Ipea revisa estimativa do valor adicionado do setor agropecuário
Projeção de crescimento de 1,2% passou para retração de 1,2%.
O resultado consta pesquisas estruturais anuais do IBGE. (Foto: Agência Brasil)
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou nessa quinta-feira (16) a estimativa para o valor adicionado (VA) do setor agropecuário de 2021, passando de um aumento de 1,2% para retração de 1,2%.
Segundo os pesquisadores do Grupo de Conjuntura do instituto, a revisão das séries de contas nacionais trimestrais feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada junto com o resultado do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todos os bens e serviços produzidos no país) do terceiro trimestre, elevou a base de comparação para a estimativa de 2021, principalmente quando se consideram os últimos três trimestres do ano. O IBGE revisou o crescimento do valor adicionado (VA) do setor agropecuário em 2020, de 2% para 3,8%.
O novo resultado é explicado, em especial, pelas novas informações disponíveis nas pesquisas estruturais anuais do IBGE, com destaque para a produção agrícola municipal e a pesquisa da pecuária municipal, divulgadas em outubro deste ano, que impactaram tanto os resultados de 2020 da produção vegetal quanto os da produção animal.
Os pesquisadores do Ipea consideraram, na nova previsão, a queda da produção de bovinos no terceiro trimestre deste ano e as reduções nas estimativas do levantamento Sistemático da Produção Agrícola para as produções de milho, cana-de-açúcar e laranja.
Desempenho negativo
O desempenho negativo para o valor agregado do setor agropecuário este ano se sustenta nas estimativas de quedas elevadas na produção de seis das sete culturas mais importantes. A soja é a única que apresenta perspectiva de crescimento (10,5%). Entretanto, nem mesmo o novo recorde da produção da principal cultura do país não impedirá a queda no agregado da produção vegetal. A piora nas estimativas de queda na produção anual da cana-de-açúcar (-8,3%) e laranja (-13,8%), em virtude do choque climático adverso observado na safra deste ano, impactou negativamente o VA do componente, explicou o Ipea.
Também a nova estimativa para o valor adicionado da produção animal deste ano sinaliza redução de 0,7%, ante previsão anterior de expansão de 1,2%. Apesar de altas elevadas nas produções de suínos (8,7%) e aves (4,5%), a piora se deve à queda muito forte, no terceiro trimestre, na produção de bovinos (-8,9%) e leite (-4,9%).
Expectativas
Para 2022, o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea, José Ronaldo Souza Júnior, estima crescimento no VA do setor agropecuário de 2,8%, “devido à alta esperada para a produção de bovinos, à nova alta estimada para a produção de suínos e da safra de soja e expectativa de forte recuperação na produtividade e produção do milho, após a quebra de safra de 2021, resultante das questões climáticas adversas”. A previsão anterior era de alta de 3,4%, mas levava em consideração expectativas de safra ainda preliminares feitas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), informou.
Para o valor agregado da produção vegetal, em 2022, houve revisão de 3,9% para 2,6%, considerando o atual prognóstico de safra do IBGE, enquanto a estimativa para o valor agregado da produção animal para o próximo ano elevou-se de 2,2% para 3,6%, com projeção de crescimento em todos os segmentos e desaceleração para as proteínas substitutas da carne bovina.
O pesquisador associado do Ipea e um dos autores da nota, Pedro Garcia, disse que, em relação aos riscos para o valor agregado do setor agropecuário para 2021, em relação à produção vegetal, há possibilidade de revisão para baixo da produção das lavouras com colheitas que se estendem para o último trimestre do ano, como cana-de-açúcar, laranja e milho, embora com um peso menor sobre o total. “Essas culturas respondem por boa parte da piora do cenário para este ano e podem reservar alguma surpresa no último trimestre de 2021”, afirmou Garcia.
Já o desempenho da produção animal deverá ser influenciado pelas exportações de carne bovina para a China, devido à retirada recente do embargo ao produto. A liberação das vendas para o mercado chinês pode reverter parte da perda esperada, informou o Ipea.
Riscos
O instituto destacou que os riscos para 2022 ainda persistem, devido à preocupação, por exemplo, em relação aos efeitos mais permanentes das geadas sobre as lavouras de café. Na produção animal, 2022 deve ser um ano de recuperação do abate e manutenção da demanda aquecida doméstica e externa, com a normalização das exportações para a China.
Matéria atualizada às 12h14 do dia 17/12/2021 para correção de informação no primeiro parágrafo. Ao contrário do informado, a retração foi de 1,2%