Maria Andreia Parente Lameiras: preço de serviços aumenta conforme setor se recupera, mas inflação dos mais pobres ainda é a mais alta

Economista do Ipea destaca o índice de variação de preços de itens da necessidade básica do consumidor brasileiro.

Inflação ao consumidor se mantem confortável, analisa Maria Andréia Lameiras  - YouTube
Maria Andreia Parente Lameiras, economista do Ipea (Foto: Reprodução) 

O aumento de preços vindo do setor de energia tem colaborado para manter a pressão inflacionária mais forte entre os mais pobres. Levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que, no acumulado de 12 meses até setembro, a inflação da cesta de consumo das famílias com renda domiciliar mensal menor que R$ 1,8 mil chegou a 10,98%, praticamente 2 pontos percentuais acima da observada pelas famílias com renda cima de R$ 17,7 mil. Em conversa para o Blog da Conjuntura Econômica, Maria Andreia Parente Lameiras, técnica responsável pelo levantamento da inflação por faixa de renda do Ipea, destaca que, embora hoje as famílias de mais alta renda estejam sentindo o peso da inflação mais fortemente do que no segundo semestre do ano passado, quando a escalada de preços começou, são os mais pobres que têm sofrido esse aperto em seu poder de compra de forma mais consistente.

Inflação por faixa de renda, em %


Fonte: Dimac/Ipea.

Enquanto em setembro do ano passado os alimentos no domicílio registraram forte alta – com destaque para produtos como arroz (18%) e óleo de soja (27,5%) – no mês passado foram a energia elétrica (6,5%) e o gás de botijão (3,9%) que mais complicaram a vida desse grupo. Junto aos artigos de limpeza, que registraram aumento de 1,1%, representaram metade da inflação do mês para os mais pobres. “No caso da camada de renda mais alta, em setembro de 2020 vários produtos de maior peso em sua cesta de consumo registraram aumentos menos intensos que agora: a gasolina, por exemplo, tinha aumentado 1,9%, e as passagens aéreas, 6,4% – contra, respectivamente, 2,3% e 28,2% em setembro deste ano”, compara Maria Andreia, destacando também a deflação de outros elementos de consumo mais frequente entre os mais ricos, como planos de saúde (-2,3%) e serviços de hospedagem (-0,47%), que ajudou a segurar a inflação para essa camada da população em setembro do ano passado. Outro item do grupo de transportes que também se destacou em setembro deste ano foi o de transporte de aplicativo, com alta de 9,2% – que, neste caso, pode ter uma contrapartida não tão ruim para parte da população de mais baixa renda, já que os trabalhadores informais que trabalham nessa atividade sentiram a redução de margem devido à alta dos combustíveis e muitas vezes chegaram a optar por parar de trabalhar, como apontou a coluna Em Foco.

Variação mensal, em %


Fonte: Dimac/Ipea.

Maria Andreia aponta que, embora seja pouco provável um novo aumento de bandeira tarifária daqui em diante, estima-se que a atual bandeira – criada especialmente para este momento de crise hídrica – vigore até o final do primeiro trimestre de 2022. “Não conseguimos vislumbrar a volta da bandeira verde na conta de energia ainda no ano que vem”, diz. “E, pelo lado do repasse das concessionárias, é possível que ainda vejamos novos reajustes em 2022, pois ainda temos o passivo da ‘conta covid’, que levará um tempo para ser saldado”, lembra. Também entra nessa conta o efeito do alto preço desse insumo para a dispersão inflacionária por todas as atividades, em especial as de serviços. “Esse é o setor em que esse aumento de preço pode chegar mais rapidamente. A partir do momento em que a demanda por serviços como de cabeleireiro e recreação começam a crescer, com o consumidor com menos medo de sair de casa, a margem para repassar esses aumentos de custo fica maior”, diz, indicando uma possível aceleração de preços no quarto trimestre. Apesar de essa inflação estar mais relacionada ao consumo da classe média e alta, a economista do Ipea aponta, entretanto, que os alimentos também tendem a manter a pressão nos índices de preços, e que ainda é difícil imaginar um alívio para os mais pobres. “Podem não ser aumentos tão fortes como os que já tivemos, mas os preços continuarão subindo. Bem como o do gás de cozinha, dependendo do comportamento do petróleo e do câmbio. Ao que se somam os combustíveis, que impactam diretamente o frete, que também é um item que se espalha para os demais preços da economia”, conclui.

Taxa mensal de Inflação por faixa de renda 
(em %)


Fonte: Grupo de Conjuntura/Dimac/Ipea.