Como uma alimentação saudável pode impactar a saúde mental?

Nutricionista da Firjan explica relação entre saúde mental e nutrição e dá dicas para uma vida mais equilibrada.

portrait-smiling-woman-looking-vegetablesTranstornos mentais estão associados, entre outros fatores, à desnutrição e doenças intestinais.(Foto: Freepik)

Que uma alimentação saudável proporciona diversos benefícios ao corpo, não é novidade. Mas e quanto aos ganhos para a mente? Em que medida a alimentação pode influenciar nossa saúde mental?

Aconsultora de Ciência da Nutrição do Serviço Social da Indústria (SESI) da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Valéria Guimarães, explica os impactos neurológicos de um cardápio mais equilibrado.

Valéria baseia-se na área da psiquiatria nutricional, que analisa dados epidemiológicos dos transtornos mentais. A partir disso, são avaliadas as melhores estratégias para a melhora da saúde integral dos pacientes, incluindo a nutrição. Ela explica que há hábitos alimentares e nutrientes mais favoráveis ao bem-estar mental e ressalta a importância de se analisar cada caso. Leia na entrevista a seguir.

Qual a relação entre transtornos mentais e alimentação inadequada?

O Relatório Mundial de Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 2022, mostrou que, quase um bilhão de pessoas viviam com transtornos mentais. Esses transtornos estão associados, entre outros fatores, à desnutrição e doenças intestinais.

Das publicações envolvendo nutrição e psiquiatria, 80% foram feitas nos últimos seis anos, com o foco no eixo cérebro-intestino. Nessa via bidirecional, a alimentação inadequada pode alterar os micro-organismos do intestino causando, por exemplo, o aumento da permeabilidade intestinal – permitindo que substâncias não desejadas entrem na corrente sanguínea – e a desregulação da síntese de neurotransmissores que pode provocar transtornos mentais.

90% dos pacientes psiquiátricos apresentam constipação intestinal que, pela própria patologia, deixa a pessoa mais sedentária, levando a uma menor motilidade intestinal – movimentos musculares que ocorrem no trato gastrointestinal para mover, misturar e armazenar os alimentos. Além disso, muitas medicações usadas por esses pacientes afetam o trânsito intestinal.

Nesse contexto, as escolhas nutricionais podem contribuir de forma significativa para a saúde mental do indivíduo.

Que hábitos alimentares fazem bem à saúde mental?

O organismo precisa de nutrientes que ajudam no combate à neuroinflamação, na modulação hormonal e na produção de neurotransmissores, importantes para a saúde mental. Esses nutrientes podem ser oferecidos através da alimentação e complementados pela suplementação alimentar. De acordo com artigos publicados, o padrão alimentar mais favorável à saúde mental é a dieta mediterrânea, à base de peixes, grãos integrais, vegetais, frutas e gordura boa.

Essa dieta ainda traz benefícios por ser pobre em carboidratos refinados, com baixa quantidade de alimentos que causam picos de insulina. Alguns nutrientes específicos também devem ser considerados na prescrição do plano alimentar e suplementação dos pacientes com transtornos, como:

- magnésio, necessário para reações bioquímicas e benéfico para pessoas diagnosticadas com depressão;
vitamina A, que ajuda reduzir a neuroinflamação e danos oxidativos no neurônio;
colina, importante para o neurodesenvolvimento;
- vitamina B6, fundamental na síntese da serotonina e vitaminas do complexo B.

O triptofano e seus cofatores, como magnésio, vitamina B9 e vitamina B6, são fundamentais na via de síntese da serotonina, neurotransmissor relacionado ao humor e bem-estar e na formação da melatonina, responsável pela indução do sono. Um plano alimentar rico em ômega-3 e antioxidantes também é indicado para pacientes com transtornos mentais.

Quais aspectos devem ser considerados nos tratamentos de pessoas que sofrem de transtornos mentais?

A individualidade de cada paciente deve ser considerada. Para um tratamento eficaz, é fundamental considerar a individualidade bioquímica e o contexto socioeconômico de cada pessoa. Também é essencial o envolvimento de uma equipe multidisciplinar para uma abordagem terapêutica ampla. Do ponto de vista da psiquiatria nutricional, restabelecer o paciente nutricionalmente pode levar à uma melhor resposta ao tratamento geral.