Contas externas: projeção de déficit moderado se estende para 2024

O Boletim estima que o déficit em conta corrente seja de 1,2% do PIB em 2023 e 1,4% do PIB em 2024.

porto_santos-1Aumento no volume exportado da agropecuária e o crescimento em volume das exportações da indústria extrativa (18,8%) foram definitivos para esse resultado. (Foto: Divulgação)

As projeções para o saldo da balança comercial brasileirasão são de que supere largamente o resultado de 2023, de US$ 61,53 bilhões em 2022, graças em especial às exportações de commodities, onde se destaca o setor agropecuário. No Icomex de dezembro, Lia Valls, pesquisadora associada do FGV IBRE, destacou que mesmo em um quadro de queda de preços das exportações, o aumento no volume exportado da agropecuária — 25% na comparação interanual do acumulado do ano até novembro entre 2022 e 2023 — e o crescimento em volume das exportações da indústria extrativa (18,8%) foram definitivos para esse resultado.

Esse quadro também deverá apoiar um resultado melhor que o esperado inicialmente para o resultado das transações correntes, que é a diferença entre o que o Brasil gasta e recebe nas transações internacionais relacionadas a comércio e serviços como transportes, remessas, rendas e transferências unilaterais. Como divulgado nesta quarta (3/2) pelo Banco Central (BC), em novembro esse déficit foi de US$ 1,55 bilhão. Nos 12 meses até novembro, o país acumulou um saldo negativo de US$ 33,655 bilhões, equivalente a 1,56% do PIB, conforme estimado pelo BC.

Em conversa para o Blog em outubro, Manoel Pires, coordenador do Observatório de Política Fiscal do IBRE, havia destacado como a mudança de nível das exportações brasileiras muda a perspectiva do país – que tem um passado problemático com balanço de pagamentos, do qual o saldo de transações correntes é o principal resultado – em termos de possibilidades de crescimento. “Ainda há uma agenda que torna o Brasil extremamente interessante para o resto do mundo, como a que envolve as questões climáticas, com potencial de promover uma participação importante do Brasil em termos de comércio internacional”, acrescentou.

No Boletim Macro do FGV IBRE de dezembro, Livio Ribeiro, pesquisador associado do FGV IBRE, também destacou o papel do saldo comercial para, “a despeito de fundamentos não tão favoráveis”, as estimativas de déficit externo fossem revisadas para um nível moderado no biênio 2023-2024.

Ele lembra que, no final de setembro, a projeção para o déficit em conta corrente ainda era de 1,7% e, para 2024, de -2,3% do PIB. “Para padrões históricos, patamares bastante comportados, que sugeriam que a restrição externa, que tanto nos assombrou no passado, não seria uma questão no curto prazo”, afirmou. Desde então, as revisões foram favoráveis para o Brasil, com uma revisão do saldo comercial de US$ 58 bilhões estimados em setembro para próximo de US$ 75 bilhões.

Algumas questões pontuais colaboraram para esse resultado, destaca Livio. A primeira, a forte expansão das exportações de soja à Argentina, que sofreu forte estiagem e precisou comprar grãos do Brasil para honrar seus contratos. Além disso, houve recuperação das vendas de minério de ferro para a China, aumento das exportações de petróleo e “expansão das trocas com mercados não-tradicionais na Ásia”, completa.

Em 2024, apesar de a safra agrícola brasileira ter sofrido o impacto do calor no início do plantio de verão – que concentra a maior parte da produção de soja – o que pode significar uma safra menor, como mostrou a Conjuntura Econômica de dezembro, Ribeiro afirma que há boas razões para se manter o otimismo quanto à balança comercial de 2024, mesmo que longe de repetir o resultado de 2023. A projeção do Boletim é que a balança comercial feche 2024 com saldo positivo de US$ 75 bilhões, “central para uma nova rodada de melhora de nossas projeções para as contas externas”, diz.

O Boletim estima que o déficit em conta corrente seja de 1,2% do PIB em 2023 e 1,4% do PIB em 2024, destacando que é um nível perfeitamente financiável para uma economia como a brasileira. “Com déficits moderados e margem para absorver eventuais choques negativos, o setor externo segue como uma ilha de tranquilidade dentro de nossa conjuntura macroeconômica”, conclui.