitte – e McKinsey & Company, momento no qual focou, principalmente, em mídia, telecomunicações e tecnologia.

Trabalhando desde 2008 no grupo Schibsted, no qual ocupou os cargos de COO do Sul da Europa e VP Sênior da América Latina e Ásia, o executivo veio para o Brasil em 2011 com o objetivo de lançar e escalar o Bomnegócio.com por meio de investimentos. Desde a fusão entre o site e a OLX Brasil, em 2015, Oudshoorn está à frente da operação integrada no país.

No final de outubro, a OLX anunciou a conclusão do processo de aquisição do Grupo ZAP, inicialmente anunciado em março, pelo valor aproximado de R$ 2,9 bilhões. Assim, a partir de agora, a empresa passa a atuar no setor imobiliário sob as marcas OLX, ZAP e Viva Real, com posicionamentos complementares para atender às diferentes demandas dos clientes.

Oudshoorn continuará liderando a OLX Brasil e as operações das duas unidades de negócios, OLX e ZAP, que contam com escritórios no Rio de Janeiro e São Paulo, além de filiais regionais. As empresas combinadas manterão aproximadamente 1600 colaboradores focados em reinventar o modelo de consumo dos brasileiros, dos quais 400 são profissionais de tecnologia. Nesta entrevista, o CEO afirma que a empresa visa fortalecer sua posição no segmento imobiliário em uma fase de imenso potencial para digitalização e com amplas oportunidades para a criação de soluções integradas que farão a experiência de comprar, vender ou alugar um imóvel mais simples e fácil.

Revista LIDE: A pandemia do novo coronavírus acelerou a transformação digital nas mais diferentes áreas. O que esse momento provocou na OLX?

Andries Oudshoorn: De maneira geral, a pandemia antecipou estratégias para boa parte das empresas. Um exemplo aqui na OLX Brasil foi com o projeto da OLX Pay, nossa solução de pagamento digital, que já estava em andamento, mas acabou sendo antecipada. Criamos uma verdadeira força-tarefa para levarmos a ferramenta aos brasileiros o quanto antes, já que ela facilita as transações de maneira rápida e segura, diminuindo o contato físico entre comprador e vendedor. Desde julho, ela está disponível para usuários em todo o país.

Esse lançamento representou uma mudança no modelo de negócios da OLX, passando de plataforma de classificados on-line para um marketplace que oferece uma jornada completa, incluindo transações digitais e delivery. Nos tornamos a garantidora das negociações de pagamento de milhões de clientes, imprimindo mais rapidez, simplicidade e segurança nas operações. Além disso, em termos de receita, deixamos de ser uma empresa apenas de mídia para ser também uma empresa de varejo.

Com a aquisição do Grupo ZAP, qual será o papel da OLX no mercado imobiliário nacional?

Para este novo momento, foi definida uma nova organização integrada chamada OLX Brasil com duas unidades de negócios: a OLX, que vai continuar operando como plataforma horizontal com as categorias de Autos, Imóveis, Bens de Consumo, Empregos e Serviços, além da OLX Pay. E o ZAP+, unidade de negócio totalmente focada em imóveis e responsável pelas marcas ZAP, Viva Real, DataZAP, Conecta Imobi, Anapro, Inc Pro, Geoimovel, ZAP Fin e Imobilinks. As unidades OLX e ZAP+ irão trabalhar juntas para melhor atender os profissionais de imóveis. Um primeiro passo será a integração das forças de vendas para imóveis, que ficará sob a gestão do ZAP+, e vai comercializar todos os produtos de imóveis das diferentes marcas do grupo. As marcas e plataformas continuarão independentes. Trabalharemos com objetivo de aumentar nossa relevância no mercado de imóveis on-line brasileiro, para digitalizar este setor e oferecer uma experiência mais completa aos usuários e parceiros. Manteremos todos os esforços e ações que corroborem para estes objetivos.

Quais as principais inovações os usuários que buscam imóveis ou serviços na internet poderão encontrar nesta nova fase da empresa?

O mercado de imóveis é dinâmico e competitivo, e tem um enorme potencial de digitalização, com inúmeras oportunidades para a criação de soluções integradas que tornem mais simples e segura a experiência de compra e venda de imóveis, seja para auxiliar na jornada do consumidor de ponta a ponta ou para ajudar os profissionais do setor a se digitalizarem. O mundo off-line ainda representa cerca de 70% dos investimentos feitos pelos players do mercado imobiliário brasileiro. Nossa expectativa é ter um papel ativo na transformação dos anúncios de imóveis e publicidade para o ambiente on-line, que tem grande potencial de crescimento e pode atrair ainda mais consumidores.

Com a conclusão da aquisição do grupo ZAP, a OLX Brasil se torna protagonista no mercado de imóveis on-line brasileiro. A sinergia entre as plataformas OLX, ZAP e Viva Real posiciona a companhia de forma única. Os três portais juntos compõem a maior audiência do setor imobiliário com 14 milhões de anúncios e seguirão crescendo, de forma independente.

Ganhamos mais consistência para inovar e desenvolver produtos tecnológicos, eliminando obstáculos que criam fricção, garantindo assim maior visibilidade e alcançando públicos em diferentes etapas da jornada e de diferentes perfis, potencializando os resultados. Estamos dando um importante passo para cumprir nossa missão de reinventar o modelo de consumo dos brasileiros.

Qual será o papel da comunicação e da valorização da experiência do cliente neste ambiente de grande concorrência entre empresas 100% digitais como a OLX?

A OLX entende também que este momento exige maior atenção e foco das empresas, uma vez que os hábitos de consumo mudaram, e o acesso à internet e o consumo on-line mostram sinais de crescimento. Com isso, a plataforma orienta que seus clientes aprimorem seus contatos e interações virtuais, a fim de estarem prontos para o momento e também futuramente terem resultados qualificados on e off-line.

Nesse sentido, a OLX aposta em comodidade e segurança para seus usuários que, muitas vezes, ainda estão se familiarizando com o ambiente digital. Além disso, nosso modelo de negócio só funciona quando a empresa consegue ensinar os usuários a consumir de forma diferente. Essa visão de consumo consciente é muito forte e é essencial para construirmos uma sociedade mais equilibrada.

Como você enxerga o futuro do e-commerce no pós-pandemia, o que ainda pode ser melhorado?

Os marketplaces caminham na contramão da crise. Por exemplo, em julho, o número de usuários ativos na OLX cresceu mais de 20%, em relação ao período pré-pandemia (janeiro e fevereiro). Naquele mês foram 8 milhões de pessoas diariamente na plataforma, o equivalente a três vezes a população do réveillon em Copacabana, todo o público de estádio do Campeonato Brasileiro de 2019, ou ainda mais que a população inteira do Paraguai.

Apesar de ter crescido bastante, a digitalização dos usuários e alguns setores da economia ainda pode melhorar e, por isso, continuamos empenhados no nosso propósito de estimular a compra e venda de itens de segunda mão.

Vocês foram uma das primeiras empresas a encorajar o reuso e contribuir com a redução de lixo e de emissões de CO2, dando aos itens segunda, terceira e até uma quarta vida. Como encaram o tema sustentabilidade nesse momento que o assunto ganhou ainda mais atenção do mundo corporativo?

Dados dos últimos anos nos mostraram que não podemos continuar consumindo do mesmo jeito e com a mesma intensidade por muito mais tempo, com a consequência de impactos graves no meio ambiente.

O momento que estamos vivendo hoje acelera a disrupção e novos comportamentos. Vimos isso na crise de 2015 e vemos agora com a Covid-19. Impactos são inevitáveis e, nesse cenário, um novo modelo de consumo se estabelece, e as plataformas de compra e venda devem acompanhar as mudanças, como apostar em comodidade e segurança.

A compra e venda de produtos usados é uma das maneiras de diminuir o impacto ambiental de nosso consumo; ao prolongar a vida útil de um produto, também prolongamos a vida do planeta. Para se ter uma ideia desse impacto, na edição 2020 do estudo Second Hand Effect, as transações feitas pela OLX no ano passado pouparam a emissão de 6 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera.

Os novos meios de pagamento digitais podem aproximar e trazer um novo público para o e-commerce?

As soluções de pagamento digital estão se popularizando no mundo e no Brasil não é diferente por conta da praticidade e segurança que oferece ao usuário. Na OLX, além da solução OLX Pay, também temos parcerias com bancos e fintechs para oferecer empréstimos, financiamentos e cartões. Desta forma, pretendemos ampliar, de maneira democrática e conveniente as opções de serviços aos usuários da nossa plataforma, criando um marketplace de empréstimo pessoal para tornar ainda mais acessível a compra e venda de itens usados. Para os consumidores, a principal vantagem é ter acesso a diversos tipos de crédito pré-aprovado enquanto navegam pela plataforma da OLX. As novas soluções de pagamento trarão ainda mais usuários para as plataformas de compra e venda de itens, sejam eles novos, seminovos ou usados.