Consciência negra: empreendedorismo dribla falta de oportunidades

Mais da metade dos empreendedores no país se autodeclara como negra; desemprego no mercado formal atinge menos os brancos.

A falta de oportunidades no mercado de trabalho e o desemprego têm levado trabalhadores negros ao empreendedorismo. A opinião é de Cristiane Hilário, sócia de Auditoria e líder do programa Black Professional Network da EY Brasil, iniciativa interna criada em 2020 pela consultoria para promover o avanço em recrutamento, desenvolvimento profissional e a retenção de profissionais negros e pardos, incluindo posições de liderança. “Há muita dificuldade para negros?encontrarem?empregos formais?no país. O lado positivo é que, apesar de todas as dificuldades, empreender é fantástico.” 

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, mostram que, no primeiro trimestre de 2021, a taxa de desemprego por cor ou raça ficou abaixo da média nacional para os brancos, que atingiu 11,9%. Enquanto ficou acima?da média?para negros, com 18,6%, e pardos, 16,9%. A taxa de desocupação do país no 1° trimestre de 2021 foi de 14,7%. O Pnad aponta ainda que 51% dos empreendedores são autodeclarados negros. 

De acordo com Cristiane, o empreendedorismo negro tem um cunho social importante. “Primeiro, ele busca renda. Depois, quando o negócio começa a dar certo, ele emprega outras pessoas negras. Isso é importantíssimo porque promove uma mudança social em seu entorno”, afirma. 

O empreendedor negro ainda encontra barreiras para que o seu negócio dê certo. Um deles é o acesso ao crédito. “É preciso ter capital de giro, mas a grande maioria enfrenta dificuldade em conseguir esse crédito.” O segundo é a dificuldade em participar de programas de capacitação e o terceiro está relacionado à autoestima. “Eles precisam se enxergar melhor, se posicionar melhor. Precisam ter confiança no seu negócio, no seu potencial.” 

No mês da Consciência Negra, Cristiane comenta que ainda é necessário ter uma data para levar informações às pessoas já que o racismo estrutural ainda é muito presente na sociedade. Ela lembra, no entanto, que o episódio do George Floyd, assassinado em Minneapolis no dia 25 de maio de 2020, estrangulado pelo policial branco Derek Chauvin, foi “um divisor de águas”.  

“A ficha caiu. Começamos a ver resultados, mais movimentos genuínos das pessoas e das empresas. Trouxe informação e relevância ao tema. Minha expectativa é de melhoria no empreendedorismo negro. Tem muita gente se unindo, se ajudando e dando prioridade para serviços e produtos de empreendedores negros, por exemplo. Se a gente não começar a priorizar, consumir produtos e serviços de pessoas negras, não vamos dar a exposição que elas merecem”, afirma. 

Fonte: Agência EY