Mineração prevê investimento de US$ 40,4 bilhões até 2026, aponta pesquisa

Questões ligadas a ESG estão no topo da agenda dos executivos do setor, cujos investimentos socioambientais somam US$ 4,2 bilhões.

O setor de mineração no Brasil prevê investimento de US$ 40,4 bilhões até 2026, dos quais US$ 4,24 bilhões são destinados para questões socioambientais e o restante para produção e infraestrutura. A informação consta do estudo “Riscos e Oportunidades de Negócios em Mineração e Metais no Brasil”, que acaba de ser divulgado pela consultoria EY em parceria com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Foram entrevistados executivos de dez das principais empresas mineradoras do país, em março deste ano.  

O levantamento aponta também que estão entre os principais pontos de atenção desses executivos: o impacto nas comunidades locais (55%), a biodiversidade (35%) e a descarbonização (35%) ao tratar a questão ESG; e o impacto da carga tributária sobre a indústria da mineração (55%), a precificação de carbono (30%) e as políticas de atração de investimentos (30%) ao abordar as questões que os governos podem pautar em 2022. 

“Nos últimos anos houve uma internalização mais profunda e abrangente do setor e das empresas para o ESG. Estamos tratando de iniciativas muito concretas, com metas, ações e métricas que podem ser acompanhadas por toda a sociedade: usar menos água, priorizar recursos renováveis para gerar energia, respeitar e ouvir as comunidades, desenvolver excelência em governança e em segurança operacional, entre outros pontos”, diz o diretor-presidente do Ibram, Raul Jungmann. “O setor deu passos importantes e há uma consciência de que o futuro passa pela questão da sustentabilidade socioambiental”, completa. 

Para o sócio-líder de Mineração e Metais da EY na América do Sul, Afonso Sartorio, o desafio ambiental tornou-se mais evidente nos últimos anos, gerando uma postura mais rígida das mineradoras. “Elas ainda têm muito trabalho a fazer em termos de descomissionamento de barragens alteadas a montante, além de profundas mudanças no campo regulatório relativo a essa gestão e operação. As informações apontadas no estudo deixam evidente que os projetos de extração têm de evoluir para minimizar cada vez mais os riscos associados ao meio ambiente”, afirma. 

REPUTAÇÃO  

Rodrigo Alvarenga Vilela, CEO da Samarco, umas das mineradoras participantes da pesquisa, concorda que houve avanços após os rompimentos das barragens de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. “É inegável que após os trágicos acidentes de 2015 e 2019 tivemos avanços em legislação, aplicação de tecnologia e esforço na interação com a sociedade. A crítica que faço ao nosso setor é que não podemos ficar estagnados no nível de reputação atual porque não será suficiente para a gente galgar as necessidades do setor para o futuro. A agenda do ESG é fundamental e chamo a atenção para o ‘G’ (governança) que é o ponto que deve ser desenvolvido no nosso setor”, pondera. 

Para Wilfred Brujin, CEO da Anglo American, os resultados da pesquisa espelham o que a mineradora tem trabalhado no âmbito ESG. “É essencial que a gente tenha uma relação mais harmoniosa possível com nossa comunidade. Sem diálogo com essa comunidade nós perdemos a licença para operar. Não podemos ouvir só as demandas dos governos municipais e estaduais porque eles mudam com o passar do tempo e a atividade da mineração é mais longeva. Mas devemos entender quais as necessidades das lideranças comunitárias porque nós chegamos depois que a comunidade já estava estabelecida naquele local. Se isso for bem administrado e bem conduzido, de uma forma que atenda a todas as demandas, nos dá tranquilidade que nosso papel social está bem desenvolvido.” 

De acordo com Sartorio, a mineração legal no Brasil trabalha com atenção às comunidades e está evoluindo em direção ao que se convenciona de “long term value” (valor a longo prazo). “Quero desenvolver a comunidade num curto prazo, mas quero saber que, a longo prazo, essa comunidade vai prosperar mesmo quando a mina já esteja fechada. E para isso terá sido feita a transição ambiental e a transição do desenvolvimento das atividades econômicas que mantenham essa sociedade pujante no longo prazo”, afirma. 

IMPOSTOS E ROYALTIES 

Impacto da carga tributária, precificação de carbono e políticas de atração de investimentos são mencionados pelos entrevistados quando questionados sobre o papel do governo em 2022, ano eleitoral.  

O CEO da Samarco, Rodrigo Vilela, afirma que, pelo fato de a mineração ser um negócio de longo prazo, o papel do governo é fundamental para segurança jurídica e social e para atrair investimentos. “Para atrair investimentos e continuar a ser competitivo mundialmente, é preciso um governo forte, com regulamentações claras e segurança jurídica. Em ano eleitoral, começamos a enxergar fatores de risco em relação a questões tributárias.”  

Segundo Vivela, isso traz efeitos ruins a longo prazo pela falta de segurança jurídica e de previsibilidade. “O que deveríamos estar debatendo é uma reforma tributária”, diz.  

Sobre a questão da precificação do mercado de carbono, o CEO da Samarco vê como positiva. “A mineração do Brasil tem uma vantagem competitiva enorme sobre esse novo mercado que surge. Temos também oportunidade de tratar a questão do aquecimento global como algo estruturado, com metas claras.” 

PERFIL DA MINERAÇÃO NO BRASIL 

Além do aumento de 62% no faturamento em 2021, na comparação com 2020, os dados da pesquisa da EY e do Ibram mostram que a indústria de mineração e metais no Brasil gerou alta de 62,3% na arrecadação de impostos em 2021, totalizando R$ 117 bilhões, bem como aumento de 8% na criação de empregos, totalizando quase 15 mil novas vagas, somando cerca de 200 mil empregos diretos no encerramento do ano. No primeiro trimestre de 2022, a indústria da mineração teve como desempenho produção estimada em 200 milhões de toneladas, com faturamento de US$ 56,2 bilhões e recolhimento de US$ 19,4 bilhões de tributos. 

Na observação dos números relacionados aos produtos extraídos do solo brasileiro, o principal deles – o minério de ferro - somou, sozinho, 357,7 milhões de toneladas e US$ 58 bilhões em exportações em 2021. No ano passado, o ouro, o cobre e o calcário também contribuíram para esse desempenho ao apresentarem resultados relevantes. No primeiro trimestre de 2022, a produção estimada de minério de ferro foi de 72,3 milhões de toneladas e as exportações totalizaram US$ 6,4 bilhões.