Taciana Abreu, Grupo Soma : 'Nossas estratégias e iniciativas sustentáveis impactam diretamente nos nossos negócios'

Executiva foi a responsável por criar a área de Sustentabilidade do maior conglomerado de varejo de moda do Brasil, que hoje, tem reconhecimento internacional pelas iniciativas com impacto positivo no meio ambiente, na governança e no social.

Taciana Abreu_head de sustentabilidade_Grupo SOMA (1)Taciana Abreu, head de Sustentabilidade do Grupo Soma. (Foto: Divulgação)

Maior conglomerado de varejo de moda do Brasil, com 15 marcas no portfólio, o Grupo Soma passou a integrar o Movimento B - índice internacional que certifica empresas comprometidas em gerar resultados positivos no âmbito ESG. Mas se esse reconhecimento hoje é possível, deve-se à percepção de Taciana Abreu - uma intraempreendedora, como se identifica e atualmente head de Sustentabilidade do Grupo.

A executiva aproveitou seu ingresso a FARM, em 2016, para construir a estratégia de Sustentabilidade da marca e criar, cinco anos depois, a área na qual hoje é responsável - colocando em prática aquilo que acredita: empreender novas ideias, processos e melhorias dentro da própria empresa.

Nesta entrevista exclusiva, Taciana Abreu detalha como ESG e negócios são indissociáveis, e os desafios de gerir esta agenda de maneira individual para as marcas do grupo - respeitando a maturidade de cada uma.

 ESG e negócios, hoje, são indissociáveis? Por quê?

Com certeza. A sociedade está cada vez mais consciente sobre a temática ESG e olhando para as marcas e companhias a respeito de como atuam em relação a seus impactos e causas ambientais, sociais e de governança. Nossos stakeholders, incluindo clientes, funcionários, fornecedores, comunidades e, naturalmente, acionistas, também estão muito atentos às nossas práticas. Nesse sentido, nossas estratégias e iniciativas sustentáveis impactam diretamente nos nossos negócios.

Para a fomentação dos negócios, hoje é fundamental que as empresas também estejam estruturadas para desenvolver projetos e iniciativas ESG. Um ponto importante aqui é sempre evitar o 'Green washing', garantindo que as práticas estejam devidamente reportadas e acompanhadas ou medidas por metodologias e índices aprovados globalmente ou localmente. No nosso caso, acabamos de nos certificar como Empresa B e temos como meta entrar também no Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3, o ISE.

De acordo com levantamento da Global Fashion Agenda, a indústria da moda é a segunda mais poluidora do mundo. Como o Grupo atua para reduzir esse impacto?

Em relação ao meio ambiente, um dos nossos principais objetivos é descarbonizar a operação e a cadeia de valor, pautando escolhas na ecoeficiência e acelerando a economia circular. Temos a meta de reduzir em 45% o consumo de água e a geração de efluentes até 2030, e já atingimos 34% de redução. Também buscamos atingir 100% do uso de energia renovável até 2025. Hoje, estamos em um patamar de 76% de uso deste tipo de energia.

Além disso, nos comprometemos a ser Aterro Zero até 2030 e, para tanto, praticamos a política dos 5Rs (repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar). Em 2022, 96% dos nossos resíduos foram reciclados – sendo que 100% dos resíduos têxteis foram encaminhados para reciclagem e o impacto das nossas embalagens de todas as nossas marcas foi compensado por meio da parceria com a Eureciclo.

Por último, mas não menos importante, somos alinhados com o objetivo de atingirmos o Net Zero até 2050.  Há 3 anos, realizamos a compensação de 100% das nossas emissões de Gases de Efeito Estufa, com créditos de carbono provenientes de energia renovável, geração de biogás e restauro florestal. Atualmente, estamos trabalhando no nosso plano de redução de emissões com ações de ecoeficiência em todas as áreas da empresa – da criação, passando pela produção, à logística e vendas.

Como é organizar a demanda ESG para as quinze marcas do Grupo, que atingem públicos diferentes, e, portanto, recebem cobranças também distintas?

Temos uma visão estratégica no Grupo que é desdobrada para nossas marcas, respeitando o momento e o nível de maturidade de cada uma no assunto. O Grupo tem como objetivo produzir uma moda cada vez mais limpa, justa, bela e ética. Isso se traduz em metas corporativas e metas pensadas para a realidade de cada marca. Algumas das nossas metas comuns são avançar nas agendas de diversidade, equidade e inclusão; descarbonização e certificações de matérias primas, para citar algumas. As marcas têm a liberdade de construir junto com a gente o “como” chegar lá. Por exemplo, cada uma possui uma lógica de coleção diferente, então no caso das certificações, a Hering hoje tem praticamente 100% do seu algodão comprado certificado ABR - Algodão Brasileiro Responsável. Já na FARM, a meta está em avançar na certificação da viscose, que é sua grande matéria-prima e na Animale, na rastreabilidade do couro.

As marcas também têm autonomia para criar seus projetos de destaque, de acordo com o DNA de cada uma e de forma alinhada à estratégia do Grupo. A FARM por exemplo, abraça a regeneração ambiental e a cultura brasileira, já a Animale, a equidade de gênero e o empoderamento feminino. A Fábula abraça a infância e a educação ambiental, já a Hering tem feito ações lindas em prol da redução das desigualdades e tem um histórico muito importante na produção ecoeficiente do seu ícone - a camiseta world. Todas estas iniciativas de marca corrobora com a agenda ESG do Grupo e alimentam as nossas conquistas também, como foi o caso da Certificação B.

Qual o impacto ao Grupo e à indústria nacional da moda com o ganho da certificação B?

Temos uma grande responsabilidade socioambiental enquanto indústria da moda. A Certificação B é uma conquista de grande relevância nesse sentido, já que nos reconhece como uma empresa comprometida em gerar resultados positivos tanto do ponto de vista econômico, quanto ambiental e social. Além disso, ela comprova o valor que geramos para o bem-estar das pessoas e do planeta. Isso reforça nossa credibilidade como uma empresa que se empenha nos cuidados e iniciativas sustentáveis, estreitando a relação de confiança da cadeia de moda e dos nossos stakeholders incluindo fornecedores, colaboradores, acionistas e etc. Além disso, a certificação abre portas para um relacionamento global com outras empresas B, investidores e especialistas em sustentabilidade, o que facilita nosso caminho de ampliação dos impactos ESG que queremos causar e também da expansão de negócios.

Hoje, quais são os maiores desafios para a moda brasileira em encarar a agenda ESG como primordial nos negócios?

Acredito que as principais dificuldades, hoje, estejam relacionadas à ausência de uma cultura de sustentabilidade e à falta de reconhecimento e apoio interno para o tema. É fundamental que as empresas de moda brasileira conheçam bem o negócio e os impactos dele, para então saber qual a melhor forma de atuar rumo à transformação positiva.

Vale lembrar que ‘sustentabilidade é uma jornada’, portanto, é necessário ter consistência na estratégia, assumindo que todo negócio é imperfeito e deve visar a eficiência, de acordo com as demandas do mundo – seja na geração de lucro, na preservação dos nossos recursos naturais, ou nas relações com as pessoas e as instituições.

Partindo daí, as chances de ter uma aplicação genuína da sustentabilidade são maiores. Mas, nada é possível de ser feito sem o engajamento dos colaboradores em todos os níveis hierárquicos. O envolvimento da alta liderança é fundamental para garantir o foco estratégico, a viabilidade financeira, e o direcional para os times. E é na realização de cada atividade que os indivíduos poderão contribuir para o que acreditam, com alinhamento de valores pessoais com os da empresa.

A sustentabilidade não é uma tarefa de uma área específica, é feita por todos e demanda influência em diferentes áreas da empresa. É uma pauta urgente e transformacional.

A palavra intraempreendedor é bastante citada nas suas entrevistas. Você encara que esse é um profissional essencial nas empresas? Por quê?

Eu amo esta ideia e me identifico como uma intraempreendedora de impacto. O intraempreendedor é aquele que empreende novas ideias, processos e melhorias no ambiente corporativo. A ideia da figura do intraempreendedor de impacto é a de que ele ajude a implementar novas soluções e processos dentro da empresa onde trabalha buscando melhorar o seu impacto social ou ambiental. Isto pode ser feito a partir de qualquer cadeira, basta usar esta “lente” nas suas ações e decisões diárias, de forma sempre alinhada aos objetivos do negócio, claro. Não é sobre criar agendas próprias, mas sobre alinhar um talento ou perfil profissional - mais empreendedor - às necessidades contemporâneas e a construção do negócio. Eu adoro e recomendo, para quem quiser saber mais sobre o assunto, as ações da Liga dos Intraempreendedores no Brasil ou The League of Intrapreneurs, que é a iniciativa Global.

Conheça alguns dos projetos do Grupo:

FARM - MIL ÁRVORES POR DIA, TODOS OS DIAS

A natureza sempre foi a maior inspiração para a FARM. Desde 1997, a marca cria roupas e estampas inspiradas nas belezas brasileiras. Por isso, foi natural abraçar o compromisso com a proteção e regeneração de biomas brasileiros com iniciativas de reflorestamento espalhadas pelo país. Em 2020, essas ações ganharam força, se transformando no programa “Mil árvores por dia, todos os dias”, que levou ao marco de 1 milhão de árvores plantadas até o final de 2022, em todos os biomas brasileiros, além de ter sido reconhecido na Premiação “Estratégia ODS”.

O programa proporciona grandes impactos diretos e indiretos com seu plantio. Esta iniciativa, se conecta a estratégia de neutralização de emissões de CO2e da marca, assim como do Grupo como um todo e proporciona diversos co-benefícios regionais nos locais em que ocorrem os plantios, dentre eles: preservação da biodiversidade, melhora de recursos hídricos a longo prazo, movimentação de economia local, geração de alimentos para comunidades no entorno, preservação de culturas regionais/indígenas (dependendo do local), melhora da qualidade do ar e solo, dentre outros.

ANIMALE + INSTITUTO DONAS DE SI

A Animale é a marca do Grupo SOMA embaixadora do Movimento Elas Lideram, iniciativa do Pacto Global que prevê a ocupação de 50% de mulheres em cargos de liderança até 2030. E, englobando os relacionamentos com diferentes públicos e visões e práticas sobre diversidade e direitos humanos, mantém a parceria com o Instituto Dona de Si, que tem como objetivo ser um alavancador de talentos femininos em todos os setores da economia.

O Instituto Donas de Si é uma das instituições beneficiadas pelo programa Animale Vintage, só em 2022, a marca investiu R$ 160.000,00 na segunda edição do projeto Lab de Moda para mulheres em situação de vulnerabilidade social do Morro dos Prazeres (RJ).

Na 1ª edição, foram aceleradas na “Jornada de Si” 30 mulheres nas 70 horas de aula de corte, costura e modelagem; todas as beneficiárias formaram e desenvolveram 17 peças piloto de coleção autoral. Esta entrega marcou também o começo do empoderamento financeiro por meio da oferta de seus serviços de corte/costura e, modelagem, sendo que algumas das mulheres desenvolveram, inclusive, marcas próprias.

HERING - PROJETO WORLD T-SHIRT

O produto ícone da marca Hering, a camiseta World, comemorou 30 anos de existência em 2021. A peça, desde sua criação, foi pensada para contemplar atributos de sustentabilidade: é feita com modelo de produção ecoeficiente. Sem costuras laterais, restam menos aparas no processo. Assim, há uma economia de 33% em matéria-prima e água a cada produto confeccionado. Em 2021, a Hering realizou a ACV (avaliação de ciclo de vida de produto) para equilibrar os impactos ambientais da peça. Desde então, a marca compensa as emissões de Gases de Efeito Estufa de cada camiseta. De junho de 2021 a dezembro de 2022, foram adquiridos 26.885 créditos de carbono para o projeto. Por ano, são mais de 4,5 milhões de camisetas que deixam um impacto mais responsável na moda.