Térmicas ligadas ajudarão a recuperar reservatórios mesmo em período de chuva
Avaliação é do ex-diretor da Aneel Edvaldo Santana, que esteve em reunião do Conselho de Infraestrutura da CNI. Encontro teve debates sobre a crise hídrica e sobre as perspectivas para o sistema ferroviário.
Um dos principais especialistas em setor elétrico do Brasil, o ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Edvaldo Santana afirmou nesta quarta-feira (29) que o risco de racionamento de energia está se desenhando há alguns meses e que há possibilidade real de falta de luz em algumas regiões brasileiras. Ele defendeu que, mesmo se as chuvas vierem com intensidade, as termelétricas devem ser mantidas ligadas para que os reservatórios das hidrelétricas possam se restabelecer.
“Uma maneira de recuperar reservatórios é manter as térmicas ligadas mesmo durante o período de chuva”, afirmou Santana, durante apresentação na reunião do Conselho Temático de Infraestrutura (Coinfra) da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
“Quem está nos salvando de uma crise maior são as termelétricas. Mas o risco de haver falta de potência por alguns minutos ou algumas horas em certas regiões do país existe já agora em outubro”, acrescentou.
Para Edvaldo Santana, as mudanças climáticas têm peso importante nesta situação crítica de redução da capacidade de água para a geração de energia elétrica. Segundo ele, no momento não resta outra opção senão “torcer para chover”, além da implementação de medidas pontuais como as já adotadas pelo governo, a exemplo do programa de redução voluntária da demanda.
Durante a reunião, o especialista criticou o fato de as hidrelétricas do país terem baixa capacidade de reservatórios e apontou as tarifas distorcidas de energia como o principal fator motivador da crise pela qual passa o setor elétrico. Como parte da solução, Santana defendeu a abertura do mercado para que os preços se equilibrem e o setor possa se fortalecer.
Investimentos em ferrovias serão insuficientes para reduzir dependência das rodovias
Os conselheiros do Coinfra também debateram nesta quarta as perspectivas para o sistema ferroviário nacional. O ex-diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e ex-presidente da Empresa de Planejamento e Logística SA (EPL) Bernardo Figueiredo foi o responsável por apresentar um panorama do setor.
Segundo ele, mesmo diante da iminente aprovação do marco legal das ferrovias, não há perspectiva de que nos próximos 15 anos o país deixe a extrema dependência em relação ao transporte rodoviário.
“A permanente ameaça que temos de paralisação dos caminhoneiros nos indica a dependência que temos dos caminhões. A oferta rodoviária, hoje, é maior que a demanda, em função de não termos um crescimento econômico mais sólido. Mas se o país voltar a crescer vai haver uma pressão em cima do transporte rodoviário, o que vai levar ao aumento do frete”, destacou Figueiredo.
Ele disse ainda que é preciso modernizar ferrovias construídas na primeira metade do século passado e seguir o exemplo de trechos que são eficientes no escoamento de minério de ferro e produtos agrícolas. “Vamos chegar em 2035 com uma pressão ainda grande de investimento no sistema rodoviário, porque o que temos feito em ferrovia não será suficiente”, pontuou.