Diversidade de todos os tipos: o que ainda falta na mídia e a publicidade no Brasil

De acordo com a última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que 23,9% da população brasileira tenha algum tipo de deficiência, incluindo deficiências visuais, físicas, auditivas, cognitivas ou outras. Desses, 16 milhões (8,6% da população total) têm alguma deficiência grave.

Crédito Erika Dominiquini - iStock O que ainda falta na mídia e a publicidade no Brasil?  (Foto: Erika Dominiquini - iStock)

Hoje é o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência no Brasil, data que surgiu como forma de garantir a integralização das pessoas com deficiência na sociedade de maneira igualitária e sem preconceitos. Mas apesar das campanhas de conscientização, dos esforços das ONGs e das leis promulgadas pelo governo, as pessoas com deficiência no Brasil ainda estão subrepresentadas na mídia, perpetuando um status quo que as mantêm marginalizadas e privadas de oportunidades para desenvolver sua vida pessoal e profissional.

De acordo com a última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que 23,9% da população brasileira tenha algum tipo de deficiência, incluindo deficiências visuais, físicas, auditivas, cognitivas ou outras. Desses, 16 milhões (8,6% da população total) têm alguma deficiência grave. No entanto, as pessoas com deficiência estão representadas em menos de 1% de todo o conteúdo que é utilizado no Brasil, de acordo com VisualGPS, nossa plataforma de pesquisa creativa.

Esquecendo estereótipos

Mas quais são os estereótipos visuais das pessoas com deficiência? Dentro dos poucos exemplos que mostram representações visuais populares, as pessoas com deficiência são retratadas vivendo uma vida definida por suas limitações: geralmente são mostradas sozinhas ou separadas de suas comunidades, sem foco em suas histórias de vida, antecedentes ou rotinas cotidianas. De fato, 2 em cada 3 conteúdos visuais mostram brasileiros com deficiência em ambientes médicos e 41% mostram que estão sendo cuidados por outras pessoas, o implicando que não são autossuficientes.

Por outro lado, poucos são centrados como personagens principais de suas histórias, desfrutando de experiências gratificantes: apenas 2% das pessoas com deficiência são retratadas com um parceiro romântico, 6% são retratadas se exercitando e apenas 12% são mostradas como parte de um grupo ou comunidade, o que reforça a ideia de que sua deficiência é o aspecto único de sua identidade que vale a pena compartilhar.

Os estereótipos associados ao alcance e ao papel desempenhado pelas pessoas com deficiência na sociedade impactam a forma como são percebidas: quase todos os brasileiros com deficiência relatam ter sofrido preconceito devido à sua deficiência durante o último ano, de acordo com nossa pesquisa VisualGPS. Além disso, 46% das pessoas com deficiência no Brasil percebem que foram discriminadas por serem “mais fracas” (principal motivo do país), enquanto 33% percebem que foram discriminadas por serem consideradas “diferentes”. Assim, podemos inferir que mostrar pessoas com deficiência integradas em suas comunidades seria uma forma mais inclusiva de visualizá-las.

As pessoas com deficiência podem ter vidas plenas

Outro ponto negativo quando se trata de representação de pessoas com deficiência no Brasil é a falta de interseccionalidade. A interseccionalidade refere-se à natureza interconectada das categorizações sociais que criam sistemas de discriminação sobrepostos. Por exemplo, embora os idosos sejam a faixa etária mais prevalente entre as pessoas com deficiência segundo o IBGE, os recursos visuais tendem a se concentrar exclusivamente em adultos jovens ou crianças com deficiência. Além disso, embora o IBGE tenha constatado que os negros representem mais da metade da população brasileira, eles são representados em apenas 13% dos visuais mais populares entre as pessoas com deficiência.

Finalmente, olhar apenas para os visuais populares em nossa plataforma de tendências visuais, VisualGPS Insights, sugeriria que as pessoas com deficiência podem não ter expressões de gênero, identidades de gênero ou orientações sexuais fora da norma, porque as pessoas LGBTQ+ com deficiência raramente são retratadas.

Portanto, incentivamos escolhas visuais instigantes e poderosas que pareçam genuínas e retratem as pessoas com deficiência de uma perspectiva autêntica, considerando diferentes interseções de suas identidades.

Outro aspecto importante de retratar das pessoas com deficiência é mostrar sua participação na força de trabalho. Apenas 28,3% das pessoas empregadas com deficiência em idade ativa são contratadas, em comparação com 66,3% das pessoas ocupadas sem deficiência. Isso é replicado em representações visuais: apenas 1% dos recursos visuais sobre locais de trabalho apresentam pessoas com deficiência. Dessa forma, o público não se acostuma a ver pessoas com deficiência trabalhando.

Portanto, as narrativas visuais devem refletir as pessoas com deficiência de uma perspectiva não estereotipada: ao invés de mostrá-las sempre tentando superar desafios, incentivamos os contadores de histórias a retratar as pessoas com deficiência em ambientes de trabalho, colaborando com colegas que podem ou não ter deficiência, como parte de comunidades maiores dentro das salas de aula e em outras interseções de identidade, como raça, etnia, identidade de gênero ou idade.

A indústria deve criar espaço para que pessoas de todas as origens apareçam em uma variedade de verdades diferentes, sejam quais forem, e essas verdades precisam aparecer na maneira como suas histórias são contadas na publicidade e no marketing. Sim, é complexo e sim, exigirá um tipo de construção de prática que é novo e desconhecido. Mas se você está realmente comprometido com a diversidade e a inclusão, vale a pena fazer um esforço. É hora das marcas e agências aparecerem, fazerem sua parte e serem a mudança que as pessoas, todas as pessoas, querem ver.