Marco Perlman: 'Queremos provar para os varejistas que maximizar a rentabilidade também pode tornar o mundo um lugar melhor'

Aravita já recebeu aporte de R$ 12 milhões de reais para viabilizar o negócio, que busca reduzir o desperdício de alimentos frescos com uso da IA.

ARAVITA_Marco Perlman CEO IIIMarco Perlman, CEO da Aravita. (Foto: Divulgação)

Em um país que desperdiça 40% dos alimentos frescos, de acordo com a Abrappe (Associação Brasileira de Prevenção de Perdas), nasce a Aravita, uma foodtech com o objetivo de minimizar essa realidade, usando a tecnologia, mais especificamente, a inteligência artificial, como aliada.

Com foco nas operações de alimentos frescos no varejo, a startup brasileira já chega ao mercado com aporte de R$ 12 milhões, oriundos de investidores internacionais, como Qualcomm Ventures e a 17Sigma, e investidores anjos, como Bernardo Lustosa, sócio e CEO da ClearSale, e Flávio Jansen, ex-CEO da LocaWeb e do Submarino. Em entrevista exclusiva, Marco Perlman, CEO da empresa, abre os próximos passos e o desejo de expandir o negócio em outros países.

Como foi o processo de detectar a oportunidade na gestão de alimentos frescos no Brasil e entender que a IA seria uma aliada para garantir bons resultados?

A Aravita surgiu a partir do propósito dos seus três fundadores de solucionar um problema da vida real de alto impacto, usando elementos como IA e machine learning, com o intuito de ajudar a melhorar o mundo. Aline Azevedo (CPO), Bruno Schrappe (CTO) e eu percebemos que o setor de alimentos convivia com elevado desperdício de produtos frescos, resultando em perdas econômicas, sociais e ambientais, e que isso ainda não estava sendo olhado de forma sistemática e abrangente. 

O nicho de produtos frescos é altamente complexo, o que amplia o potencial de desperdício. Não há praticamente digitalização, são inúmeros fornecedores e intermediários e a demanda está sujeita a muitas variáveis, como clima, sazonalidade e preços. A partir disso, decidimos nos dedicar à questão e unir forças para solucionar esse problema tão grave. 

Hoje, 40% dos alimentos frescos são desperdiçados no Brasil, de acordo com a Abrappe (Associação Brasileira de Prevenção de Perdas). Mas o problema é mundial. Pesquisa da FAO aponta que mais de 45% de todas as frutas e vegetais produzidos no mundo são desperdiçados, o que a torna essa a categoria de alimentos mais desperdiçada no mundo. A IA da Aravita reduz a perda devido ao excesso de estoque, a perda de vendas devido à falta de produtos nas gôndolas e os custos logísticos, o que impacta diretamente na rentabilidade dos varejistas de alimentos, que são o player mais forte da cadeia de distribuição de alimentos - a posição ideal para liderar os esforços e reduzir as perdas.

Em que momento da cadeia do varejo a Aravita entra para melhorar o fluxo e evitar o desperdício?

Nosso modelo de inteligência artificial e machine learning no varejo lida especificamente com a complexidade da gestão de alimentos altamente perecíveis. O objetivo é chegar o mais próximo possível do "pedido perfeito" de produtos frescos, evitando excessos ou falta de produtos, o que resulta em custos desnecessários e perda de vendas. 

A solução de IA da Aravita considera inúmeras variáveis para gerar a melhor combinação de ordens de compra. Ela concilia informações internas da rede varejista - como histórico de vendas, planejamento de promoções, e dados da realidade das lojas - com outras diversas variáveis externas como sazonalidade, datas especiais e feriados, clima, cenário econômico, preço na concorrência, entre outras.  Além disso, a solução da Aravita procura corrigir distorções importantes no controle de estoque e aprimorar de forma sistemática a avaliação de alternativas de fornecimento. 

O foco é endereçar as causas do problema do desperdício de frutas, legumes e verduras - trabalhando na prevenção e não apenas atenuando as suas consequências. 

A Aravita inicia sua vida já com um aporte de R$ 12 milhões de investidores, entre eles, internacionais e grandes brasileiros. Com esse valor, quais são os próximos passos?

O capital levantado está sendo usado no desenvolvimento e aprimoramento da solução de tecnologia. Nossa equipe vem crescendo de forma cuidadosa, incorporando talentos de ciência de dados, tecnologia, supply chain, entre outros.

Aravita_Aline Azevedo e Marco Perlman_em altaCEO, Marco Perlman e a CPO, Aline Azevedo. (Foto: Divulgação)

Pensando na dimensão do Brasil e nas suas complexidades, como a Aravita vai atuar para atender essas diferenças – regionais e de gestão?

Nossos modelos de IA consideram dados e variáveis aplicados a cada categoria de produto e à realidade de determinada rede de supermercado. Consequentemente, a conexão dos dados levantados se torna única para cada cidade, região, rede varejista, e cada ponto de venda.

Em linhas gerais, podemos dizer que oferecemos uma análise e sugestão de pedido únicos para cada SKU, que se desenvolve num contínuo de tempo. Quando o implementamos, a inteligência artificial aprende com a realidade dos nossos clientes sobre a dinâmica da operação com alimentos frescos. São informações diversas e complexas, que variam e evoluem no tempo. Como tudo em IA, novos aprendizados são incorporados e os modelos aprendem e evoluem.

O trabalho da Aravita será direcionado somente aos médios e grandes varejistas?

No Brasil há muitas redes de supermercados de médio e grande porte.  Além dos nomes conhecidos nacionalmente, há dezenas e dezenas de redes regionais, faturando centenas de milhões de reais por ano. Vale destacar que estamos começando com hortifruti, mas vislumbramos expandir para outros departamentos que lidam com alimentos altamente perecíveis, como padaria, laticínios, açougue, refeições prontas e peixaria. Nesse momento, centramos forças no Brasil, um país que é o quarto maior produtor do mundo e que, infelizmente, também é um dos países com o maior índice de desperdício de alimentos, na 10ª posição no ranking, segundo dados da ONU.  Mas certamente temos ambições além do Brasil. 

O Brasil tem a oportunidade de ser protagonista na revolução de negócios mais sustentáveis? Acreditam que o mundo espera isso do país - o que pode ser um reflexo dos investidores internacionais que apostam na Aravita?

A lista dos investidores proeminentes destaca a importância e atratividade da proposta de valor da Aravita. A decisão de investirem na nossa solução impacta simultaneamente diferentes aspectos: ambiental, proporcionando menos emissão de gases de efeito estufa e desperdício de embalagens; social, com 30% da população enfrentando algum tipo de insegurança alimentar; e econômico, aumentando a venda e reduzindo a perda de através de compras otimizadas. 

O Brasil é um berço de startups incríveis que trabalham em prol de negócios lucrativos e conscientes, mas acredito que a tendência de investimentos em negócios sustentáveis é global, ainda mais quando se trata de uma problemática tão relevante e urgente como o desperdício de alimentos enquanto há pessoas passando fome.