Flávia Palacios: ‘Operações de securitização se tornaram alternativa real de captação de recursos para as empresas de diversos setores’

Com a marca de R$ 118 bilhões em emissões neste ano, a Opea, líder no mercado de securitização no Brasil, prevê um universo cada vez maior de investidores no setor brasileiro.

Flavia Palacios_OpeaFlávia Palacios, CEO da Opea. (Foto: Divulgação)

Líder no mercado de securitização brasileiro, a Opea já conquistou a marca de R$ 118 bilhões em emissões neste ano e projeta para 2024 um ótimo cenário de crescimento e desenvolvimento, principalmente no setor do Agro- que após a compra da Planeta Securitizadora, tornou-se um diferencial a empresa. Em entrevista exclusiva, Flávia Palacios, CEO e coordenadora da Comissão de Securitização da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), abre quais são os caminhos do agronegócio brasileiro e o olhar internacional para esse importante setor da economia brasileira.

Quais desafios o setor, principalmente agro, ainda encontra no Brasil para expandir sua participação e atrair mais investidores no mercado de capitais?

Essa importância já vem sendo reconhecida há bastante tempo, mas foi a partir do momento em que os recursos subsidiados para o setor se tornaram escassos, que o mercado financeiro e, principalmente, o mercado de capitais passaram a ter uma visão mais estratégica para o agronegócio. Mas antes mesmo da escassez deste recurso, algumas iniciativas já vinham preparando terreno para a chegada em definitivo dos recursos, como a criação da CPR, da CPR Financeira e dos títulos CDCA, LCA, CRA, CDA/WA, do CRA referenciado em dólar e mais recentemente dos FIAGROs.

Logicamente a análise de crédito e os riscos inerentes ao setor do agronegócio são diferentes quando comparados ao crédito tradicional ao qual o mercado de capitais está acostumado, seja pela dinâmica do setor e de cada cultura em particular, pela dependência do clima e dos preços internacionais ou dos tomadores dos recursos. Os provedores de crédito e os gestores de recursos voltados para o setor ainda estão ajustando seus modelos de crédito para uma nova realidade da indústria, assim como as empresas também precisam se adaptar e evoluir, principalmente em suas estruturas de governança para que o custo de captação venha a se tornar compatível com a realidade do setor, que não tem mais recursos subsidiados para sustentar o seu desenvolvimento.

Hoje, a Opea é plataforma líder no segmento de securitização no Brasil. Quais são as perspectivas de crescimento?

Uma das teses de investimento na origem da Opea em 2021 se baseava no fato de que em economias onde o mercado de capitais (renda fixa) se tornou maduro e uma importante fonte de financiamento para as empresas, o mercado de securitização se desenvolveu naturalmente na sequência. Não que o mercado de capitais brasileiro possa ser comparado ao americano ou ao europeu em termos de volume, participação de empresas ou até mesmo de investidores, mas hoje temos um ecossistema organizado, bem regulamentado, mas ainda pouco acessível a grande parte das empresas brasileiras.

E o mercado de securitização vem na mesma toada, com diversos avanços regulatórios, novos produtos e muita tecnologia para suportar crescimento, inovação e segurança das transações.

Saímos de 75 operações realizadas em 2021 para 150 operações em 2022 e devemos encerrar o ano de 2023 com um número superior a este, mesmo com um cenário econômico mais adverso no primeiro semestre do ano, o que nos dá mais certeza ainda de que as operações de securitização se tornaram efetivamente uma alternativa real de captação de recursos para as empresas de diversos setores (não só daqueles que contam com benefícios fiscais) e para um universo cada vez maior de investidores.

Com a marca de R$ 118 bilhões em emissões, neste ano, em mais de 1230 séries, há uma meta de crescimento para o ano que vem?

Como mencionado na pergunta anterior, nossa atividade vem crescendo significativamente e acreditamos que o crescimento deva continuar. Além de uma visão de desenvolvimento do mercado de capitais e do mercado de securitização, nossos investimentos em tecnologia e desenvolvimento de novos produtos e serviço visam melhorar a experiência de quem quer usar o mercado de capitais como alternativa de captação de recursos, o que tende a viabilizar uma maior escala na originação e execução destas transações.

Nossa meta para o ano de 2024, para além dos números, está muito baseada na continuidade do desenvolvimento da nossa plataforma de serviços voltados para operações de crédito estruturado, na criação de novos relatórios e acompanhamentos automatizados das operações, e na entrega de uma nova experiência de interação entre a Opea e seus parceiros. Acreditamos que estas frentes levem maior conhecimento e confiança aos investidores, ampliando por consequência a demanda por nossos produtos.

Com pouco mais de dois anos no mercado, os Fiagros ultrapassaram a marca de 300 mil investidores em junho. O agro está mais aberto ao mercado de capitais?

É uma relação em evolução – Fiagros e o Agronegócio, e ambos vão se beneficiar do crescimento mútuo. Diversos fatores têm contribuído para o aumento do número de Fiagros e, por conseguinte, dos investidores dispostos a investir no agronegócio. Um deles é a existência, a partir da criação dos Fiagros, de gestoras de recursos dedicadas ao setor e que reúnem conhecimento técnico e capacidades de análise de riscos e de seleção de ativos para o portfólio do fundo.

O bom momento vivido pelos mais diversos setores do agronegócio nos últimos anos também teve um impacto positivo do ponto de vista de percepção de saúde do setor. E, não menos importante, o benefício fiscal representado pela isenção de imposto de renda auferido sobre os rendimentos das cotas do Fiagro também foi determinante para o aumento do interesse dos investidores por este veículo.

O interesse de investidores internacionais no agro brasileiro está relacionado ao cumprimento de regras sustentáveis? Como a Opea enxerga essa movimentação?

O agronegócio brasileiro é muito grande e sua capacidade de atrair investimentos externos está só no início. Hoje, apenas as grandes empresas do setor têm acesso ao capital internacional. Mas ainda assim, estas empresas dependem de janelas específicas de mercado, de apetite para risco Brasil, risco de conversibilidade de moeda e taxa de câmbio. Precisam ser operações com volume significativo para justificar uma emissão internacional e seus altos custos.

Com o surgimento de novos veículos internacionais focados em investimentos sustentáveis, que trabalham num range de valores mais próximos a realidade das transações brasileiras, com a possibilidade das operações serem referenciadas em dólar e, com demandas de rentabilidade, em geral, inferiores aos investidores tradicionais, uma nova fronteira de financiamento se abre para as empresas do setor.

Como a Opea está se estruturando para atender o agronegócio?

Hoje nossa estrutura de negócios está sustentada em 3 pilares: o imobiliário, o agronegócio e o que chamamos de multissetores, que são os setores não imobiliário e não agro. Em 2022 adquirimos a Planeta Securitizadora que tinha uma presença muito forte no agronegócio, o que acelerou nossa participação nas operações de CRA desde então. Hoje é um diferencial para nossa atividade no agro, a prestação do serviço de cobrança, conciliação e monitoramento das garantias associadas às operações de CRA emitidas pela Opea, que além de integrar todo o processo em casa, nos dá um controle muito próximo da operação.

Além disso, observando o interesse das empresas do agro por operações ou veículos que trouxessem mais flexibilidade para adaptação à dinâmica do setor e maior perenidade no processo de captação de recursos, a Opea adquiriu uma gestora em 2022 para passar a oferecer também seus serviços de gestão fiduciária de operações através da emissão de cotas de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios. Hoje temos sob gestão 3 FIDCs voltados para o agronegócio, em volume aproximado de R$ 1 bilhão e novos FIDC para o setor agro em nosso pipeline que tendem a mais que dobrar este volume no curto prazo.