PIB: Economia brasileira do auge ao declínio em 20 anos

Derrocada da economia brasileira está fortemente associada ao desempenho de indústrias de transformação e construção. Produtividade, com aumento de 20% entre 2001 e 2013, estagnou-se a partir de 2014. Serviços, que têm baixa produtividade, evoluem de forma semelhante ao PIB.

Especialistas FGV IBRE
Da esquerda para a direita, Claudio Considera, Isabela Kelly, Juliana Trece, ambos especialistas do FGV IBRE. (Foto: Divulgação)


O IBGE divulgou os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) referentes a 2021: cresceu 4,6%, recuperando a queda de 2020. O valor per capita de 2021 é de R$ 40.688,00, ainda inferior ao de 2010. Conforme as Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, a economia brasileira cresceu (51%) no período 2001-2019, e o PIB per capita cresceu 24%, parecendo ter entrado em nova fase de expansão, a despeito dos percalços pelo caminho. Isso foi interrompido pela pandemia, mas não só. Agora há um fator a mais: a guerra Rússia x Ucrânia.

A que se pode associar tal desempenho, ignorando os fatores externos? Ao examinar as atividades que compõem o PIB, nos últimos 21 anos, conforme resultados em reais de 2021, verifica-se que a agropecuária praticamente dobrou seu valor adicionado (VA). Sua qualidade é ser uma “commodity” com forte demanda e elevado valor internacional. A indústria teve um desempenho bem inferior, aumentando seu VA em 27,7%. (continua)

Conforme as Contas Nacionais Trimestrais, os piores desempenhos na indústria foram a de transformação e a da construção. Por outro lado, a extrativa mineral (“commodities”) e a eletricidade apresentaram crescimento significativo. Os serviços, por sua vez, tiveram seu VA aumentado em 55,7% representando, em 2021, 69% do VA total da economia.

Outro aspecto importante é o desempenho da produtividade, com aumento de 20% entre 2001 e 2013 e estagnação a partir de 2014 (na faixa dos R$ 82.000,00). Durante todo o período, a indústria, que tem a maior produtividade, declina enquanto a agropecuária, que tem a menor produtividade, cresce vigorosa e ininterruptamente. 

Os serviços, que têm baixa produtividade, evoluem de forma semelhante ao PIB. Dois componentes explicam a paralisia da produtividade industrial: a indústria de transformação e a de construção, com a redução da produtividade e estagnação nos últimos 21 anos.

A derrocada da economia brasileira está fortemente associada ao desempenho das indústrias de transformação e construção. Ambas ditam a evolução da indústria, e a indústria dita o rumo da economia brasileira, embora não sejam os componentes mais importantes. As “commodities” agropecuária e extrativa mineral – essa segunda graças às exportações de petróleo e gás e de minério de ferro – evoluem vigorosamente sem interrupção. Assim, aqui há duas notícias: a boa é que temos “commodities” e a má é que só temos “commodities”.

Fonte: FGV IBRE