Cármen Lúcia: Passamos 33 anos como se tudo estivesse arrumado no Estado Democrático de Direito, e não está
Ministra do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia refletiu sobre democracia e liberdade de expressão no encerramento do 20º Fórum Empresarial LIDE.
Ministra do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
O encerramento do ciclo de debates e ideias do 20º Fórum Empresarial LIDE aconteceu na tarde desta sexta-feira (22) e teve um painel exclusivo dedicado às avaliações e pensamentos da ministra do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia.
Trazendo à pauta o tema “Liberdade de expressão e democracia”, Cármen Lúcia focou nos princípios propostos e garantidos pela Constituição, pontuou a necessidade de um diálogo verdadeiro, e falou sobre a ânsia de liberdade que sempre existiu e se mantém como parte da sociedade.
“Passamos 33 anos como se tudo estivesse arrumado no Estado Democrático de Direito, e não está. Há uma enorme defasagem entre as pessoas que conseguiram cumprir suas vocações e o quadro absolutamente aterrador de fome, que vai além da dimensão humana. A fome é inconstitucional. O princípio mais importante da Constituição é a dignidade humana, e não há como alguém se sinta dignamente respeitado quando cata lixo”, pontuou.
Ministra traçou um paralelo entre democracia e o problema da fome. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Ainda em sua defesa da Constituição, a ministra traçou um paralelo entre democracia e o problema da fome. “A democracia é o produto da cesta básica da humanidade. Em seu prato, o feijão e o arroz são a liberdade e a igualdade. Se não for dessa forma, vamos continuar tendo fome de civismo, de cidadania e de igualdade. Democracia não é uma palavra de luxo ou que possa ser descartada”.
Além de questionar as manifestações que buscam acabar com a democracia, a ministra destacou a importância da criação de políticas públicas para que a sociedade possa cumprir seu papel e seguir evoluindo.
“Uma sociedade livre, justa e igualitária só é construída com políticas públicas. A crise hídrica, por exemplo, não é culpa da natureza, é da falta de políticas públicas adequadas. Estamos fadados a ser o país do futuro, por que esse futuro não chega?”.
Cármen Lúcia fez questão de descartar o papel da imprensa. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Imprensa e democracia
Ainda em seu discurso, Cármen Lúcia fez questão de descartar o papel da imprensa como instrumento de garantia da liberdade e da execução dos princípios garantidos pela Constituição. “Não foi à toa que o Prêmio Nobel da Paz deste ano foi entregue a dois jornalistas. A liberdade e a liberdade de expressão não são simplesmente um direito, são pressupostos para se colocar em prática todos os outros direitos”.