Isabela Blasi, Indicium: ‘Empresas que não incorporam a análise de dados correm o risco de ficar para trás’

Executiva é uma das fundadoras da empresa que impulsiona a cultura data-driven, big data e analytics em organizações nacionais e internacionais.

isabela blasiIsabela Blasi, co-fundadora da Indicium. (Foto: Divulgação)

Há seis anos, a percepção de uma defasagem no mercado, que já vivia a transformação digital, aguçou a ideia, vontade e coragem de quatro sócios: Matheus Dellagnelo, Vitor Avancini, Isabela Blasi e Daniel Avancini, a iniciar a jornada de transformação de dados em decisões inteligentes na era dos unicórnios. O pontapé para a criação da Indicium seguiu um caminho menos ‘atraente’ e escalável, como definem os empreendedores, que optaram por uma abordagem de consultoria e serviços.

Apesar de não ser ‘atraente’ no início, hoje a empresa já conquistou o mercado internacional, tendo atuação na Argentina, Canadá, França, Áustria e Estados Unidos – país que garante boa parte do faturamento e que deve receber ainda mais esforços da empresa para a expansão dos negócios. Na carteira de clientes: Fundação Bill e Melinda Gates, Reps & CO, Edenred e Burger King.

Em entrevista exclusiva, Isabela Blasi, uma das fundadoras da Indicium, detalha a trajetória de sucesso da empresa, que já gerou mais de $ 400 milhões em ROI para clientes e cresceu 200% no ano passado. O futuro é ainda mais promissor, com a expectativa de dobrar o faturamento.

Há seis anos, como foi estruturar e colocar em ação a ideia da Indicium?

Acredito que todo empreendedor de primeira viagem, inicialmente, não sabe o que está fazendo. No início da nossa jornada, nós tínhamos uma ideia, muita vontade e, sobretudo, a coragem para tirar tudo isso do papel.

A Indicium surgiu a partir da identificação de um mercado em potencial, focado em tecnologia e dados. Dessa forma, iniciamos nossa jornada com a missão de transformar dados em decisões inteligentes na era dos unicórnios. No entanto, optamos por um modelo de negócios menos "atraente" e escalável, adotando uma abordagem de consultoria e serviços. Isso se justificou pela compreensão de que o processo de gestão da mudança necessário para construir uma cultura data-driven representava um desafio significativo.

Ao longo do tempo, com o auxílio do ecossistema local e a partir da colaboração com cliente após cliente, aprendemos, refinamos nossas metodologias e experimentamos um crescimento consistente, mantendo uma taxa de duas vezes ao ano. Esse processo nos conduziu à fase atual de escala e tração em que nos encontramos hoje.

O que fez vocês migrarem para o mercado internacional?

A decisão de expandir para o mercado internacional sempre fez parte dos planos da Indicium. Sonhávamos em ser uma empresa global, levando nossas metodologias, fortemente baseadas em ferramentas americanas inovadoras para o mercado de dados, a uma audiência mais ampla.

No entanto, antes de expandir para os Estados Unidos, consolidamos nossa posição no mercado nacional, garantindo que nosso modelo de negócios atendesse às demandas dos clientes locais. Avaliamos cuidadosamente nossa presença no Brasil e a satisfação dos clientes antes de dar esse passo crucial. Fortalecemos nossas relações com empresas globais, destacando nossa reputação como base para a expansão internacional.

O momento de dar o próximo passo tornou-se evidente quando validamos nossa solução no mercado estrangeiro. Antes de expandir, garantimos que havia uma demanda real para a solução oferecida pela Indicium. Atualmente, 30% do nosso faturamento provém de empresas dos EUA, demonstrando não apenas a eficácia de nossas abordagens, mas também a receptividade internacional às nossas soluções. Essa transição para o mercado internacional ocorreu de maneira natural ao longo do nosso crescimento, alinhada com nossa visão de impactar positivamente empresas em todo o mundo.

A conquista do primeiro cliente nos Estados Unidos foi um grande marco, e expandimos para outras empresas após adaptarmos nosso negócio à realidade das empresas norte-americanas. Essa abordagem cautelosa e adaptativa tem sido fundamental para o sucesso da nossa expansão internacional.

Além dos EUA, quais outros países vocês atingem?

Atualmente, temos uma presença global com projetos realizados e em andamento em diversos países como Argentina, Canadá, França e Áustria. Embora tenhamos uma presença internacional distribuída em várias regiões, nosso foco principal é expandir a nossa penetração nos Estados Unidos, onde estamos concentrando nossos esforços. Internacionalmente, nos destacamos nos setores de manufatura, varejo e serviços financeiros. Apesar de atuarmos predominantemente nesses setores, nossas soluções são abrangentes e adaptáveis, atendendo às necessidades e desafios de dados de todos os setores e indústrias.

Pensando em Brasil, como é o contexto das empresas e indústrias para a cultura data-driven?

No contexto brasileiro, o cenário das empresas e indústrias em relação à cultura data-driven reflete uma trajetória marcada pela transformação digital, um tema central nos investimentos das grandes empresas nos últimos 15 anos, tanto no Brasil quanto no exterior. Apesar desses expressivos investimentos, muitas empresas ainda não alcançaram o nível de maturidade analítica das líderes. Segundo uma pesquisa da McKinsey, de 2022, sobre a transformação digital no Brasil, alguns setores estão mais bem posicionados nesse processo, incluindo serviços financeiros, varejo, telecomunicações e tecnologia. Por outro lado, setores como indústrias avançadas, indústrias de base, transporte e infraestrutura, e bens de consumo ainda enfrentam defasagens em termos de maturidade digital e analítica.

Na nossa perspectiva, acreditamos que todo tipo de negócio tem o potencial de atingir a maturidade analítica. Tanto empresas tradicionais quanto aquelas que já nasceram digitais podem aplicar a transformação data-driven. No entanto, é importante destacar que as empresas nascidas digitais têm uma vantagem analítica considerável sobre as empresas tradicionais. Isso se deve ao fato de não enfrentarem os desafios da digitalização e não precisarem lidar com as diversas barreiras tecnológicas e culturais associadas a essa transição. Contudo, isso não implica que as organizações tradicionais não possam se adaptar à transição analítica, indicando que há espaço para a evolução em todos os setores.

Na sua visão, qual o risco, em concorrência de mercado, de empresas que ainda não enxergam a cultura de dados essencial?

Na minha visão, o risco para empresas que ainda não enxergam a cultura de dados como essencial é significativo. Os dados são ativos valiosos que, quando utilizados com consciência e inteligência, tornam as empresas mais competitivas. Observando as maiores empresas do mundo, como Apple, Google e Amazon, fica evidente que ser "data-driven" e possuir alto nível de maturidade analítica é uma característica crucial para o sucesso.

Empresas que não incorporam de maneira sistemática a análise de dados em todos os seus departamentos correm o risco de ficar para trás na competição. A maturidade analítica não se resume apenas a dominar tecnologias, mas envolve um processo complexo que abrange pessoas, estruturas organizacionais, dados e processos de governança. Aquelas que não adotam essa abordagem correm o risco de não desbloquear o potencial contido nas suas informações, prejudicando a tomada de decisões estratégicas. Em organizações "data-driven", os princípios e ferramentas de data science e analytics não são utilizados de forma isolada, mas estão integrados à estratégia global e à cultura do negócio, proporcionando uma presença constante no cotidiano de todos os colaboradores. Portanto, ignorar a cultura de dados pode representar um obstáculo significativo para a competitividade no mercado atual.

A expectativa, para este ano, é de saltar o faturamento de R$ 14.9 milhões para R$ 30. Ao que se deve essa boa perspectiva?

A perspectiva otimista de aumentar o faturamento de R$ 14.9 milhões para R$ 30 milhões neste ano é impulsionada por diversos fatores estratégicos. A empresa está atendendo de forma eficaz às crescentes demandas do mercado brasileiro, investindo em inovações e novos serviços. O sucesso na expansão para o mercado americano e a consolidação como parceira de marcas de renome também contribuem para esse crescimento. Além disso, a equipe dedicada e o compromisso com a excelência nos serviços oferecidos são elementos-chave que fortalecem a expectativa otimista. Ao fornecer soluções abrangentes e adaptáveis, a empresa se posiciona para atender às crescentes necessidades do mercado, consolidando sua liderança no setor.

Além do crescimento do faturamento, quais outras novidades estão sendo planejadas para o ano que vem?

Para o próximo ano, planejamos uma série de iniciativas estratégicas para além do crescimento do faturamento:

Ampliação de Portfólio: Desenvolvimento de novas soluções e aprimoramento do portfólio para atender às demandas emergentes do mercado

Expansão Geográfica: Consolidação da presença global, explorando novos mercados e fortalecendo a base de clientes internacionais com foco na América Latina e América do Norte.

Investimento em Tecnologia: Compromisso em permanecer na vanguarda tecnológica, com investimentos em tecnologias emergentes e aprimoramento de capacidades existentes.

Parcerias Estratégicas: Estabelecimento de parcerias estratégicas com organizações líderes para fortalecer a posição da empresa e oferecer soluções abrangentes.

Desenvolvimento de Talento: Investimento contínuo no desenvolvimento da equipe, proporcionando treinamentos e oportunidades de crescimento.