Dezembro Vermelho: cresce número de casos de AIDS entre jovens de 15 a 24 anos

Especialista fala sobre a redução de diagnósticos de AIDS nos últimos anos e preocupação em relação aos jovens que estão entre os principais afetados pela doença.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, de 1980 até junho de 2022, foram diagnosticados mais de 1 milhão de casos de AIDS.  (Foto: Tânia Rego/da Agência Brasil)

O tema ainda é um tabu em muitas rodas de conversas por ter assombrado a década de 1980. Mas, mesmo apresentando redução no número de casos, o mundo ainda vive uma pandemia da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, popularmente conhecida como AIDS.

Segundo dados do Boletim Epidemiológico HIV/AIDS publicado recentemente pelo Ministério da Saúde, no Brasil, de 1980 até junho de 2022, foram diagnosticados mais de 1 milhão de casos de AIDS. A boa notícia é que a taxa de detecção da doença apresentou redução de 26,5% em 2021, mas ainda há um número que desperta a atenção: a infecção em mais de 52 mil jovens entre 15 e 24 anos, de ambos os sexos, evoluiu para AIDS e isso mostra que o desenvolvimento da doença nessa faixa etária precisa ser observado com cuidado.

Para a médica de família da Kipp Saúde, Clarissa Willets, a qualidade das informações a respeito do assunto deveria ser um dos focos das políticas públicas para atingir os jovens. “É preciso utilizar formas de comunicação mais segmentadas para os jovens, especialmente na internet. A UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS) deixa claro que uma atenção específica deve ser destinada à juventude brasileira, tendo em vista os diferentes cenários em que eles estão - área rural, urbana, quilombolas, indígenas, periferias etc. Ações de educação mais direcionadas para esse público devem ser incentivadas, especialmente sobre prevenção, diagnóstico e tratamento”, diz.

Ainda de acordo com a médica, as políticas públicas de saúde devem focar também no estímulo à testagem e diagnóstico precoce. Além de ser fundamental um prognóstico mais favorável, o tratamento também é uma forma de prevenção da transmissão, porque indivíduos com carga viral indetectável não transmitem o vírus.

O Brasil tem uma das maiores coberturas de tratamento antirretroviral (TARV) entre os países de renda média e baixa. Das pessoas estimadas vivendo com HIV, 84% já fizeram o teste, dessas, 75% estão em tratamento e, dentro deste grupo, 92% está com carga viral indetectável.

HIV x AIDS

HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. Causador da AIDS, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Já a AIDS é a sigla em inglês para a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. 

“Ter HIV não significa ter AIDS. Existem muitas pessoas com HIV que vivem anos sem apresentar qualquer sintoma. A AIDS ocorre em uma parcela das pessoas soropositivas, ou seja, que têm o vírus HIV, especialmente quando essas pessoas não fazem tratamento antiviral durante muitos anos”, explica a médica da Kipp.

Diagnóstico e cura

A infecção pelo vírus HIV é considerada uma doença crônica que conta com tratamento eficaz. “Pessoas que aderem à terapia antirretroviral podem ficar com carga viral indetectável durante muitos anos, de modo que seu organismo funciona como o de uma pessoa que não vive com o HIV. Porém, se descontinuar o tratamento, o vírus volta a se multiplicar e a doença pode progredir para a AIDS”, comenta Willets.

A médica lembra ainda que o diagnóstico precoce é muito importante para um prognóstico mais favorável, afinal, a AIDS pode matar. Em 2020 foram mais de 10 mil óbitos pela doença.

A principal forma de transmissão do vírus HIV ainda é por relação sexual sem proteção, mas é possível contrair o vírus por outros meios, que incluem o compartilhamento de seringas e objetos cortantes de uso pessoal, como alicates de cutículas.

“Precisamos deixar claro, também, que picadas de inseto, aperto de mão ou compartilhamento de copos e talheres não transmite o vírus e que esse é um tabu que precisa ser quebrado”, finaliza a médica.

Dezembro Vermelho

Dezembro Vermelho é uma campanha nacional, instituída pela Lei nº 13.504/2017, que promove a prevenção, assistência, proteção e promoção dos direitos humanos das pessoas que vivem com HIV/AIDS e outras infecções sexualmente transmissíveis.