FGV registra os primeiros impactos econômicos das enchentes no Rio Grande do Sul

Em maio, a confiança na capital gaúcha caiu 17,7 pontos, para 63,4 pontos. É o menor nível desde a pandemia.

eduardo-soares-Q0fqJ18JGIo-unsplashEm maio, a confiança na capital gaúcha catingiu o menor nível desde a pandemia. (Foto: Unsplash)

Os resultados de maio das Sondagens do FGV IBRE registraram os primeiros sinais do impacto da tragédia climática no Rio Grande do Sul para a economia brasileira. Da queda observada no Índice de Confiança do Consumidor – de 4 pontos em relação a abril, para 89,2 pontos –, Porto Alegre responde por 3,3 pontos, informa Anna Carolina Gouveia, responsável pela divulgação do Índice.

Em maio, a confiança na capital gaúcha caiu 17,7 pontos, para 63,4 pontos. É o menor nível desde a pandemia, destaca a economista, quando a confiança do consumidor de Porto Alegre despencou para 54,2 pontos – em abril de 2020 – acompanhada por outras capitais, ainda que em menor intensidade.

Aloisio Campelo, superintendente de Estatísticas Públicas do FGV IBRE, destaca indícios da tragédia climática também na Sondagem da Indústria. Embora a confiança dos empresários da indústria de transformação tenha registrado alta de 1,2 ponto em maio comparado a abril, em alguns segmentos com forte presença no Sul, esse resultado foi negativo. É o caso do setor de Couro e Calçados, que registrou queda de 11,7 pontos na confiança em maio no agregado do país, para 72,3 pontos, também o menor índice desde a pandemia.

“As indústrias de couro e calçados do Rio Grande do Sul representa 27,7% do valor da transformação industrial (VTI) desse setor no Brasil, além de responder por 4,8% da população ocupada”, afirma Campelo. Quando se analisa o total da indústria gaúcha, esta representa 7,7% do VTI brasileiro.

Levantamento realizado pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) indica que 57,9% da massa salarial da indústria de couro e calçados está localizada em regiões que se em maio se encontravam em situação de emergência.

Na contramão dessa tendência, Campelo cita o resultado da confiança no segmento de máquinas e equipamentos, que na Sondagem do IBRE, que abrange a indústria nacional, registrou alta de 4,7 pontos, para 108,7 pontos. Nesse setor, o Rio Grande do Sul tem uma participação de 18,8% no VTI nacional, com destaque para segmentos como o de máquinas agrícolas, onde o estado tem participação significativa também como comprador.

Para Campelo, uma das razões pelas quais a confiança desse segmento tenha demonstrado maior resiliência é o aquecimento recente da atividade. Pesquisa Mensal da Indústria (PIM-PF) de abril, divulgada nesta quarta (5/6) pelo IBGE mostra um crescimento de 5,1% em relação a março, para um resultado ainda negativo no acumulado do ano, de -1,1%.

Outra possibilidade a se considerar nesse cálculo é uma maior resiliência de companhias maiores. No caso do setor calçadista, a Associação Brasileira de Calçados (Abicalçados), em parceria com outras associações representantes do setor, divulgaram levantamento em que apontam que essa cadeia produtiva registrou 3 mil empresas impactadas pelas enchentes, ressaltando a significativa participação de pequenas e médias empresas.